A Câmara Municipal de Patos promoveu na noite dessa segunda-feira, dia 29 de abril, uma audiência pública para debater a greve dos professores e demais servidores técnico-administrativos do IFPB e UFCG, câmpus de Patos, que aderiram a paralisação nacional por reajuste salarial.
A audiência foi proposta pelo sindicalista e vereador Zé Gonçalves (PCdoB) e contou com as presenças de professores, demais servidores técnico-administrativos e estudantes dos cursos oferecidos pelas instituições de educação em Patos. “Uma audiência produtiva e que teve a participação de servidores e dos estudantes das duas casas de educação, oportunidade em que discutimos as pautas de reivindicações das categorias que estão na luta por reposição salarial e mudanças no Plano de Cargo, Carreira e Remuneração, mas também os problemas que afetam os estudantes, sobretudo a falta de transporte para que possam ter acesso às unidades”, reportou o vereador avaliando positivamente o encontro e prospectando um novo encontro para dar encaminhamento as pautas locais. “Na próxima reunião, vamos aprofundar a discussão em torno da falta de transporte e encaminhar essa demanda para a Gestão Municipal, pois existe uma grande contradição: por que os outros municípios disponibilizam ônibus para os estudantes do IFPB, UFCG e UEPB e Patos Não?”, questionou o vereador, responsabilizando a administração pública municipal, também, pela falta de transporte público na cidade. Ainda de acordo com Gonçalves, a falta de transporte tem contribuído com a evasão escolar e a baixa procura pelos cursos oferecidos especificamente no IFPB.
Pronunciamentos
O estudante Marcos Cordeiro, Presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil do IFPB, externou, em nome dos alunos da instituição, a preocupação do corpo discente coma falta de transporte. “O nosso direito de ir e vir, assegurado no artigo 5º da Constituição tem sido negado”, lamentou o estudante universitário, cobrando um posicionamento mais firme do Poder Legislativo Municipal para a solução do problema. “É justo que um aluno que mora no residencial Itatiunga tenha que implorar por carona, arriscando sua própria segurança, para conseguir chegar até o IFPB?”, indagou o aluno do 7º período de engenharia, lamentando, principalmente, a situação das meninas que correm risco iminente de assédios sexuais no trajeto, durante as caronas dadas por estranhos.
O servidor Macário Araújo fez uma rápida retrospectiva da educação nos últimos no país, apontando as dificuldades orçamentárias das Instituições Federais que vem se agravando ano a ano. “Nos dois primeiros governos do presidente Lula foram ampliados os programas de ampliação das universidades, com aumentos consideráveis dos orçamentos, realização de concursos públicos e melhoria das carreiras dos decentes”, apontou o servidor, contrastando com os últimos governos dos ex-presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro.
O bioquímico Wagner Alex, técnico-administrativo da UFCG, campus de Patos, citou o Art. 6º do Plano Nacional de Educação, que estabelece acessibilidade como um dos requisitos de acesso à educação, que na prática não se concretiza. “O deslocamento da sociedade menos favorecida até os Centros de Ensino se transformou em um clamor ano após ano, em processo de sucateamento na oferta dessa demanda de extrema relevância”, observou. “Os polos de ensino existem, mas não pudermos garantir esse deslocamento das pessoas de suas residências, de seus locais de trabalho, horário flexível, certamente em algum momento dessa etapa construtiva, será prejudicada”, acrescentou.
Já o professor Lavoisier Morais dissertou sobre o slogan brasileiro utilizado entre as décadas de 70 e 80 de que “o Brasil é país do futuro” que prometia altos investimentos no setor. “Nós fomos bitolados para acreditar que nossa geração mudaria a história de um país que por longos anos foi explorado, dilapidado e nossas riquezas roubadas levadas para outros países, mas que através da educação nós transformaríamos esse país”, rememorou o professor, apontando que ao longo desse tempo houve avanços, mas que ainda falta muito pra se alcançar uma educação de qualidade e transformadora.
Por fim, o diretor do IFPB Campus Patos, professor José Ronaldo Lima, esclareceu que como gestor não pode se posicionar contra ou a favor de um movimento paredista, mas reconheceu as dificuldades enfrentadas nas instituições federais. “No Brasil, as conquistas nas áreas sociais são mais sofridas e na educação não tem sido diferente”, lembrou. “O que nós almejamos é que a educação no Brasil seja uma política de estado e não de governo”, defendeu o gestor, lembrando que a alternância de governos com vieses ideológicos diferentes acabam privilegiado alguns setores em detrimentos de outros.
Ao final dos debates, Zé Gonçalves sugeriu a formação de um grupo, formado por representantes dos servidores e estudantes, que possa dá sequencia as discussões e encaminhamento das demandas aos setores competentes. “É importante darmos continuidade a essa luta. Não podemos parar por aqui e é importante mobilizar a população em tono dessas questões”, defendeu o edil.
Menos dinheiro
De acordo com estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 100% das universidades federais receberam, entre 2010 e 2022, valores inferiores ao necessário para manter o patamar de despesas por matrículas.
CM