Tiangong-1 comparada a um ônibus escolar - Fonte: Aerospace Corporation
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Uma nave, do tamanho de um ônibus e pesando mais de 8 toneladas está caindo descontroladamente sobre a Terra. Parece algo sensacionalista ou comercial de TV, mas é realidade. Trata-se da Estação Espacial Chinesa, um projeto tão grandioso que recebeu o nome de Palácio Celestial, ou Tiangong, em chinês. Mas qual o real risco para a população em Terra? Podem haver prejuízos materiais? Para responder essas perguntas, vamos entender um pouco mais sobre a nave, sua missão e o processo de reentrada.

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Tiangong-1 comparada a um ônibus escolar – Fonte: Aerospace Corporation

 

Quando em 2013 os últimos taikonautas (como são conhecidos os astronautas chineses) desembarcaram da Tiangong-1, a China encerrava de forma bem sucedida mais uma etapa de seu grandioso projeto de montar uma estação espacial de grande porte, modular e que pudesse abrigar seres humanos por longos períodos de tempo. Mesmo não havendo nenhuma outra missão planejada para ela, os chineses decidiram manter a Tiangong-1 em órbita pelo maior tempo possível. Assim poderiam avaliar a longevidade e confiabilidade de sua tecnologia. Mas algo deu errado, e agora essa espaçonave de 8 toneladas está caindo em direção à Terra.

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taikonaltas a bordo da Tiangong-1

 

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Riscos por estados brasileiros – Fonte: BRAMON

Para permanecer em órbita, a Tiangong-1 precisava manter uma velocidade acima de 27,7 mil Km/h. Entretanto mesmo a 350 km de altitude algumas partículas de ar ainda existem e aos poucos freiam qualquer objeto que esteja nesta órbita, fazendo com que ele perca a altitude. Por isso constantemente a estação chinesa realizava manobras de manutenção orbital, que é basicamente o acionamento dos motores da nave para acelerá-la suavemente até recuperar sua altitude orbital. Mas desde dezembro de 2015 essas manobras não são mais realizadas. Pelo que se sabe, uma falha no sistema de carregamento das baterias fez com que espaçonave perdesse comunicação com a Terra. Com isso, não seria possível nem realizar as manobras de manutenção orbital, nem controlar a nave para uma reentrada segura na atmosfera.

Todos os anos dezenas de satélites, restos de foguetes e outros lixos espaciais reentram na atmosfera. A maioria de forma descontrolada, mas dificilmente algum deles representa risco tão alto como a Tiangong-1. Primeiramente porque, apesar de grande parte dela se desfazer completamente na reentrada, algo entre 1,5 e 3 toneladas da espaçonave devem sobreviver a passagem atmosférica e chegar ao solo. Além disso, a área em que existe a possibilidade dela cair é muito extensa, totaliza 73% do planeta. E nessa área, estão contidos vários países, como o Brasil, e várias das cidades mais populosas do mundo. O risco de que alguma parte da Tiangong-1 possa atingir uma pessoa em solo foi estimado em 0,02%, o que é muito baixo, mas é um risco que não gostaríamos de correr.

A BRAMON (Rede Brasileira de Observação de Meteoros) está cobrindo o caso e, baseada em dados estatísticos, calculou uma série de riscos associados à reentrada da Tiangong-1 (veja mais aqui). As últimas previsões indicam que ela deve cair entre os dias 01 e 02 de abril em local ainda não determinado. As chances maiores são de que a espaçonave caia no oceano. Mas existe uma possibilidade de 38% de que atinja terra firme. O risco de que a reentrada ocorra sobre o Brasil é estimado em 2,28% e de apenas 0,01% de que atinja alguma área urbana em solo brasileiro. Para o restante do mundo, as chances de atingir alguma área urbana é de quase 1%. E isso representa um alto risco de prejuízos materiais.

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Peça de ficção – satélite caindo em São Paulo – Comercial Renault Kwid – Agência Neogama Brasil – Produtora: PBA Cinema

 

Entretanto, isso não significa que devemos nos preocupar. Apesar de altos para os padrões de segurança, os riscos são relativamente baixos. Ainda continua a ser mais perigoso fumar, andar de moto e dirigir depois de ingerir bebidas alcoólicas. Já tivemos inclusive casos de reentradas mais perigosas do que esta, como a do Kosmos-557 em 1973 e da Skylab em 1979. Se ela ocorrer em ambiente urbano, ao contrário do que mostram algumas peças de ficção (como na imagem acima), ela não deve chegar inteira, pegando fogo e em altíssima velocidade. Apenas pequenas partes caem, em uma velocidade de aproximadamente 300 Km/h, bem abaixo dos 27 mil Km/h em que ela entra a atmosfera.

  • Rentrada do satélite ATV-1 – créditos: ESA

O risco maior que corremos com a reentrada da Tiangong-1 é que ela ocorra próximo a nós e que possamos testemunhar um verdadeiro espetáculo no céu, como foi com a reentrada da ATV-1, filmada pela ESA – Agência Espacial Européia. Segundo calculos da BRAMON, qualquer pessoa que esteja atenta aos últimos momentos da Estação Chinesa, tem cerca de 1,27% de chances de presenciar ao menos uma parte da reentrada, pois quando ela ocorre, é visível por centenas de quilômetros de distância.

Tanque de hidrazina queda no Peru
[Tanque de pressurização encontrada no Peru – Fonte: misteriosdouniverso.net

O maior cuidado que é preciso ter, é para o caso de se encontrar algum resto da Tiangong-1. Algumas dessas peças (como a mostrada na imagem acima) liberam gases tóxicos. Além disso, de acordo com o Tratado Internacional do Espaço Sideral, do qual Brasil e China são signatários, qualquer peça de foguete ou satélite que caia em Terra pertencem ao país de origem. E o mesmo país, no caso a China, deve se responsabilizar por restituir qualquer prejuízo causado pela queda desses objetos em solo. Então, o melhor a fazer é marcar a posição do achado, se possível com GPS, (mandar-nos várias fotos) e comunicar às autoridades locais.

Marcelo Zurita – (83) 99926-1152
APA – Associação Paraibana de Astronomia
BRAMON – Rede Brasileira de Observação de Meteoros
Asteroid Day Brasil – Coordenação Regional Nordeste

 

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