Dona Severina em frente à residência onde mora, no Bairro do Santo Antônio, em Patos
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Severina Gomes da Silva, da 67 anos. Quando o pai morreu ela tinha quatro anos.

O poeta Zé Limeira é um daqueles personagens em  que o mito fica maior do que o homem real, a exemplo de Lampião e do Padre Cicero do Juazeiro.

Ao longo dos anos novas histórias criadas pelo imaginário popular passam a envolver o cangaceiro Lampião e o mesmo ocorre também com o poeta José Limeira. Versos que ele não fez são citados como se dele fossem, aumentando o mito, que já sufocou o personagem real.

Em Patos, na Travessa Belízio Gonçalves, no Bairro do Santo Antônio, mora Severina Gomes da Silva, de 67 anos, aposentada (trabalhou como auxiliar de serviço da Prefeitura de Patos), e é a única filha viva do famoso repentista teixeirense.

Dona Severina nasceu no sítio Lagoa de Dentro, em Teixeira, e quando o pai morreu, em 1954, tinha apenas quatro anos de idade. “Sou filha de José Gomes da Silva, conhecido como Zé Limeira, o ‘Poeta do Absurdo’; e de Liberalina Maria Ana da Conceição. Eu tive irmãos, mas todos já morreram”, disse.

Com a mãe, que morreu em 1982, ela conviveu muito, mas do pai  tem apenas algumas lembranças. “Tem gente que não acredita que Zé Limeira é meu pai, mas já veio gente até de Campina e João Pessoa falar comigo sobre ele. Meu pai vivia se apresentando como cantador de viola por aí. Passava dias sem pisar em casa. Na época era conhecido por ser brincalhão, era um negro que dizia não gostar de negro”, disse.

Ela disse não ter uma única fotografia do pai e que ele morreu em decorrência de problemas no fígado, rins e coração. Ela também não sabe recitar nenhum verso atribuído ao pai. “Gosto de cantoria de viola, sempre vou assistir”, mas não sei recitar verso, nem mesmo os do meu pai”, disse.

Zé Limeira
Pintura do retrato falado de Zé Limeira, feita pela artista plástica patoense Fran Lima

Dona Severina mora com um dos seus quatro filhos e, para completar a renda, “para ganhar um extra e não ficar parada”, ela vende bombons, pipocas, salgadinhos etc na porta da igreja de Santo Antônio.

Ela disse saber das histórias envolvendo o nome do pai e que acha engraçado quando as pessoas dizem que “Zé Limeira nunca existiu”. “Eu sou a prova viva da existência dele”, disse. “Que Zé Limeira existiu, existiu, mas de fato muito do que é atribuído a ele é invencionice. Basta um verso ser carregado de situações absurdas, de nonsense, para que se diga logo que é de Zé Limeira”, disse o poeta popular Jomaci Danta, o Lola, amigo de dona Severina e grande incentivador do repente em Patos e região.

Muitos acreditam que Zé Limeira seja ficção, criado pela imaginação fértil do poeta campinense Orlando Tejo, no livro “Zé Limeira, o Poeta do Absurdo”. O personagem depois “se soltou” do autor e ganhou vida própria, com a colaboração de diversos poetas que, ao fazerem versos lúdicos, surreais, colocaram na conta de Zé Limeira, entre eles o poeta Otacílio Batista, amigo de Orlando Tejo. “Zé Limeira existiu sim, o homem existiu, e está aí a filha dele para provar e outros cantadores, a exemplo de Ivanildo Vila Nova, atestam da existência dele. O que ocorre é que o personagem se agigantou e ficou maior do que o poeta real”, disse o poeta Lola.

José Gomes da Silva (Zé Limeira) não sabia ler, mas tinha uma voz forte e muita criatividade nos versos, sempre carregados de situações lúdicas que envolviam personagens da história. Nos desafios que participava criava palavras que não existiam no dicionário, ‘enlouquecendo’ seus desafiantes e arrancando aplausos da plateia. Daí para o livro de Orlando Tejo e a colaboração ininterrupta dos repentistas que não param de louvá-lo, foi um pulo.

Em 2012 a TV Senado produziu um documentário intitulado “O Homem que Viu Zé Limeira” e nele foi exibida uma tela da artista plástica patoense Fran Lima. O quadro foi pintado com base em depoimentos de pessoas idosas que conheceram o controverso(veja em anexo a pintura de Fran Lima).

Folha Patoense – folhapatoense@gmail.com

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