Fabrício Queiroz mostra estar preocupado com o trabalho do Ministério Público do Rio em áudios de conversas por aplicativo, revelados neste domingo (27) pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O ex-assessor de Flávio Bolsonaro usa a palavra cometa pra falar das possíveis consequências da investigação.
“É o que eu falo, pô. O cara lá tá hiper protegido. Eu não vejo ninguém mover nada pra tentar me ajudar, aí. Ver, tal, é só porrada, cara. O MP tá com uma p*** do tamanho de um cometa pra enterrar na gente e não vi ninguém agir”.
A Folha diz que “não é possível determinar a quem Queiroz se refere como protegido”. Mas o jornal “O Globo” afirma, também em reportagem deste domingo, que teve acesso ao áudio completo desse trecho da conversa e que Queiroz se refere referir a Adélio Bispo, autor do atentado contra o presidente Jair Bolsonaro, no dia 6 de setembro de 2018.
Segundo a Folha e o Globo, os áudios foram enviados a um interlocutor não identificado. E a Folha recebeu os arquivos de uma fonte, que pediu pra não ter o nome revelado.
Investigado por lavagem de dinheiro e organização criminosa
Queiroz é um dos principais alvos da investigação do MP-RJ sobre o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Os promotores suspeitam das práticas de lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa no gabinete de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual no Rio.
Fabrício Queiroz foi exonerado no fim do ano passado depois que um relatório do Coaf apontou movimentações financeiras suspeitas na conta dele de R$ 1,2 milhão.
Segundo a reportagem, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro se oferece para a “blindagem” do presidente Jair Bolsonaro.
“É isso que eu te falei, tá tudo ruim aqui no nosso estado, tá tudo bagunçado, eu já sabia disso. Então cara, eu, politicamente, eu só posso ir pra partido, entendeu, cara? Aí trabalha isso aí com o chefe, aí, cara, passando essa ventania aí, fica eu e você de frente. Aí, pô, a gente nunca vamos trair o cara. Você sabe dele, sabe disso.A gente blinda, blinda legal essa porra aí. Espertalhão não vai se criar com a gente.”
A “Folha de S. Paulo” diz que um dos áudios é de março deste ano. Segundo a reportagem, na conversa com um interlocutor não identificado, Queiroz faz menção de que falou com Jair Bolsonaro sobre a demissão de uma funcionária do gabinete de outro filho do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC).
“Na época o Jair falou pra mim que ele ia exonerar a Cileide porque a reportagem estava direto lá na rua e pra não vincular ela ao gabinete. Ai ele falou: Vou ter que exonerar ela mesmo. Ele exonerou e depois não arrumou nada pra ela, não? Ela continua na casa lá em Bento Ribeiro?”
A “Folha de S. Paulo” diz que Cileide Barbosa Mendes foi funcionária fantasma do gabinete de Carlos Bolsonaro durante 18 anos.
Conversas fariam referência a Adélio Bispo
O jornal “O Globo” diz que também obteve na íntegra um dos áudios, o que Queiroz compara as investigações do MP-RJ contra ele a um cometa.
A reportagem teve acesso também a mensagens de texto e afirma que, quando ele fala em “hiper protegido”, Queiroz se refere a Adélio Bispo.
Adélio Bispo é o autor do atentado contra o presidente Jair Bolsonaro, no dia 6 de setembro de 2018. A Polícia Federal concluiu que ele agiu sozinho e tem problemas psiquiátricos. Ele está internado em um hospital por tempo indeterminado.
“O Globo” diz ainda que, quando Queiroz fala que queria estar em Brasília para investigar, “botar um calunga”, ele estaria se referindo ao desejo de descobrir um suposto mandante do crime contra Jair Bolsonaro.
Na quinta-feira, o jornal O Globo divulgou uma gravação em que o ex-assessor fala sobre cargos que poderiam ser ocupados no Congresso.
“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado… Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles [família Bolsonaro] em nada. Vinte continho pra gente caía bem, pra c…, caía bem pra c… Não precisa vincular a um nome”, disse Queiroz, em gravação de abril.
O que dizem os citados
O advogado de Fabrício Queiroz diz que a conversa mostra que ele não tem vínculo político.
A defesa de Flávio Bolsonaro disse que não teve acesso aos áudios e que não pode confirmar a autenticidade do material. E que só pode se manifestar depois de ter acesso, na íntegra, a todo o conteúdo das mensagens.
A defesa de Flávio Bolsonaro afirmou ainda que não há qualquer irregularidade no gabinete dele.
A reportagem não teve retorno do Palácio do Planalto.