Hospital Solidário foi instalado no estacionamento do Hospital Metropolitano de Santa Rita — Foto: divulgação/Secom-PB
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Representantes de conselhos de profissionais de saúde e parentes de pacientes com Covid-19 internados no Hospital Solidário, unidade de saúde de campanha montada no estacionamento do Hospital Metropolitano de Santa Rita, têm feito denúncias de irregularidades na unidade. As denúncias foram recebidas pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e Ministério Público Federal (MPF), que pediram à Justiça a solução rápida dos problemas.

Em entrevista à TV Cabo Branco nesta segunda-feira (22), uma mulher, que preferiu não se identificar, contou o que aconteceu com o marido e a tia dela que estiveram internados no hospital em maio.

“A primeira situação foi com o meu esposo. Me pediram um kit de objetos pessoais para ele e também roupas. Eu levei, mas estes objetos não chegaram até o paciente. Até água eu levei porque eles pediram. O mesmo aconteceu com minha tia quando estava internada lá. Tivemos que levar água também, para ela. O kit não chegou e sempre que a gente ligava para a assistência social, diziam que ela estava em estado regular, se alimentando, tomando remédio. Como pôde o quadro dela estar regular na segunda-feira e na terça-feira ela vir a falecer?”, disse a mulher.

Nas redes sociais do hospital e da Secretaria de Estado da Saúde, várias pessoas deixam comentários se queixando da falta de comunicação do hospital com as famílias. Outros falam que os pacientes estão jogados e morrendo e alguns também pedem para que o Ministério Público da Paraíba (MPPB) investigue o que acontece dentro do hospital. O secretário de saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros, rebateu algumas das denúncias e comentou sobre os problemas apresentados. Leia no final da reportagem.

No final de maio, entre os dias 27 e 29, o Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB) fez uma fiscalização na unidade e constatou problemas de redução de equipes nas UTIs além de superlotação, que provoca sobrecarga aos profissionais. O Coren-PB verificou também um déficit de 13 enfermeiros além da falta de medicamentos e de insumos para atendimento.

“A fiscalização foi feita à pedido do MPF para apurar denúncias em relação a baixa qualidade na assistência prestada aos pacientes acometidos pela Covid-19. Identificamos algumas irregularidades e o que mais nos chamou a atenção foi o déficit de profissionais de enfermagem na UTI 4 e no Eixo Vermelho, a falta de alguns medicamentos e mobílias inadequadas para prestar assistência de enfermagem a esses pacientes. Em virtude dessas irregularidades, elaboramos um relatório com 21 recomendações e encaminhamos ao secretário de saúde, à direção de assistência do hospital e também à gerente de enfermagem”, disse Graziela Cahú, gerente de fiscalização do Coren-PB.

O Conselho Regional de Medicina na Paraíba (CRM-PB) também fez uma fiscalização, no dia 3 de junho.

“Constatamos a falta de medicamentos importantes que deixariam os pacientes sedados, facilitariam a recuperação deles e que quando eles estão entubados, são importantes para não deixá-los conscientes na hora de passar o tubo em caso de necessidade de ventilação mecânica. Além disso, verificamos que as escalas não são compostas por médicos mais experientes. Entendemos que a situação é excepcional, que há dificuldade de encontrar profissionais experientes com grande disponibilidade, mas que pelo menos durante o plantão exista um profissional com mais experiência fazendo a supervisão. Isso é extremamente relevante na hora de fazer um cuidado e um suporte avançado do paciente”, contou Bruno Leandro de Souza, fiscal do CRM-PB.

O MPPB informou que recebeu esses documentos e que a investigação está sendo feita em conjunto com o MPF. Ambos os órgãos, sabendo de todos os problemas, pediram à Justiça para que União e Estado regularizem o abastecimento de medicamentos e também solicitam que, em um prazo de 72 horas, seja regularizado o abastecimento e fornecimento contínuo, ininterrupto e gratuito de 16 medicamentos indispensáveis ao manejo de assistência ventilatória e hemodinâmica dos pacientes. Os MPs pedem também que a Justiça obrigue União e Estado a apresentarem, em até cinco dias, um plano de aquisição de medicamentos em quantidade compatível com a atual demanda das UTIs.

O que diz o estado:

O secretário de saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros, falou sobre os problemas relatados pelos parentes e pelas entidades.

Sobre a falta de comunicação com os familiares, Geraldo explica que a diretoria do hospital criou um núcleo de informação do paciente. “Um médico, um fisioterapeuta e um assistente social ligam diariamente para aquele familiar que está cadastrado como parente e este familiar transmite para os demais familiares a informação do paciente”, diz Geraldo.

O secretário se pronunciou também sobre a evolução rápida de pacientes, em que o hospital pode falar que o paciente está bem mas no dia seguinte vir a óbito. “As pessoas precisam entender que essa doença pode evoluir dessa maneira, o paciente está bem agora e daqui a três, quatro horas vai a óbito. Isso é uma das características do Covid-19 em relação a rápida evolução de alguns pacientes”, conta Geraldo Medeiros.

Em relação à falta de medicamentos, o secretário de saúde da Paraíba diz que esteve em reunião com o ministro da saúde interino Eduardo Pazuello na sexta-feira (19) e que o desabastecimento de remédios relativos a sedação é um problema nacional.

“O ministério se prontificou a disponibilizar uma ata de registro de preço para os estados aderirem. A Paraíba ainda dispõe destes medicamentos, em quantidade pequena, mas é um problema que preocupa, porque são drogas importantes”, disse.

Já com relação à falta de profissionais experientes nos plantões, Geraldo diz que o estado fez três chamamentos públicos com mais de quatro mil vagas, mas que houve baixa adesão.

“Somente mil pessoas se disponibilizaram a trabalhar com Covid-19 e daí a necessidade de utilizar mão de obra mais jovem, que é treinada e capacitada. E eles sempre participam do plantão com profissionais mais experientes e executam o trabalho à parte. Nós temos 10 médicos de plantão por dia no hospital. A necessidade do Covid-19 é o dobro das doenças comuns”, completou o secretário.

G1 PB

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