Clara Braz, quando recebeu o transplante (Foto: Hatmo/Divulgação)
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Clara Braz, dois anos após o transplante (Foto: Hatmo/Divulgação)

Um encontro entre um doador de medula óssea e uma garota de 10 anos que recebeu o transplante para curar uma leucemia. É desta forma, no sábado (14), que a será celebrada a páscoa da associação Hatmo (Humanização e Apoio ao Transplantado de Medula Óssea do Rio Grande do Norte). O evento está programado para acontecer às 8h em frente ao Hemocentro, em Natal.

O doador é Eduardo de Sá Costa, de 29 anos. Ele viajará 19 horas de Várzea Alegre, no Ceará, para conhecer a pequena Clara Braz, que há 2 anos recebeu o transplante. A menina foi diagnosticada com a doença quando tinha 4 anos. Até receber a medula, foram 2 anos e meio fazendo tratamento de quimioterapia. Após esse período, ela teve recaídas e foi indicada para o transplante.

“Não encontramos doador compatível na família. Depois que ela entrou no cadastro Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) passou 1 ano esperando. Nesse ano, quase perdi minha filha, pois ela teve duas recaídas, mesmo fazendo quimioterapia”, relembra a mãe de Clara, Irani Braz.

Irani conta que o transplante teve que ser feito em Jaú, em São Paulo. É que, na época, os transplantes em crianças estavam paralisados no Rio Grande do Norte. “Encontramos dois doadores no Redome, mas em Natal os transplantes não estavam sendo realizados, então viajamos para São Paulo. Ficamos mais de 8 meses lá. Nesse período, ela chegou a ir para UTI e a ficar sem andar. Mas, hoje, minha filha está aqui para contar a história. Graças a Deus esse anjo maravilhoso apareceu”, conta, emocionada, a mãe da menina.

Hoje, Clara tem uma vida normal. Ela voltou a estudar depois de passar anos entrando e saindo da escola e de hospitais. Contudo, a cada três meses ela ainda precisa voltar a Jaú para consultas e exames. “Ela sentia muita falta da escola”, afirma Irani.

Surpresa autorizada

O encontro com o doador foi organizado pela Hatmo. Será uma surpresa para a menina. Quando é feito um transplante, os dados do doador de medula óssea ficam em sigilo até ser autorizada a divulgação pelo Redome. “Estou muito ansiosa. Fiquei muito nervosa quando soube, mas de felicidade. Sempre que conto a história, me emociono muito. É muito difícil relembrar tudo que passamos. É muito maravilhoso saber que vamos encontrar com o doador, porque ele deu a vida da minha filha de volta, com a ajuda de Jesus. Ele me fala que Clarinha que mudou a vida dele, mas eu não sei nem explicar o quanto ele foi maravilhoso para mim e poder abraçar ele é muito importante”, afirma Irani.

O transplante

Para realizar o transplante, Eduardo Costa também precisou viajar para Jaú. “Eles entraram em contato comigo uns dez meses antes. Pediram para que eu fizesse alguns exames, pois teriam encontrado uma pessoa compatível. Depois, recebi um telegrama pedindo para entrar em contato com o Redome e eles me perguntaram se eu teria interesse em fazer a doação. Falei que sim, me explicaram que eu não teria contato com a pessoa e nem com familiares dela e, se mesmo assim, eu desejaria fazer a doação. Logo após, entraram em contato para que eu viajasse para Jaú”, relata Eduardo, acrescentando que precisou ir até São Paulo por duas vezes: uma para os exames e outra para o transplante.

Ele lembra que quando recebeu o chamado pensou em não ir. “Mas, estaria indo contra o que aprendi com meus pais. Pois, mesmo eles não tendo condições financeiras, nunca os vi negarem ajuda a quem quer que fosse. Confesso que no dia em que viajei a primeira vez, comentei com o rapaz que me acompanhou: será que se fosse o contrário, essa pessoa faria isso que estou fazendo? Mas não me incomodei muito. Lembrei de uma frase que diz: faça o bem sem saber a quem. Então me apeguei a isso”, disse Eduardo Costa.

Eduardo afirma que o transplante mudou sua maneira de ver a vida. “A gente só sabe o valor da vida quando passamos por certas situações. Eu me senti vivo e mais humano em poder salvar uma vida”, destaca.

Final nem sempre feliz

Clara é uma das pacientes indicadas para o transplante de medula óssea que tiveram um final feliz, mas infelizmente nem todos têm a mesma sorte. Alguns até encontram doadores, mas não conseguem fazer o transplante a tempo. “Os transplantes em crianças ficaram dois anos parados aqui no RN, e por causa disso perdemos muitas vidas. No ano passado, perdemos 20 crianças na Hatmo e mais 4 adultos”, lamenta a presidente da associação, Rosali Cortez.

Conscientização
Durante a páscoa que será celebrada neste sábado, voluntários, parentes e outros pacientes farão uma homenagem a essas crianças e adultos que perderam a vida enquanto aguardavam pelo transplante. Também será feita uma campanha de conscientização para o cadastro no Redome.

“O ato é para mostrar quantos pacientes estão morrendo por falta de celeridade no tratamento. Faltam doadores, medicamentos, atendimentos. A manifestação será o grito das famílias que perderam seus filhos”, destaca Rosali.

Redome

O cadastrado no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) pode ser feito no próprio Hemocentro. Para isso, basta fornecer dados de identificação (nome, endereço, identidade e CPF), e permitir a coleta de uma pequena amostra de sangue.

O Hemocentro fica na Av. Alexandrino de Alencar, nº 1800, no bairro Tirol.

Podem se cadastrar pessoas de 18 a 55 anos que tenham boa saúde e não tenham histórico de Câncer, Hepatite B ou C e HIV. A doação só acontece no caso de algum paciente ser compatível.

Doações
Também como parte das comemorações da páscoa, às 10h a Hatmo fará a entrega de doações de cestas básicas, suplemento alimentar, leite em pó, e ainda chocolates para pacientes e familiares.

Quem quiser fazer doação de alguns desses itens, basta entrar em contato com a Hatmo pelos telefones: (84) 98805-8496 ou (84) 99418-3361.

G1 RN

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