Os amigos e os vira-latas “Eduarda” e “Bruce”, que foram resgatados da porta de um hospital, complementavam a família do enfermeiro Antenor Neto, de 46 anos. O paciente não resistiu à Covid-19 e morreu em Sorocaba (SP). Dias antes, ele gravou um vídeo agradecendo o apoio na luta contra a infecção.
“Agradeço a cada um pelas orações e desejo de melhoras. Como é bom se sentir querido. Como é bom saber que tenho amigos. Na vida, o que mais importa é ter amigos”, disse Neto, como era conhecido, ligados aos aparelhos na gravação encaminhada aos amigos no dia 10 de junho.
Contudo, 14 dias após, o enfermeiro não resistiu e morreu na quarta-feira (24).
Alexandre Flauzino era amigo de Antenor há muitos anos. Segundo ele, o paciente começou a sentir os primeiros sintomas havia cerca de 12 dias, com dores no corpo e coriza. Antenor revezava entre o emprego recente, desde abril, em um hospital de Votorantim, e em um laboratório.
“Me disse que queria dar conta, pois ele queria trabalhar só como enfermeiro e assim que passasse a experiência e fosse contratado, ia poder descansar e curtir a vida.”
‘Vida era trabalhar’
Alexandre conta que antes de se profissionalizar na área de saúde, o amigo entregava balas em um laboratório de Sorocaba e sabia o horário em que o responsável estaria no local.
“Fez isso até conseguir o emprego. A partir daí ele foi crescendo como profissional. A vida dele era o trabalho. Com muita batalha e apoio dos amigos ele tomou coragem e fez faculdade de enfermagem e a formatura foi em 21 de setembro de 2018”, detalha.
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde de Sorocaba e Região lamentou a morte de Antenor Neto.
“Quem conheceu o Antenor sabe a pessoa maravilhosa que ele foi, parceiro e amigo […] Para nós, só resta a saudade e o sentimento de impotência, pois, assim como ele, muitos profissionais da saúde estão perdendo a vida por causa da Covid-19”, disse o texto.
Vida pessoal
Antenor morava na Vila Haro em Sorocaba, era solteiro e passou parte da vida procurando a família biológica. Ao G1, o amigo lembra que o enfermeiro era adotado e havia descoberto parentes em Frutal (SP), São José do Rio Preto (SP) e uma sobrinha em Sorocaba (SP).
“Uma família de Itu adotou ele. Logo depois da morte do pai , eles foram morar no circo. Por volta dos 15 anos, ele fez o curso de análise clínicas e depois foi morar em Sorocaba.”
Os dois se conheceram em 2008, quando a mãe de Antenor morreu por um câncer. Antes da doença, a mãe dele passou detalhes sobre a família biológica.
“Quando conseguiu achar, ele falou para mim que tinha encontrado. Depois de um tempo decidiu conhecer e foram criados os laços.”
O corpo do enfermeiro foi enterrado no cemitério São João, em Votorantim. Os vira-latas de estimação estão sendo cuidados por amigos.
Veja o vídeo: