'Não tem quem suporte', diz administrador que perdeu os pais por falta de oxigênio em Manaus
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O administrador de empresas Iyad Hajoj perdeu o pai e a mãe no mesmo dia por falta de oxigênio em Manaus. Os dois estavam internados no Hospital Getúlio Vargas com Covid-19, o pai na UTI e a mãe na enfermaria, mas ambos não resistiram à falta de oxigênio.

Na quinta-feira (14), Iyad esteve na unidade de saúde para reconhecer os corpos dos pais. Um dia antes, ele chegou a ver a mãe no hospital e revelou que em nenhum momento foi avisado que estava com falta de oxigênio no local.

Em entrevista à apresentadora Aline Midlej, da GloboNews, ele falou sobre a perda.

“Foi o dia mais aterrorizante que eu não desejo para absolutamente ninguém. Fui infectado pela Covid porque tive que cuidar dos dois e tive que reconhecer o corpo dos dois”, explicou o administrador.

Os pais de Iyad faleceram com cerca de uma hora entre um e outro. Em seu depoimento, ele ressaltou que seus pai eram trabalhadores imigrantes, pagavam impostos, e que morreram sem um tratamento digno.

“O mínimo que eles podiam fazer era ter o básico: que era ar. A gente entende que estamos num momento crítico, mas faltar o básico é algo irreparável. Perder e enterrar os pais, no mesmo dia, não tem quem suporte”, disse Iyad, emocionado.

Colapso na saúde

Manaus enfrenta colapso no sistema de saúde pela falta de oxigênio nos hospitais. O caos piorou com o aumento de recorde de internações por Covid-19 no estado.

Sem oxigênio, o governo começou, nesta quinta (14), a transferência de 235 pacientes com Covid do Amazonas para outros estados. O maior pronto-socorro do estado, HPS 28 de Agosto, passou a recusar pacientes por conta de superlotação.

De acordo com o Ministério da Saúde, a medida atende a uma solicitação do Governo do Amazonas para recém-nascidos que estavam no limite de oxigênio. A pasta informou, ainda, que busca mais balas de oxigênio para que os prematuros não precisem ser transferidos para outros estados.

O Governo Federal informou que irá prestar apoio em todo o processo logístico de remoção. Nesta quinta, a Justiça determinou que a União também realiza, imediatamente, a transferência de pacientes que podem morrer pela falta de oxigênio.

Hospitais lotados e sem oxigênio

O caos que instalou na Saúde de Manaus começou com o aumento de internações por Covid, que lotou os hospitais. Com a demanda, o oxigênio nas unidades foi insuficiente e as empresas fornecedoras no estado não conseguiram atender a necessidade, que ficou seis vezes maior.

Nesta sexta, o Hospital Delphina Aziz, referência para tratamento de casos de Covid, anunciou superlotação. Por conta disso, o Exército começou a montar uma enfermaria de campanha na frente da unidade, que deve disponibilizar 60 leitos.

O maior pronto-socorro do Estado, HPS 28 de Agosto, também começou a recusar novos pacientes, nesta sexta, por conta de superlotação. Ambulâncias com doentes que chegavam na unidade tiveram que voltar para buscar vaga em outros hospitais.

G1 AM

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