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Basicamente, nada tenho contra armas. Posso até em algum instante apreciá-las enquanto peças de museu, devidamente assépticas e desengatilhadas. Despossuídas de sua letalidade, como uma cascavel sem dentes e devidamente empalhada, ganham até certo charme como objetos de decoração. Não gosto (e não concordo), de forma alguma, delas andando por aí nas mãos de qualquer um.

O desejo de possuir uma – confesso que um dia tal idiotice passou pela minha cabeça – ficou lá pela adolescência. Quis e até andei atrás de adquirir um exemplar. Sorte que não tive sucesso na empreitada. Além disso passei dias a apreciar uma garrucha calibre 22 (a famosa “duas balas e uma carreira”), em desuso, que o velho mantinha em casa, além das espingardas de “soca” artesanais ou de cartuchos, que bem aprendi a manipular.

Só a título de ilustração, cheguei a disparar algumas vezes com aquelas “bacamartes” paternos, mirando pobres passarinhos e alvos imóveis, tipo árvores e muros. De armas mais potentes, tipo revólver, atirei uma única vez, quando um dos meus irmãos – militar na ativa na época – permitiu-me usar o trabuco que usava na ocasião para alvejar um tijolo. Passou o tempo. Veio a semi maturidade e a insanidade belicista foi se dissolvendo em doses cavalares de bom senso.

Contribuiu para isso, primeiramente, a noção de que nem todo o preparo psicológico para o manuseio do trabuco ia me livrar dos arroubos do “macho armado” e do espírito autoritário que costuma possuir o ser humano mais distraído e, momentaneamente, belicoso. Costuma representar, diz a psicologia, uma espécie de compensação para o desprovimento de testosterona e dotes genitais.        Na cola dos motivos, a noção da letalidade das armas Qual seja, trata-se, em mãos erradas, de um cartão de visitas da prepotência, da agressividade e, em muitíssimos casos, da covardia.

E, claro, a compreensão da irreversibilidade de uma agressão à vida. Por fim, a noção do ridiculo impresso na gratuidade e breguice “exibicionista” do porte, muitas vezes ilegal além de agressivo aos demais. Digamos que o respeito à vida em geral me tomou. Quanto a isso, um episódio em particular me orientou. Acertei, num raro tiro certeiro de baladeira, as costas de uma lagartixa. Bastou-me. Descobri que jamais seria um belicista militante e, tenho certeza, estive a escolher o lado certo.

Não busco nem entender. Si em si vivem instintos selvagens, não se arme, não ande armado, não alimente vinganças Compreendendo o avanço civilizatório, o uso de armas sem algum princípio de auto-defesa é condenável. Quem defende o princípio não deve participar da convivência social. Não há lugar para o tal. Se alimenta e é atormentado por ódios terríveis, vá conversar com as montanhas. Se bem que acho que até elas, arrepiam-se ante sua presença. Se não aguenta brincadeira, não desça para o play.  Se não consegue encarar situações sem a arma, desculpe-me, arranje outras companhias.

Não me sinto bem com alguém armado na mesa em que me embriago. Se expor a arma então, mesmo bêbado, procurarei outra companhia. Se escapar, claro! Os armamentistas costumam ser aleatórios na escolha de seus alvos, independente do grau de proximidade ou do estado de ânimo que o infeliz apresente no momento.      Fui instado a escrever esse texto ao ouvir e ver nas redes sociais (infelizmente essa parte) a repercussão da chacina em Sinop/MT, dias atrás. Território do agro, da bala, da circulação de drogas e dos “homens valentes”, descendentes dos desbravadores do Brasil Central. Uma criança de doze anos sendo morta pelas costas, tentando fugir, ao ver o pai ser morto por arma de calibre 12, provavelmente desarmado, diz muito da índole dessa gente que ergue altares para as armas. Há casos e casos, cada um com sua “verdade”, sobre o uso de armas. Poucas (ou nenhuma) delas, porém, caberão justificáveis!

Por Edson de França

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