O Brasil é o segundo país com a maior quantidade de advogados no mundo, ficando apenas atrás da Índia, que tem uma população muito maior que a nossa. Também padece de uma cultura cartorial e de alto grau e litigiosidade jurídica, que tornam o acesso ao Poder Judiciário algo a ser evitado, quando não impraticável.
Ainda assim, conflitos jurídicos acontecem todos os dias e há uma grande demanda por sua resolução. Nesse contexto, as fraudes de advocacia encontram terreno fértil para prosperar com o auxílio dos meios digitais.
Nelas, criminosos levantam informações públicas sobre casos na Justiça para sondar clientes, fazendo se passar por advogados.
O truque é persuadir a vítima usando informações de seu caso com o objetivo de conseguir uma transferência de dinheiro. A vantagem dos golpistas é evidente: explorar uma vulnerabilidade pessoal usando dados bastante pessoais e usando a credencial de um suposto especialista capaz de fornecer auxílio.
Variados abusos
A modalidade fraudulenta registrou 1.600 denúncias no estado de São Paulo entre 2024 e 2025 e 417 no Rio de Janeiro somente neste ano. Grande parte desses golpes envolve a promessa do recebimento de uma indenização inexistente num caso que tramita na Justiça.
Contudo, outras fraudes envolvem frequentemente compromissos de garantia de um resultado duvidoso. Promessas boas demais para serem verdade, como um prazo estranhamente curto para obter uma decisão judicial favorável são o tipo de ocasião que tipicamente encobre uma fraude advocatícia.
Falso serviço “pro bono”
A prestação de serviços de advocacia pro bono é algo real e legítimo. Há diversas motivações para essa atuação, dentre as quais fornecer uma defesa em corte a quem não tem os recursos necessários para pagar.
Porém, os golpistas podem se aproveitar dessa prática, adulterando-a para uma “permuta” daninha. Situações em que um escritório faz contato não solicitado e sujeitam seu serviço gratuito a um favor, ao preenchimento de um formulário ou a outros valores que não sejam honorários de serviço (eventualmente, até mesmo propinas) exemplificam esse tipo de fraude.
Prospecção virtual
A quantidade de serviços e comunicações feitas por meio virtual cresce para cada indivíduo todos os dias e é praticamente inescapável. Apesar de trazer muitas vantagens, também enseja que muitas informações pessoais fiquem à disposição de completos estranhos publicamente na internet.
É assim que muitos criminosos acham novas vítimas, cruzam os dados e desenvolvem abordagens convincentes para seus golpes. Portanto, receber um contato não solicitado de um escritório de advocacia para um caso jurídico é algo que inspira precaução.
Parte dessa trilha de dados, apelidada de “pegada digital”, é inevitável. Os dados processuais compilados no famoso portal JusBrasil são um exemplo disso, pois o site é abastecido com registros públicos.
No entanto, outra parte dessa “pegada” pode ser reduzida com ajuda da contratação de uma VPN. O serviço de VPN para o Brasil tem se tornado cada vez mais popular como uma maneira tanto de robustecer a cibersegurança quanto a privacidade digital. Com a ajuda desse instrumento de navegação segura, a quantidade de informações pessoais à disposição de golpistas para a prospecção de novas vítimas tende a diminuir.
Videochamada em golpe de engenharia social
O promotor de eventos David Brazil, por exemplo, movia uma ação contra uma companhia aérea por mais de um ano quando foi contatado por um golpista, informando-lhe que a causa estava ganha. O criminoso se apresentou como integrante do escritório que efetivamente o representava no caso, com linguagem convincente.
Em conluio com um parceiro que se fez passar por empregado da empresa aérea processada, fez uma videochamada para que a vítima informasse vários dados bancários e validasse depósitos supostamente para questões tributárias ligadas ao recebimento da indenização. Até que se constatasse ser um golpe, R$39 mil foram subtraídos de sua conta e houve uma tentativa de empréstimo indevido de R$130 mil.
Uma maneira de evitar esse tipo de fraude seria buscar pelas credenciais do advogado que entrou em contato. Checar o registro dele junto à OAB, contatar diretamente seu escritório e buscar por presença online dele seriam algumas das maneiras de fazer isso.
Falsa documentação
A promessa de receber rapidamente valores de um causa judicial também é o motor de outros golpes envolvendo falsa documentação. Uma vez estabelecidos o contato e a confiança de um golpista com a vítima, há casos de compartilhamento de um “protocolo judicial” digital para o recebimento de dinheiro.
Esses estelionatários apresentam uma chave Pix como se fosse o número um protocolo e convencem suas vítimas a “validar” o documento. Para tanto, devem inserir um “código”, que efetivamente é o valor de uma transferência a ser feito aos golpistas.
Conclusão
Os golpistas conseguem ser cada vez mais convincentes em suas fraudes. Reproduzindo jargões de Direito e eventualmente roubando a identidade de advogados de verdade, conseguem atrair novas vítimas. Assim, é sempre bom ter em mente que:
- O contato não solicitado é o primeiro alarme para fraudes advocatícias.
- Uma verificação rigorosa de credenciais é um dos meios mais eficazes de evitar golpes variados.
- Promessas de resultado judicial garantido são nulas.
- Antecipação de pagamentos e compartilhamento de dados bancários inspiram precaução.
- Robustecer a cibersegurança com VPNs, antivírus e boas práticas. online são uma boa prevenção a abordagens de golpistas.
Crédito do Artigo: Guilherme Figueiredo