Com o neto Misael Filho.
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Faleceu na manhã de hoje, 17, em João Pessoa, o senhor Romero de Sousa Nóbrega, de 74 anos (faria 75 em setembro). Era aposentado dos Correios e jogou no Esporte de Patos nos anos sessenta.

Foi o primeiro corretor de imóveis de Patos. Era proprietário da Imobiliária Kital em sociedade com o empresário Nenem. A imobiliária funcionou durante muitos anos no Edifício Pombal. Depois a sociedade foi desfeita e ele implantou, por conta própria, a Imobiliária Modelo.

Foi casado com a funcionária pública Marlene Sousa e deixa quatro filhos: Misael Nóbrega, Roberta, Renata e Rosana.

Seu Romero de Sousa estava internado em João Pessoa, no Hospital da Unimed. Deu entrada para tratar de uma abstinência alcoólica. Passou três dias sem se alimentar por causa da medicação que era muito forte.

Fizeram um procedimento para colocar uma sonda, mas em vez de ir para o estômago a sonda foi para o pulmão e, quando colocaram o alimento, ele aspirou. Teve uma parada respiratória, depois uma parada cardíaca, foi reanimado e ficou 35 dias na UTI. Recebeu alta, mas teve complicações e voltou para a UTI e na manhã de hoje faleceu  de parada cardíaca.

O corpo será velado no Memorial da Paz, próximo à Cruz da Menina, a partir das 22 horas de hoje e o sepultamento acontece amanhã, 18, às 9 horas, no Cemitério São Miguel, no Belo Horizonte.

Leia o emocionante texto que o escritor Misael Nóbrega dedicou ao pai no dia de ontem.

EU E MEU PAI

por Misael Nóbrega de Sousa

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Jornalista Misael Nóbrega com o pai no hospital da Unimed

Um corredor gelado, separava os dois homens. Uma infinidade de portas sugeria os erros passados; e um letreiro insistia, acima delas, “não entre”; lâmpadas, por todo o percurso, iluminavam meus passos. Apenas o silêncio era soberano. De repente, eu e meu pai. Era como se cada encontro fosse uma despedida. Mesmo com todos os esforços para se manter firme, na honradez dos anos, estava física e mentalmente debilitado. Olhei demoradamente tentando reconhecê-lo. Não haveria de ser a mesma pessoa… – Que contava histórias para eu dormir. A sua voz em nada lembrava o timbre de antigamente. Estava bem menos confiante; e, ainda por cima, temeroso. Ah, o medo, sempre vigilante; algoz de todos os seus.

O corpo já dava sinais de extenuação. As feridas eram chagas, em resposta. Onde foi parar aquele homem que tinha a força de Hércules? Braços que tantas vezes carregaram-me no colo; e, que, fechavam-se em abraços. Não haviam muitos gracejos por contabilizar, feito ternura; e todos os conselhos eram ríspidos. Porém, severos, esses conselhos, eram gotas de amor. E o seu sorriso quando escapava, uma vez ou outra, também dizia ser uma extensão de mim.

Quantas noites não ficou acordado velando o sono aflito do menino doente… E para quê? Eu nunca o agradecia pela manhã. Não há nada que mensure a relação de pai e filho. É quem sabe um vinculo Santo. E quanto mais corremos para dentro dessa verdade, mais nos afastamos dela. Quando do processo de iniciação, fomos “treinados” para não amar; desprender, voar. Salte! Você está pronto! Ledo engano. Nunca conseguiremos alcançar os sonhos. Alimentamo-nos de esperança; e, isso só prolonga o nosso sofrimento. Amar? ah, isso é outra coisa…

Temos que nos entender com a autorialidade da vida. E nem aceitando a nós mesmos compreenderemos os seus esforços. Não conseguia enxergar no meu pai nenhuma culpa ou remorso. Em tudo, o dever do pai. Se algo dele me fez mal, não estava mais presente.

Eu queria ser amável. Porém, isso só provaria o quanto ainda sou egoísta. Não fui atento à sua dor. E ele era eu. Logo, o segredo não é amar a si próprio, é mesmo amar o outro. Meu pai nunca foi livre. Viveu na companhia de seus fantasmas. E sofre e ama na mesma proporção que sonha o sonho que também é meu. Acorro a Augusto da tristeza, poeta do Eu-lirico, homem da eternidade e minha referência maior. O que dissera o vate, com as vozes dos anjos, ao seu pai doente… – Eram do poeta: as linhas, as letras, os versos; apenas, meus, os sentimentos, em um acordo atemporal, visceral.

Para onde fores, Pai, para onde fores,

Irei também, trilhando as mesmas ruas…

Tu, para amenizar as dores tuas,

Eu, para amenizar as minhas dores!

Que coisa triste! O campo tão sem flores,

E eu tão sem crença e as árvores tão nuas

E tu, gemendo, e o horror de nossas duas

Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,

Indiferente aos mil tormentos teus

De assim magoar-te sem pesar havia?!

– Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim

É bom, é justo, e sendo justo, Deus,

Deus não havia de magoar-te assim!

(…)

Uma vida inteira bem ali, desperdiçada, para que eu achasse o meu caminho. Meu pai havia se transformado em exemplo. E eu só fazia chorar.

 

Folha Patoense – folhapatoense@gmail.com

 

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