Foto: Nalva Figueiredo
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“Fiz quimioterapia em julho e estava marcada para hoje, mas não tem a medicação. A gente chora, se desespera. Aqui, todo mundo é prioridade e o tempo, para nós, é ouro. Agora é esperar e confiar. Não tem outra opção”. O relato é da técnica de enfermagem Angélica Bezerra, 44 anos, que trata um câncer na parede da vagina no Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa, referência nos cuidados com a doença na Paraíba. Assim como ela, outros pacientes que passam por terapia oncológica na instituição têm vivido dias de desespero com a situação.

É o caso da dona de casa Maria de Fátima Pereira, de 61 anos, que tem câncer de mama e passou por cirurgia há seis meses. Ela mora no município de Juru, Sertão, a 398 quilômetros de João Pessoa, e iniciou o tratamento em julho. Segundo Fátima, várias pessoas que moram no interior reclamam por ter que sair de longe sem saber se, de fato, vão fazer a sessão de quimioterapia. “A minha próxima está marcada para o dia 22. Venho um dia antes e fico na casa de apoio. É difícil, porque além do desgaste do tratamento, tem o cansaço da viagem, a questão de estar fora de casa e, além de tudo isso, a incerteza da medicação”, constatou.

A paciente Angélica Bezerra, mora em São José dos Cordeiros, no Cariri paraibano, a 298 quilômetros da Capital e tem medo do que a falta do tratamento pode acarretar à sua saúde. “Saí de casa às 2h da madrugada para chegar a tempo, e a quimio faltou. O meu caso é complicado, porque fiz o primeiro tratamento e não surtiu efeito. O tumor aumentou. Então, tem a falta da medicação, tem o número de fichas que são só 22. Além disso, um aparelho de radioterapia com problema. Com isso, pacientes que iniciaram o tratamento em maio, só vão fazer em setembro. Eu estava agendada para hoje, não fiz e vou voltar para casa. Estou batalhando para ficar boa, mas infelizmente, a situação não é das melhores no hospital”, lamentou.

Problema no fornecimento

O hospital admite que a medicação falta, mas de forma pontual. De acordo com a diretora geral, Tereza Lira, algumas podem chegar a faltar por questões de fornecimento. Segundo ela, os medicamentos, principalmente quimioterápicos, vêm de outros Estados. Os fornecedores são a Elfa, que não tem empresa local, e a CDM (Central de Medicamentos). Os quimioterápicos vêm de Belo Horizonte, São Paulo, Brasília. “Quando fazemos pedido, atesta nota e vai para o financeiro deles e demora entre três a cinco dias para chegar. Por conta disso, remarcamos a quimioterapia”, explicou.

As sessões podem ser semanais, quinzenais ou a cada 21 dias e são agendadas previamente no setor de quimioterapia. Ela enfatizou que nem sempre o hospital tem condições de manter um estoque. “O nosso é quinzenal e depois repetimos o pedido, porque o valor é muito alto. Os quimioterápicos são drogas importadas e têm que passar por outros Estados que distribuem para os demais. Pode chegar a faltar. Sou bem sincera e não vou dizer que não. Pode faltar. Mas, entramos em contato e ficamos esperando dos fornecedores. Não é uma medicação que tem em farmácia”, afirmou.

Fila pra se tratar

Na Paraíba, todos os tratamentos de leucemia são encaminhados para o Laureano e só existem dez leitos para dar suporte. “É uma situação muito difícil. E é preocupante porque temos uma fila de espera e só podem dois pacientes em cada enfermaria”, disse Tereza Lira.

Ela afirmou que o secretário de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio, está ciente disso, mas o recurso que chega é insuficiente, porque um paciente de leucemia passa, no mínimo, 30 dias internado realizando tratamento com quimioterápico, antibioticoterapia, infusão venosa, enquanto os outros pacientes aguardam na fila para entrar. Ela não soube dizer o tamanho da fila porque muda diariamente.

Teto financeiro é insuficiente

O problema que ocasionou o atraso no tratamento de Angélica Bezerra, conforme a diretora geral, foi a falta da radioterapia que atingiu o teto e ficou para setembro. Daí a fila para radio. Nesse mês, são só a da paciente, mas de outros doentes, ficou comprometida. No caso dessa paciente, é um tratamento associado. Como na radioterapia, a fila é maior, ela não poderia fazer apenas a quimio. Tem que ser os dois tratamentos ao mesmo tempo.

“Nós marcamos e o paciente vem, mas existe a cota. Existe a questão do teto financeiro, onde entra a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No início de julho, o secretário autorizou um aumento do teto financeiro em R$ 100 mil. Ajuda, mas a demanda só cresce, porque a população está vivendo mais e, com a idade, vêm as doenças. Esse valor dá para atender entre 35 a 40 pacientes a mais e, em maio, quando levei a relação de pacientes para ele, eram 183 pacientes na fila esperando. De lá para cá, esse número já aumentou. Temos um acúmulo de pacientes aguardando o início do tratamento na radioterapia”, constatou.

Agenda. De acordo com a enfermeira Luciana Arnaud Assis, coordenadora da Quimioterapia, uma medicação que faltou recentemente foi Taxol, que é um dos mais utilizados. Ela disse que vai encaixando os pacientes na agenda, e que a demora é de, no máximo, uma semana. “Recentemente, houve mutirão no sábado”, disse. Mesmo tendo os equipamentos, tem o teto financeiro, que é orientado pela SMS.

Termo aditivo

A Diretoria de Regulação da Prefeitura de João Pessoa esclareceu que encontra-se em elaboração um termo aditivo ao convênio já existente que garantirá aporte financeiro ao teto dos procedimentos de radioterapia do Hospital Napoleão Laureano.

Correio da Paraíba

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