Maria Fernanda no papel de Gilda Baldaracci, personagem da novela Pai Herói, de 1979. — Foto: Arquivo Globo/Globo
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Morreu, neste sábado (30), aos 96 anos de idade, a atriz Maria Fernanda, filha da poetisa Cecília Meireles. Sua morte ocorreu na Casa de Saúde São José, no Humaitá, onde estava internada desde terça-feira (26).

De acordo com a unidade médica, Maria Fernanda morreu em decorrência de uma pneumonia bacteriana. Viúva, ela deixou um único filho, Luiz Heitor Fernando Meireles Gallão, fruto de seu primeiro casamento com o diretor de TV Luiz Gallon. A família não divulgou informações sobre o funeral.

Batizada Maria Fernanda Meirelles Correia Dias, a atriz nasceu no Rio de Janeiro em 25 em outubro de 1925. Era uma das três filhas da poetisa Cecília Meireles, todas Marias (Maria Mathilde e Maria Elvira já são falecidas) com o pintor português Fernando Correia Dias, que se suicidou quando ela tinha 10 anos de idade.

Considerada uma das últimas remanescentes da primeira geração de atrizes modernas do Brasil, Maria Fernanda dedicou mais da metade de sua vida à teledramaturgia.

Na televisão, interpretou personagens marcantes em novelas históricas como “Gabriela” (1975) e “Pai Herói” (1979), da Globo. No cinema, participou de mais de 20 produções, entre elas “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil”, no qual interpretou a Rainha D. Maria I, a louca.

Mas foi no teatro que Maria Fernanda se consagrou artisticamente – foi Ofélia na primeira montagem brasileira da peça “Hamlet”, ganhou todos os prêmios teatrais do país pela icônica personagem Blanche DuBois, de “Um Bonde Chamado Desejo” e por anos foi jurada teatral do Prêmio Shell.

Os últimos trabalhos de Maria Fernanda como atriz foram em 2004, na peça “A Importância de Ser Fiel”, do Grupo TAPA, e em 2015, no filme “O Quinze” (2005), baseado na obra de Rachel de Queiroz.

Trajetória artística

Maria Fernana iniciou a carreira artística em 1948, interpretando a personagem Ofélia, na primeira montagem de “Hamlet” feita no Brasil, ao lado de atores como Sergio Cardoso e Sergio Britto. Logo depois, se mudou para a Europa para estudar artes cênicas.

Reconhecida por sua voz marcante e rara sensibilidade interpretativa, Maria Fernanda alcançou sua consagração como atriz em 1959 ao interpretar a neurótica Blanche DuBois, em “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennessee Williams, considerada a maior personagem feminina do teatro universal.

A peça ficou em cartaz por quase dez anos e rendeu a Maria Fernanda os principais prêmios teatrais da época, incluindo o primeiro Prêmio Moliére de Melhor Atriz (1963). Sua interpretação se tornou tão célebre que chegou a ser assistida pela própria Vivien Leigh, vencedora do Oscar (1952) pelo mesmo papel, quando a atriz esteve em turnê pelo Brasil.

A mesma peça “Um Bonde Chamado Desejo” levou Maria Fernanda a protagonizar um episódio policial real em 1968, considerado o ano de chumbo da ditadura militar brasileira. A atriz foi detida por policiais militares durante apresentação de uma remontagem do espetáculo em Brasília.

Diante da ação policial, a classe teatral se mobilizou em uma greve de 72 horas em todos os teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo. O desfecho foi a célebre “Passeata da Cultura Contra a Censura”, realizada na Cinelândia, no Centro do Rio, que reuniu um time histórico de atrizes marchando em frente à multidão.

A maior parte da carreira de Maria Fernanda foi dedicada ao teatro. Ao longo de quase 70 anos, interpretou textos emblemáticos de autores como Nelson Rodrigues, Martins Penna, Eurípedes, Tchekhov, Jean-Paul Sartre, García Lorca, Bertolt Brecht, Arthur Miller, Strindberg, Oscar Wilde, Tchekhov e Jean Genet.

No cinema, Maria Fernanda estrelou filmes na Atlântida e na Vera Cruz, os dois mais importantes estúdios dos anos das décadas de 1940 e 1950. Em 1979, deu vida à freira Joana Angélica, no filme homônimo de Walter Lima Jr., e em 1995, interpretou D. Maria I, a louca, no clássico “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil”, que marcou a retomada do cinema brasileiro.

Na TV, viveu grandes personagens como Scarlet O’Hara, Ana Karenina, Salomé e George Sand em atrações apresentadas ao vivo, ainda na década de 1950. Na TV Globo brilhou em novelas históricas como “Gabriela” (1975) e “Pai Herói” (1979).

G1

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