Volume de chuvas esperado para janeiro no Estado é, em média, 60 milímetros. Até ontem havia chovido 57,9 milímetros, quase o total do mês inteiro (Foto: Adriano Abreu)
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Em todo o Rio Grande do Norte já choveu 57.9 milímetros nas duas primeiras semanas do ano, quase o esperado para todo o mês de janeiro (60.3). A média inclui o volume de todos os municípios juntos. Na região Oeste as chuvas têm sido mais intensas e já estão acima do esperado para todo o mês com mais de 78 milímetros. A previsão é de que o até abril chova dentro da normalidade ou acima do esperado no RN.

Mesmo a quadra chuvosa do semiárido ocorrendo somente a partir de março, o mês de janeiro de 2022 vem registrando bons volumes de chuva e boa distribuição em todas as regiões. A justificativa está na Zona de Convergência Intertropical, que está atuando no estado e trazendo condições favoráveis para chuvas. Nesta semana, a rede de monitoramento meteorológico do RN, que conta com 291 estações, sendo 15 plataformas de coleta de dados (PCD), 99 pluviômetros automáticos e 177 pluviômetros manuais, registrou chuvas em todas as regiões Estado com 62 municípios com chuvas normais, 37 acima do normal, 8 chuvosos, 29 secos e 7 muito secos.

Até esta sexta-feira (14), em 24 municípios o índice pluviométrico já supera os 100 milímetros, segundo dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), com destaque para Venha-Ver,  no Oeste potiguar, com 220.2 mm. “Na região do Alto Oeste já choveu acima de 100 mm em vários municípios, assim como em alguns do Seridó e do Agreste.  Isso é muito mais do que a média do mês”, destacou o chefe da unidade de Meteorologia da Emparn, Gilmar Bristot.

Ao longo da semana, moradores de diversas regiões registraram o que a Emparn divulgou em números. Em Caicó, onde choveu 49 mm de forma intensa, as regiões próximas ao Rio Seridó e ao Rio Barra Nova ficaram sob alerta. “Os últimos dias foram de chuvas intensas e alguns pontos alagaram, como nas proximidades do campus da UERN que fica próximo ao Rio Barra Nova. São áreas baixas que a gente já sabe que pode acontecer. No centro da cidade, o entupimento de algumas galerias também provocou alagamento. Não houve grandes estragos, mas há pessoas em situação de vulnerabilidade próximo aos rios e, dependendo da intensidade de chuvas, pode ser preciso retirá-las de lá”, contou a coordenadora da Defesa Civil do município, Orquídea Costa.

Neste sentido, ela disse que a prefeitura está monitorando as áreas e na próxima semana deverá divulgar um plano de contingência, disponibilizando um telefone de emergência em parceria com o Corpo de Bombeiros. “O inverno ocorre mais em março, mas já estaremos fazendo monitoramento da situação atual dos moradores para agirmos e ficarmos com equipes de plantão e telefones disponíveis para população”, disse a coordenadora.

Em Parelhas, choveu mais ainda. Até ontem foram 127.8 mm. A Prefeitura realizou um trabalho preventivo no tocante à limpeza dos riachos e retirada de entulhos, para facilitar o escoamento das águas das chuvas e evitar alagamentos.

Por outro lado, as chuvas  também estão ajudando a Barragem Boqueirão receber água. O reservatório tem capacidade para 85 milhões de metros cúbicos. A Prefeitura informou que foram recebidos 55 cm de água, que corresponde aproximadamente a 2% de capacidade, elevando o nível a 16% do total. A Barragem Boqueirão ainda abastece  cidades circunvizinhas, como Jardim do Seridó e Carnaúba dos Dantas, além de localidades rurais (Povoado Joazeiro, Povoado Santo Antônio da Cobra).

Chuva de granizo

Na zona rural de São José do Seridó, São Vicente, Lagoa Nova e Currais Novos os moradores se surpreenderam com uma chuva de granizo nesta semana. “Tivemos chuva de granizo na quinta-feira no sítio Barro Branco e chamou a atenção dos moradores as pedras de gelo, apesar de ter sido coisa pouca”, contou o coordenador de Meio Ambiente da Prefeitura de Jardim do Seridó, José Ailson Dantas.

Ele explicou que as chuvas na cidade não chegaram a provocar danos, mas animaram os sertanejos. “Foram normais não chegou a alagar. Foram 65 mm na sede do município. Em janeiro do ano passado não choveu, então existe a perspectiva de que encha os reservatórios neste ano e traga alegria pra o município. Nossa expectativa é de que tenhamos um bom inverno a partir de fevereiro”, disse ele.

Imagens que circulam nas redes sociais mostraram o impacto provocado pela forte ventania durante as chuvas na cidade. Uma residência teve o teto da garagem arrancado pelo vento, a cobertura de um ginásio poliesportivo cedeu e um muro caiu sobre carros que estavam estacionados. Todos esses casos ocorreram na zona urbana do município. Pela força das chuvas, também foram registrados pontos de alagamento.

O chefe da unidade de Meteorologia da Emparn, Gilmar Bistrot, diz que não é comum acontecer granizo no Nordeste porque a temperatura da atmosfera é alta. “O nível de congelamento fica muito elevado e dificilmente há nuvens que consigam ultrapassar esse nível a ponto de congelar a água. Pode acontecer, como vimos no Seridó, com formação de nuvem Cumulonimbus, que tem um desenvolvimento vertical e uma corrente vertical dentro da nuvem muito intensos, fazendo com que as gotículas dentro dela se desloquem verticalmente atingindo o topo da nuvem e se tornando gelo. Elas ficam mais pesadas e chegam ao solo”, explicou.

Para acontecer novamente, ele diz que vai depender de fatores como as condições de estabilidade, concentração de umidade e temperatura associada à condição do relevo.

Para os próximos meses, a previsão é um período chuvoso que deve variar de normal para acima do normal. “Na próxima semana teremos  reunião com os meteorologistas do Nordeste para a previsão climática dos próximos meses”, disse Gilmar Bistrot.

Para este final de semana, as análises dos meteorologistas indicam a permanência das condições climáticas favoráveis para ocorrência de chuvas em todas as regiões. “A previsão para o final de semana é de boas chuvas tanto no interior e na região litorânea”, comentou o chefe da unidade de Meteorologia da Emparn.

Chuvas não aumentam volumes de reservatórios

Até a última semana, as chuvas que ocorreram nos primeiros dias de 2022 ainda não conseguiram reverter o cenário de perdas para os grandes reservatórios do Estado monitorados pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN (Semarh). A Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, tinha 46,79% de seu volume total no começo de dezembro. Agora, está com 44,84%.

A Lagoa do Boqueirão, em Touros, tinha 80,14% de volume no início do mês passado, e agora, segundo a Semarh, o volume é de 79,94%. A Lagoa do Bonfim, em Nísia Floresta e o Açude Itans, em caicó, também estão com volumes menores atualmente. Passaram de 45,96% e 1,06% respectivamente (em dezembro), para 45,13% e 0,84%, respectivamente (em janeiro).

A Semarh afirmou que, apesar de ainda não constatar aumento do volume da água armazenada nos reservatórios, a expectativa é de boas notícias para este ano. “Esperamos um inverno dentro ou acima da média, então, avaliamos [o cenário] de forma positiva”, disse a pasta.

O Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (Igarn), por sua vez, destaca que “houve significativa reposição nos pequenos açudes” das regiões onde foram registradas chuvas, “com aumento de armazenamento em 12 dos 47 principais reservatórios monitorados” pelo órgão.

Cláudio Oliveira – Tribuna do Norte
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