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O Poeta, a Lua e a Brisa

Reginaldo José Gomes, conhecido por Reginaldo Poeta, era patoense e morava em São José dos Campos-SP desde 1979.

Zenilda Almeida de Lucena Gomes, conhecida como Zenilda Lua, é patoense e trabalhava como secretária em uma clínica odontológica em Patos.

Em 1990 um amigo assistiu a uma apresentação musical de Zenilda Lua numa escola em Patos e gostou muito do desempenho da moça, tanto que depois comentou sobre ela com o também amigo Reginaldo Poeta, já em São José dos Campos.

Apaixonado por poesia, música, isso gerou uma curiosidade no “Poeta”, que decidiu entrar em contato com a “Lua”.

23782179 1522020437847045 1860083176 nUma carta ali, outra carta acolá, e de repente os dois perceberam que estavam interessados um pelo outro.

Um dia o Reginaldo Poeta surpreendeu e apareceu no trabalho dela. Viajou 3.000 quilômetros para fazer uma surpresa, e que surpresa: “Não sabia como agir ao vê-lo na minha frente”, disse Zenilda Lua, que aquela altura do campeonato já era a musa dos versos do Reginaldo.

As cartas continuaram, juras de amor eram trocadas e aquele “amor virou certeza”.

Zenilda foi ao encontro do Reginaldo ou, em linguagem mais poética, a Lua foi ao encontro do Poeta e os dois geraram a “Brisa”, uma moça hoje com 20 anos.

zenilda 2Brisa Almeida Gomes teve as boas referências artísticas dos pais e pratica violão, canta e aprecia poesia.

Em São José dos Campos Reginaldo Poeta trabalhava no Serviço Social do Comércio (SESC) e Zenilda Lua é assistente social.

Os dois fizeram grandes amigos naquela cidade. Recebiam a todos em sua casa, faziam recitais de poesias, tardes culturais, criaram projetos e tocavam suas vidas com muita graça e arte. E mais: nunca perderam a relação com a cidade de Patos. Escutavam as rádios locais através da internet, acessavam os sites locais, interagiam, adquiriam livros dos escritores locais e vez por outra vinham a Patos e eram sempre recebidos com muita alegria por parte dos amigos e familiares. Os dois vivenciavam a alegria de um casamento feliz. “Era visível o amor entre os dois, havia cumplicidade e respeito”, disse o radialista Jozivan Antero, primo de Zenilda Lua.

zenilda 3Em 2013 um fato mudou radicalmente a vida do casal. Reginaldo Poeta vinha se sentindo cansado e se submeteu a uma bateria de exames, onde ficou constatada a existência de um câncer no fígado e cistos nos rins e nos pulmões.

Daí pra frente foi uma vida de luta, mas não de desespero, contra a doença, que ia se revelando cada vez mais forte. Não só a doença era forte, o Poeta também era forte e nunca se abateu.

O câncer não deu trégua e se espalhava e atingia outras partes do corpo do Poeta, inclusive o cérebro.

Durante todo o tratamento os dois surpreenderam em todos os sentidos: pela forma como encararam o problema,  leram vários livros sobre o assunto e mantiveram uma estreita aproximação com a natureza, através das plantas, da medicina popular, e não demonstravam desespero em nenhum momento. Mesmo com o câncer espalhado o Poeta surpreendeu os médicos e teve uma sobrevida maior do que o que se previa.

livroDurante toda a convalescença do Poeta a sua esposa usou seu perfil pessoal na rede social Facebook para fazer uma espécie de “diário”, e os amigos e familiares iam às lágrimas com os relatos que ela fazia, sempre carregados de sentimentos e esperanças, mas com os pés no chão, sem vãs ilusões. Zenilda conseguiu meio que poetizar um momento muito difícil na vida dela.

No começo de 2014 a família veio a Patos rever amigos e familiares. Era uma despedida, e o Poeta sabia. Rever os amigos e as ruas da sua infância revigorou os ânimos do Poeta.

No dia 05 de julho de 2014, um dia antes de fazer 50 anos, o Poeta partiu. Seu velório foi feito com declamações poéticas e músicas, conforme ele havia solicitado. Seu corpo foi cremado e suas cinzas foram depositadas  próximo à janela do quarto da filha do casal, Brisa, embaixo de um pé de flor. Em vida ele havia pedido para deixar suas cinzas ao alcance da risada de sua filha e assim foi feito.

Até hoje, mais de dois anos de sua morte, a esposa o homenageia constantemente, escreve sobre o Poeta com muita emotividade e recentemente lançou em São José dos Campos o livro “Quando chorei no ombro do meu amor”, onde relata um pouco de tudo que vivenciou, desde o começo do romance entre os dois até a despedida final com o Poeta.

O livro leva o leitor às lágrimas, mas conforta por saber que é possível, até nas horas mais difíceis, se agir de forma a perceber a dimensão do outro e perseverar enquanto houver fôlego de vida.

A poetisa patoense espera em 2018 lançar o seu livro em Patos, uma obra que na verdade é uma grande declaração de amor, um amor que não findou, o amor de um Poeta pela Lua e da Lua pelo Poeta, e que gerou a Brisa, a Brisa que suavizou a vida dos dois.

Folha Patoense – folhapatoense@gmail.com 

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