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Faleceu no fim da manhã desta quarta-feira (14) o arcebispo emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns. Internado no Hospital Santa Catarina desde o dia 28 de novembro, o líder católico sofria de uma broncopneumonia.

Aos 95 anos, o catarinense de Forquilhinha, na região de Criciúma, antiga colônia de imigrantes alemães em Santa Catarina, é o quinto de treze filhos.

Foi bispo e arcebispo de São Paulo nos anos 1960 e 1970. Sacerdote desde 1945, se destacou por sua luta política, principalmente contra as torturas do período militar.

A exemplo do irmão mais velho, frei Crisóstomo, Paulo Evaristo entrou em um seminário franciscano, vocação que o pai agricultor apoiou com entusiasmo, embora tentasse adiar a matrícula o mais possível, só porque as despesas do internato pesavam no orçamento. Das sete irmãs moças, três optariam pelo convento.

Uma das irmãs de Dom Paulo, Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança, morreu aos 75 anos no terremoto que atingiu o Haiti em 2010. Zilda foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz junto com outras 999 mulheres de todo o mundo, em 2006. Ela estava no Haiti para ajudar crianças carentes e divulgar os trabalhos da pastoral.

O arcebispo estudou na Sorbonne, em Paris e formou-se em estudos brasileiros, latinos, gregos e literatura antiga. Sua tese foi sobre a técnica do livro segundo São Jerônimo, o frade mandou um telegrama para Forquilhinha.

Atuação

De volta ao Brasil, foi professor de Teologia no seminário franciscano de Petrópolis (RJ), onde trabalhou dez anos em favelas, período que descreveria como o mais feliz da vida. Em maio de 1966, foi nomeado bispo auxiliar do então cardeal de São Paulo, d. Agnelo Rossi, que o designou para a região de Santana, na zona norte.

Dedicava-se aos presos da Casa de Detenção do Carandiru e criava Cebs (núcleos das comunidades eclesiais de base), experiência pioneira na arquidiocese, quando um telefonema do núncio apostólico lhe comunicou que seria o novo arcebispo de São Paulo. Não era um convite, mas uma ordem do papa Paulo VI, que transferira o cardeal Rossi para Roma. Era 1970.

Um ano antes, tivera os primeiros contatos com vítimas do regime militar, início da luta em defesa dos direitos humanos que marcaria sua carreira. Designado pelo cardeal para verificar as condições em que se encontravam os frades dominicanos e outros religiosos na prisão, constatou que eles estavam sendo torturados.

Os militares não gostaram da nomeação de Dom Paulo. Quando foi elevado a cardeal, em março de 1973, uma das suas primeiras medidas foi criar a Comissão Justiça e Paz, formada por advogados e outros profissionais, para atender pessoas perseguidas pela ditadura. Funcionava na Cúria Metropolitana, sinônimo de refúgio e esperança para as famílias de mortos e de desaparecidos.

Em 1975, D. Paulo dirgiu um culto ecumênico em memória do jornalista Vladimir Herzog, na Catedral da Sé, ao lado do rabino Henry Sobel e do reverendo evangélico Jayme Wright. O evento reuniu mais de 8.000 mil pessoas e se tornou a maior manifestação pública de repúdio ao autoritarismo desde o início da ditadura.

Respeitado e temido, amado e odiado, Dom Paulo tornou-se um símbolo de resistência. Denunciou as torturas nos quartéis, visitou presos em suas celas, liderou atos de protestos.

No período mais difícil do regime, procurou o presidente Emílio Medici (Arena), em nome do episcopado paulista, para lhe entregar o documento Não te é lícito, no qual os bispos exigiam o fim das torturas. Medici deu um murro na mesa ao ouvir a advertência do cardeal e o pôs para fora de seu gabinete.

“O senhor fique na sacristia, que nós cuidamos da ordem”, irritou-se o general. Dom Paulo pegou de volta o exemplar da Rerum Novarum, a encíclica de Leão XIII que levara de presente, mas fora jogada de lado. Depois disso, só tiveram contatos protocolares.

Em defesa dos direitos humanos, visitava operários, estudantes e políticos nas celas da polícia. Foi numa sala da repressão que conheceu Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido detido após as greves dos metalúrgicos do ABC. Ficaram amigos pelo resto da vida.

Na época, o bispo de Santo André era d. Cláudio Hummes, mais tarde arcebispo de São Paulo, que abrigou nas igrejas da diocese trabalhadores impedidos de se reunir.

R7

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