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Em delação ao Ministério Público da Paraíba, a ex-secretária de Administração do Estado, Livânia Farias, contou que usava como senha a frase “trouxe mangas” para dizer que estava entregando propina ao ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). O ex-governador foi preso na sétima fase da Operação Calvário e indicado como chefe de uma organização criminosa suspeita de desviar R$134,2 milhões de serviços de saúde e educação, por meio de organizações sociais.

Em determinada ocasião, Livânia Farias entregou, diretamente na Granja Santanna, residência oficial do governador, R$ 1 milhão a Ricardo Coutinho. “Nesse dia tinha gente lá e ele disse que não poderia me receber naquele momento. Eu dizia que ‘chegou uma manga de Sousa para você'”, disse em delação. Essa propina teria saído da educação do Estado para pagar dívidas de campanha eleitoral.

Livânia Farias foi presa na terceira fase da operação, no dia 16 de março. Ela teria recebido, por mês, propina na ordem de R$ 80 mil paga pela Cruz Vermelha, de acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate à Corrupção (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba (MPPB).

Para fazer o acompanhamento da entrega da propina e marcar o que já havia sido entregue, Livânia usava um guardanapo, onde escrevia e depois jogava fora. Segundo ela, quando entregava a propina ao ex-governador, ela dizia a quantia, informava de onde tinha vindo a propina e quem era o fornecedor. Ela conta que Ricardo Coutinho não falava nada e conversava sobre outros assuntos.

Livânia conta que conheceu o empresário Daniel Gomes, ainda em 2010, trazido à Paraíba através do ex-senador Ney Suassuna. A apresentação foi intermediada por Fabrício Suassuna, filho de Ney. Do local, ele foi conversar com Ricardo Coutinho, segundo a delação. Na conversa, prometeu ajuda para a campanha daquele ano. Naquele momento, ainda não havia contrato com a Cruz Vermelha Brasileira. Ricardo teria mandado ele acertar tudo com Livânia. Para isso, Livânia fez um repasse de R$ 200 mil.

Propina usada para shows e carnaval

Em vídeos exibidos neste domingo (22) pelo Fantástico, o agora delator afirma aos investigadores que os repasses foram negociados com Ricardo Coutinho desde 2010 e que o esquema ilegal continuou com o atual governador João Azevêdo (sem partido). “O Ricardo era o líder, indiscutivelmente”, afirma.

O empresário também pagou com dinheiro de corrupção as despesas de Coutinho em São Paulo, no show do Roger Waters em 2018, e no Rio de Janeiro, no desfile das escolas de samba de 2012.

Durante todo o período em que esteve envolvido no esquema, Daniel Gomes carregava um gravador escondido. O empresário começou a gravar o então governador em 2010 e seguiu registrando tudo até o final de 2018. A Polícia Federal e o Ministério Público tiveram que analisar mais de mil horas de reuniões e pedidos de propina.

A defesa de Ricardo Coutinho disse que “não se pode concluir que numa conversa gravada há tantos anos, por exemplo, implique necessariamente num ato de corrupção. Até porque são valores estratosféricos. O ex-governador não tem patrimônio”.

Em uma live nas redes sociais, realizada neste domingo (22), Ricardo Coutinho disse que as gravações e delações feitas pelo empresário Daniel Gomes foram esquematizadas com o objetivo de incriminá-lo. “Eu nunca recebi nada. Meu patrimônio é absolutamente compatível com aquilo que eu ganhei ao longo desses anos”, disse o ex-governador.

Operação Calvário – Juízo Final

A Operação Calvário investiga uma suposta organização criminosa que desviou R$ 134,2 milhões de recursos da saúde e educação. Foram presas 14 pessoas, sendo nove na Paraíba, duas no Rio Grande do Norte, uma no Rio de Janeiro e uma no Paraná. Todos os 54 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho tinha mandado de prisão preventiva expedido, mas estava em viagem de férias fora do país e foi preso ao retornar ao Brasil, na quinta-feira (19). Ele e outras quatro pessoas foram soltas no sábado (21), após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

G1 PB

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