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Candidatos pagavam entre R$ 150 mil a R$ 180 mil por um gabarito do Exame Nacional do Ensino Médio, descobriu a Polícia Federal na operação Embuste, realizada em Minas Gerais, Bahia e Ceará. A tecnologia usada pelo grupo criminoso responsável pela fraude possibilitava que o resultado chegasse a qualquer lugar do país e permitia ainda a comunicação entre quem repassava as respostas e quem as recebia.

Vinte e oito mandados foram expedidos pela Justiça, quatro de prisão temporária. Até a publicação desta reportagem, havia 10 prisões confirmadas só na operação Embuste. No total, 11 pessoas foram presas por suspeita de fraudes no Enem 2016, informou a Polícia Federal em entrevista coletiva.

O delegado Marcelo Freitas explicou que, de um hotel em Montes Claros (MG) a quadrilha enviava o gabarito para os candidatos, que usavam um microponto colocado no ouvido e uma central telefônica acoplada no peito ou braço. Ambos podem ser apontados com o uso de detector de metais, mas a PF acredita que o equipamento não esteja sendo usado de maneira eficiente.

Áudio e tosse

“Pela primeira vez constatamos o retorno de áudio por parte do candidato. A maneira que ele usava para demonstrar ao interlocutor que compreendia ou não o gabarito era por intermédio de tosse. Se tossia uma vez ele havia compreendido, se tossia duas vezes, o interlocutor repetia o gabarito”, disse Freitas.

Escutas autorizadas pela Justiça mostram que antes do exame era feito um teste para verificar se o candidato conseguia escutar a voz de quem iria repassar as respostas para ele. Durante o cumprimento dos mandados foram apreendidos vários equipamentos usados na fraude.

Sobre as investigações

As investigações duraram 15 dias e demonstraram que o foco do grupo era voltado para os candidatos que queriam entrar em faculdades de Medicina públicas e particulares. Mas a organização demonstrava interesse em atuar também em concursos públicos.

“Os lideres da organização, via de regra, são estudantes de Medicina que conhecem pessoas habilitadas em todos os conteúdos do Enem. Eles contratam essas pessoas, conhecidas como os pilotos, que realizam a prova da disciplina que têm conhecimento. Passado algum tempo, eles saem desses locais e levam até a base [hotel], onde os líderes repassam para as demais pessoas beneficiárias do esquema”, explica Marcelo Freitas.

A PF apurou que um dos pilotos, além de repassar o gabarito para os líderes da organização, ainda usou uma falsa identidade e fez a prova no lugar de outro candidato.

Ainda de acordo com a PF, como as ordens das questões das provas era diferente, quem passava o gabarito falava uma expressão do enunciado e outra expressão que constava em uma das alternativas, assim o candidato conseguia identificar a questão e resposta correta.

Um dos alvos das prisões já foi preso por fraude do mesmo tipo. Segundo as investigações, ele foi expulso de uma universidade estadual, onde cursava Medicina, prestou vestibular novamente e conseguiu ingressar no curso.

“Não temos dúvidas de que o sistema é falho e precisa ser aprimorado. O Ministério da Educação e o Inep se mostraram parceiros da Polícia Federal na identificação das fraudes, o que se espera é que após identificadas possam contribuir para que sistema possa ser aprimorado”.

Os envolvidos podem responder por crimes contra a fé pública e o patrimônio, por exemplo, e as penas podem ultrapassar 20 anos.

O Ministério da Educação e o Inep, órgão responsável pela aplicação do Enem, informaram que acompanham as operações da PF, mas que elas não afetaram a realização das provas neste segundo dia do exame.

“O MEC/Inep reitera que está acompanhando com atenção os desdobramentos das operações da Polícia Federal hoje. No entanto, as operações não afetam o Enem”, informou.

Outra operação

A outra operação, batizada de Jogo Limpo, foi realizada em sete estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Tocantins, Amapá e Pará. Também em nota, a PF informou que foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e que o objetivo foi “reprimir fraudes” ao Enem.

“A partir da análise de gabaritos apresentados em anos anteriores promovida pela Policia Federal em conjunto com o INEP, foram identificadas 22 pessoas que teriam apresentado respostas suspeitas de fraude e que fariam a prova novamente em 2016”, diz a nota.

ClickPB

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