
Existe na minha alma um poço profundo de lágrimas que geralmente transborda nos silêncios da minha existência e é exatamente nesses momentos que a presença de Deus ilumina minha vida. Algumas vezes, no silêncio dos feriados, os meus passos me conduzem ao portão do São Miguel. Entro sozinho e sozinho permaneço na imensidão da solidão fria dos túmulos. Ali ficou o que restou da prepotência, da riqueza e da vaidade dos homens.
Também, apesar de enterrados, restou na memória dos que ficaram o carinho das mães, o afeto dos amigos e a saudade dos filhos. O resto é pó. Quando estou diante do túmulo só me resta o choro amargo da perda e o choro restaurador da vida. Depois das lágrimas saio voando como um pássaro na certeza que os anjos já estão no céu. O que tinha a dizer foi dito, no “Soneto Para o Pequeno Igor“, vinte anos atrás quando o coração era forte para falar de saudade.
Quando visitei Pinto do Monteiro ele recitou uma sextilha:
Essa palavra saudade
Eu ouço desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade, é lembrança
Saudade só é Saudade
Quando se perde a esperança.
Pensei que não encontraria outra sextilha mais bela. Encontrei numa Antologia de Poesia Popular:
Quem quiser plantar saudade
Primeiro escalde a semente
Depois plante em lugar seco
Onde o sol bate mais quente
Pois se plantar no molhado
Quando nascer mata a gente.
Amém!
J.M. Victor