Jair Bolsonaro (Foto: Lula Marques/Fotos Públicas)
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Em documento entregue hoje ao STF (Supremo Tribunal Federal), a AGU (Advocacia-Geral da União) revela transcrições da fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a reunião ministerial do dia 22, ocasião na qual o ex-ministro da Justiça Sergio Moro acusa o presidente de tê-lo pressionado por trocas na Polícia Federal.

De acordo com a transcrição da fala de Bolsonaro juntada ao processo, o presidente afirmou na reunião: “Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura”, diz trecho transcrito no documento da AGU.

As falas do presidente constam de manifestação da AGU ao STF na qual o órgão jurídico do governo pede que sejam tornados públicos apenas os trechos do vídeo da reunião com as falas de Bolsonaro, e que sejam mantidas em sigilo as declarações dos demais ministros.

A AGU afirma que apenas dois trechos com declarações de Bolsonaro têm relação com o inquérito. São esses dois trechos que foram transcritos no documento enviado ao Supremo.

No primeiro trecho, Bolsonaro reclama de não receber informações de órgãos do governo.

Diz a transcrição enviada pela AGU:

“Eu não posso ser supreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação. Quem é que nunca ficou atrás da… da… da… porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois… depois que ela engravida não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque enchou os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. [referências a Nações amigas]. Então essa é a preocupação que temos que ter: “a questão estatégica”. E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso – todos – é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá pra trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade.”

Em outro trecho da reunião, também transcrito pela AGU, o presidente afirma:

“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.

Ainda segundo a AGU, nesse momento da reunião Bolsonaro não faz referência, direta ou indireta, a “superintendente”, “diretor-geral” ou “Polícia Federal”.

Segundo afirma a AGU no documento entregue ao Supremo, há um intervalo de 50 minutos entre uma fala e outra do presidente e o termo “segurança nossa”, usado por Bolsonaro, provavelmente se refere ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional), órgão da Presidência da República responsável pela segurança presidencial.

Na manifestação ao STF, a AGU também defende que seria “literal e objetivamente equivocado” afirmar que no momento em que Bolsonaro manifesta insatisfação com o recebimento de informações de órgãos do governo essa fala possa ser interpretada como a tentativa de obter informações sigilosas de investigações da Polícia Federal.

Para a AGU, as duas declarações de Bolsonaro na reunião que teriam relação com a investigação no STF não foram feitas no mesmo contexto durante a reunião e não teriam relação entre si. “As declarações presidenciais com alguma pertinência não estão no mesmo contexto, muitíssimo pelo contrário: estão elas temporal e radicalmente afastadas na própria sequência cronológica da reunião”, diz a manifestação da AGU, assinada pelo advogado-geral da União, José Levi.

O ministro Celso de Mello, relator do inquérito, deverá decidir se mantém em sigilo ou dá publicidade ao vídeo com o registro da reunião ministerial.

UOL

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