Crise entre Ernesto Araújo e senadores aumentou depois de declarações do chanceler sobre Kátia Abreu (Imagem: Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo)
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Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Leila Barros (PSB-DF) articulam um pedido de impeachment contra o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A intenção é apresentar o pedido ainda hoje ao STF (Supremo Tribunal Federal) ou à Câmara dos Deputados.

A crise entre Ernesto e o Senado chegou a um novo patamar crítico neste final de semana devido a declarações do ministro contra presidente da CRE (Comissão de Relações Exteriores) do Senado, Kátia Abreu (PP-TO). Ele escreveu no Twitter que, em almoço no início de março, a senadora teria dito que seria o “rei do Senado” se fizesse um gesto em relação ao 5G. Ernesto disse não ter feito “gesto algum”, porque isso não caberia a ele.

Em nota, Kátia confirmou ter conversado com Araújo, mas afirmou que “é uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade”. Ela também disse ser preciso “livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal”.

Os senadores saíram em defesa de Kátia Abreu e decidiram reforçar a pressão em cima do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a demissão do atual chefe da pasta das Relações Exteriores.

A queda de Araújo tem sido costurada principalmente pelo Congresso Nacional, com protagonismo para os presidentes Arthur Lira (PP-AL), da Câmara, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do Senado. Mas o movimento também é avalizado por militares, aliados, diplomatas e empresários.

A avaliação comum a esses setores é de que a gestão do chanceler falhou em vários temas e teria contaminado a diplomacia brasileira com vieses ideológicos. Uma das críticas mais contundentes se dá em uma suposta insuficiência do Itamaraty no diálogo para aquisição de vacinas e insumos fundamentais no combate à pandemia do coronavírus.

Essa suposta falta de articulação do Itamaraty comandado por Ernesto é, inclusive, uma das justificativas para o pedido de impeachment. Em documento preliminar do pedido obtido pelo UOL, os senadores afirmam que Ernesto vem conduzindo “de maneira desastrosa” uma das pastas mais importantes do governo com prejuízos à população brasileira e à imagem do Brasil no cenário internacional.

Para os senadores, no documento, o ministro fez “uso sistemático de mentiras com o objetivo de tentar construir no imaginário de boa parte dos cidadãos brasileiros uma fantasia a respeito de inimigos que não existem e especialmente sobre uma aparente normalidade da saúde no Brasil em meio a uma pandemia sem precedentes”.

“Para além da corriqueira divulgação de fake news acerca da real situação de enfrentamento da crise sanitária, a atuação tímida e a destempo do denunciado contribuiu diretamente para o desabastecimento de vacinas e insumos em território brasileiro”, diz trecho do texto.

Outros pontos levantados pelos senadores no documento preliminar são:

  • repreensão por não usar máscara em determinado momento em Israel;
  • possíveis irregularidades para o monitoramento da Cúpula do Clima (COP-25) das Nações Unidas;
  • comentários que teriam minimizado a invasão ao Capitólio do Congresso Americano;
  • a visita do ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em Roraima;
  • suposta desmobilização da frente diplomática dedicada ao meio ambiente;
  • declarações tidas como ofensas a ex-chanceleres brasileiros;
  • busca da retirada compulsória de funcionários da Embaixada da Venezuela em Brasília;
  • analogia do distanciamento social a campos de concentração nazistas;
  • críticas ao “climatismo e afirmação de que a justiça social é pretexto para ditadura”.

Para os senadores, Ernesto agiu de maneira “indecorosa, indigna e incompatível com a honra do cargo, em casos públicos e notórios, especialmente a partir de março de 2020, período inicial da pandemia que vem se arrastando de modo indefinido”.

A análise de indicações de chefes de missões diplomáticas do Brasil no exterior vai ficar travada no Senado enquanto Ernesto Araújo não sair do cargo ou não mudar radicalmente de atitude na pandemia do coronavírus, o que é visto como improvável pelos parlamentares.

O UOL apurou que a avaliação de líderes partidários do Senado é que não há clima hoje para tocar interesses do Itamaraty.

O líder da Minoria no Senado, senador Jean Paul Prates (PT-RN), apresentou, na última sexta (26), um projeto de resolução para tentar suspender nomeações de embaixadores no Senado.

“Cabe a este Senado sublinhar a centralidade da emergência, e liderar o rechaço ao negacionismo, à irresponsabilidade e à inércia, para salvar as vidas de brasileiras e brasileiros”, afirmou.

UOL

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