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Poderia manter a regularidade de publicações unicamente recorrendo ao arquivo de textos prontos ou simplesmente repisando e requentando àqueles já bem encaminhados. Mas, confesso, bate certa preguiça de burilar textos já começados ou tão somente pinçar um pronto (ou semi acabado), soprar-lhe as narinas e fazê-lo voar.

O que me atrai é o sabor de novidade. O texto novo. Aquele que acabou de me chamar pro desafio de lhe dar vida. Aquele parido da recente aventura que é pegar um “sucesso” novo (qualquer que seja), ser intimamente instado pelo lirismo ou pela ira, e sobre ele elaborar uma reflexão que seja. Essa façanha é que atrai o cronista. Aí talvez esteja a poética do ofício.

Quando falo sucesso me refiro primeiramente, claro, aos fatos do cotidiano que nos impressionam e nos pressionam. Aqueles para os quais o olhar jornalístico se volta naturalmente, pelos deveres de ofício ou mau costume, ou aqueles que ferem o cidadão comum como a carestia galopante, a mordida do Leão, os boletos que exigem pagamento sob ameaça do indefectível SPC, além do rol de injustiças diárias que nos assaltam a alma via meios de comunicação.

Claro que nesse balde também cabem as subjetividades todas, as sensibilidades, os estados de espírito ou rasgos d’alma que experimentamos no construir dos dias.

Os temas atuais exigem na mesma medida em que exibem-se e pedem atenção. Desejam a todo custo figurar em alguma página, seja lá por qual ângulo seja exposto e analisado. Há dias de intempéries, de tragédias cotidianas, de malfeitos palacianos, de violências urbanas. Dos abusos de autoridade à frivolidade do grand monde, tudo pede análise, crítica, ironia, sarcasmo, ira e insatisfação.

O cronista sofre com essa opressão do presente. Uma maldição. Mas não consegue viver sem ela. Até nos momentos de maior sensibilidade para o tempo passado, é um fato presente que faz desenterrar memórias, sejam elas ternas ou maculadas pelas intempéries e pela aridez da vida. O presente é o tempo do homem e isso se revela nos textos que produzimos.

Aprecio  o texto que sobe à tona como impulsionado por um êmbolo e exige ser exposto ou atende a uma demanda imediata, contemporânea e que vai a público mesmo sem passar por uma revisão rigorosa. Nenhuma revisão estilística, crítica, autocrítica exagerada pode pará-lo ou atrasar-lhes a marcha. Ele pede, exige e acaba sepultando o texto, até mais bem finalizado, que voltar a dormir na gaveta.

Por Edson de França

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