Recorro a tela do smartphone para ler poesias e crônicas. Sim, tenho essa primazia. Gentileza e disponibilidade dos componentes de grupos que frequento e que ali vão divulgar seus trabalhos particulares e de terceiros ou publicizar sites. Afora isso, quando dá na telha acesso às vitrines literárias diretamente. A leitura curta dos dois gêneros garante a fruição rápida e ajuda a superar minutos de tédio em pontos de ônibus, nos próprios durante o percurso, em salas de espera, enfim.
Também consumo notícias e opiniões por via da telinha. Os meios sérios, humorísticos ou falsos estão todos disponíveis. Há de tudo. Do jornalismo fundado na objetividade aos fake opinions e tresloucados de todas as vertentes ideológicas. De repente, durante um tempo de distanciamento dos aparelhos tradicionais de difusão de acontecimentos, o celular cumpre a função. Atualização em tempo real. Coisa que outrora era feita pela rede boca a boca.
Confiro as notícias do mundo artístico acompanhando diretamente as páginas ou perfis dos artistas com que me afino. E sao muitos. Das estrelas estratosféricos aos cantores de meio tempo. Tudo vale. Seus projetos, agendas, novas músicas, lançamentos, banalidades, potocas, reels sobre seus cotidianos e etc. O cardápio é múltiplo e variado.
Vez por outra recebo uma ligação do povo de casa. E é só. Dificilmente ligo para alguém. O resto do tempo é ocupado com zaps do trabalho, uma sugestão de pauta, uma movimentação nos grupos de banalidades, um bom dia ou a última tirada engraçadinha da vida nacional, um chamado de alguma financeira propondo renegociação de dívida ou novo crédito, alguém que nem sei que é propondo um trabalho fácil e rentoso, bastando utilizar apenas meu tempo livre e o smart que carrego comigo. Acho, enfim, que igualzinho a mim ninguém mais faz ligações. Como diria uma piada antiga, “só recebe” igual “cavalo” de terreiro.
Na maioria absoluta, contudo, das vezes em que o fone toca é um prefixo 303 que já vem registrado como spam, um número desconhecido que, quando atendido mantém-se mudo ou ainda, quando responde, é a operadora da qual compro serviços, com ofertas mirabolantes e miraculosas para aumentar a variedade de produtos que consumo. O serviço de telemarketing é a muriçoca ou a “mosca na sopa” dos dias que nos vêem passar. Tenho obrigação nenhuma de dar corda, mas tenho que sacar o bicho para interromper a chamada ou bloquear o indesejado.
Trocamos a velha e boa fala – se bem que nunca fui muito chegado à falação e, sobretudo a palracao que atinge a maior parte de nós – pelo olhar na tela. Fomos aprisionados por ela. É difícil desgrudar. Ela atrai, provoca, prende a atenção e até, pasme-se, contribui para algo significativo na vida dos pobres mortais. Grande parte do que escrevo começa justamente na tela do smart pois, além de ler, me isolo e mergulho no meu universo particular com o “auxílio luxuoso” da tela atratora de digitais..
Não sou muito afeito a leitura na tela, mas, por força das circunstâncias e da comodidade, a telinha do celular ajuda. Mesmo que para isso, tenha que contribuir com minha parte para esse hábito coletivo e epidêmico de fixar-se por horas, ou não deixar o celular descansar no bolso por instante nenhum. Seduzidos, possuídos e, ao fim, totalmente aprisionados por ela.
por Edson de França