Foto à esquerda: Geraldo Antônio de Souza Júnior | Foto à direita: Biblioteca Nacional
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Dona Madalena, atualmente residente no Perímetro Irrigado de São Gonçalo, em Sousa, no Sertão da Paraíba, no auge dos seus quase cem anos de idade, ainda hoje em plena lucidez, lembra com mínimos detalhes o triste episódio que marcou para sempre a sua vida e a de sua família, quando presenciou seu pai, o ex-cangaceiro Moreno I que pertenceu ao bando de Sinhô Pereira e posteriormente ao bando de Lampião, ser assassinado friamente e sem chance alguma de defesa em sua frente, assim como na presença de seu irmão menor e de sua mãe que se encontrava grávida na ocasião.

Segundo me relatou dona Madalena, seu pai teve a casa cercada e após ser intimado, saiu e teve uma breve conversa com alguns cangaceiros do bando de Lampião, que por sua vez ao longe tudo assistia sem esboçar nenhuma reação, aguardando passivelmente ser executada a sentença implacável que havia decretado contra o antigo companheiro de armas. Terminada a conversa Moreno foi executado friamente, mas sem pedir clemência ou implorar pela manutenção de sua vida. Os cangaceiros ainda quiseram assassinar o garoto para evitar uma futura vingança, mas segundo dona Madalena, foram impedidos de concretizar o ato graças a intervenção de Maria Bonita, companheira de Lampião, que não permitiu que tal ato deplorável e desumano fosse concretizado.
Entendam o caso:

Moreno I que entre os anos de 1922 e 1923 havia abandonado o cangaço e ingressado nas hostes paramilitares do potentado coronel Zé Pereira de Princesa, Paraíba, esteve presente e participou do evento que culminou no ataque ao cangaceiro Meia Noite I (Antônio Augusto Feitosa / Antônio Bagaço), no decorrer do ano de 1924, quando este se encontrava homiziado em uma casa de farinha no sítio Tataíra que na época pertencia ao município paraibano de Princesa e que hoje está anexado ao município paraibano de São José de Princesa.

O ataque da polícia paraibana, aliada a homens em armas ligados ao coronel Zé Pereira, ao cangaceiro Meia-Noite (Primeiro) e sua posterior morte, assim como a mudança de lado de Moreno (Primeiro) foram alguns um dos motivos que levaram Lampião a jurá-lo de morte e a decretar posteriormente a sua morte de forma fria e violenta, quando se encontrava residindo no município alagoano de Mata Grande onde foi residir após o desfecho da revolta de Princesa, Paraíba, em que o coronel e seus aliados mais próximos foram obrigados a fugir da região para não serem presos ou mortos por inimigos ou pela polícia paraibana após a derrota dos revoltosos.

A dor e a tristeza são alguns dos sentimentos que dona Madalena e sua família trazem até os dias atuais, mas que ainda assim, contrariando o pensamento de muitos, fazem questão de contar e documentar suas memórias para que as pessoas nos dias atuais possam ter o pleno conhecimento e a real dimensão do descaso das “autoridades” da época e da violência exacerbada e incontrolável que era praticada nos sertões por cangaceiros, jagunços e coronéis em um período miserável, movido a sangue, suor, chumbo e desgraça.

Rabiscos: Geraldo Antônio De Souza Júnior – Cangaçologia

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