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“João de Deus”, nome dado carinhosamente ao cidadão que perambulava pelas ruas da cidade de Patos, e que foi resgatado e encaminhado ao Hospital Regional da cidade, no dia 30 de agosto, por pessoas que tentaram ajudá-lo a conseguir tratamento médico por causa de lesões graves na genitália, falou sobre si nesta quinta-feira (27), pela primeira vez, e revelou coisas até então inéditas de sua vida. A entrevista feita pela jornalista Eliane Sobral, assessora do Complexo Hospitalar Regional Dep. Janduhy Carneiro de Patos (CHRDJC), onde ele está internado desde então, e foi acompanhada pela representante comercial Luciana Pereira, que foi uma das integrantes da força tarefa que conseguiu resgatá-lo das ruas e leva-lo ao hospital.

Adriano Teixeira Lima. Esse é o nome que ‘João de Deus’, diz ser o seu. Ele falou ainda que tem três irmãos e que sua mãe, segundo ele, de nome Maria Tereza da Conceição, faleceu de parto, que é natural de Penedo (AL) e que trabalhou na usina Caetés, na cidade de São Miguel dos Campos (AL) cortando cana-de-açúcar. Sobre uma cicatriz que ele tem na perna esquerda, ele disse que foi de um acidente de moto, na cidade de Fortaleza e que se tratou num hospital de nome Sobral.

Indagado de como ele chegou em Patos, a explicação não tem muita lógica, porque ele argumenta que saiu catando latinhas e que não sabe ao certo como chegou à cidade. Sobre o pai, ele disse apenas chamar-se Teixeira Lima. Questionado sobre a existência de parentes, familiares ou amigos, ele silenciou. Segundo relato, intercalado por respostas hora desconexas e às vezes inaudíveis, Adriano disse já ter tomado banho de mar, na Praia Pontal do Peba (AL) e de rio e que gosta mais de rio. Ele disse ter 25 anos, mas, aparenta um pouco mais. Gosta de desenhar e tem uma pasta cheia de rabiscos e figuras de traços bem definidos, o que demonstra uma certa habilidade artística.

Quando foi resgatado para o hospital, o paciente apresentava um grave ferimento e tumoração na genitália, tanto que teve que passar por uma cirurgia de remoção de parte do órgão, um dia após sua internação. Desde então, mesmo com alta médica, há alguns dias, ele permanece na enfermaria de isolamento da unidade. Além de não ter para onde ir, há uma ordem judicial endereçada a direção da unidade, obrigando-a a acolher o paciente sob pena de pagamento de multa e outras implicações.

A diretora do Hospital, Liliane Sena, encaminhou o ofício da Justiça ao setor jurídico da unidade e aguarda orientação para proceder. “O fato é que todos nós estamos sensibilizados e tentando ajudá-lo, mas, é preocupante ele ter que permanecer aqui no hospital, sem ter mais necessidade de cuidados médicos intensivos e hospitalares, apenas porque não tem para onde ir, Isso o coloca em risco, porque o ambiente hospitalar predispõe quem está nele há uma série de riscos”, destaca Lili.

Ainda segundo Liliane, foi identificado que o paciente também tem algum tipo de transtorno mental e que precisa de tratamento psiquiátrico, mas, a unidade não disponibiliza esse tipo de serviço. Adriano adora ver TV, desenhar e ficar observando da porta de seu alojamento o ir vir das pessoas. Não é agressivo, mas é muito introspectivo. Permite que as pessoas cuidem dele e não se constrange com os cuidados que incluem até ajuda no banho. Fala muito pouco. Permitiu que fosse tirada fotos dele, mas não sorriu para nenhuma delas, apesar dos apelos da jornalista que também fez as imagens. Reflexo de uma vida difícil que pelos relatos preliminares e a própria situação de abandono e da condição de amputado dá para dimensionar.

“Não à toa, falta no olhar dele o brilho que a gente encontra em pessoas felizes, mas, no fundo há um suplica por ajuda, por isso, tenho insistido em ajudá-lo, fazer minha parte como ser humano, em estar presente, dando carinho, cuidado e atenção. Assumi essa missão e vou tentar encontrar, junto com meu advogado, alguém ou algum elo que o reconheça e possa resgatar nele a dignidade que todos devemos ter a começar por uma coisa básica que são os próprios documento, identidade e referenciais”, afirma Luciana. Ela, inclusive, já tinha acionado o Ministério Público para que ele pudesse ter documentos pessoais. “Agora, com esses novos dados, uma luz foi acesa e vamos persegui-la”, diz Luciana.

 

Assessoria

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