Todo jornalista tem como obrigação noticiar a verdade e os fatos. Em situações assim, eles geralmente buscam se informar bem antes de publicar uma matéria, e nesse caso não parece ser diferente. Entretanto, não é difícil ver que muitas vezes são usados artifícios para tornar uma notícia mais atraente para o grande público e, em alguns casos, esses artifícios afastam a notícia da verdade.Pesquisando em vários portais nigerianos, é possível reconstituir os fatos e compreender porque esse incidente foi erradamente associado à um meteoro.Era madrugada de sábado, 28 de março na Nigéria. Um caminhão trafegava na estrada que liga as cidades de Akure à Owo, na Nigéria. O caminhão era escoltado por seguranças, pois transportava uma carga de explosivos que seria levado até uma instalação de armazenagem em um estado vizinho. Por volta da 01:00 da manhã, enquanto passavam pela periferia de Akura, a 2 quilômetros do aeroporto da cidade, seguranças e outros agentes notaram uma fumaça vinda do caminhão. O veículo foi parado e depois de inúmeras tentativas de extinguir as chamas, ele e sua carga se incendiaram, causando uma forte explosão que foi sentida em Akure e seus arredores. A explosão gerou uma enorme cratera de 21 metros que interrompeu a estrada. Uma igreja, uma escola e pelo menos 70 residências em um raio de 1 quilômetro foram danificadas. Ao menos 13 pessoas ficaram feridas, mas felizmente, ninguém morreu. Graças à incrível habilidade de fuga desesperada de uma explosão eminente, nem mesmo aqueles que tentavam apagar as chamas morreram na explosão.
Esta foi a versão foi apresentada pelo Governador do Estado de Ondo, Rotimi Akeredolu em uma série de tuítes postados ainda no dia 28 de março. Entretanto, mesmo uma semana após o incidente, a explosão em Akure continua a gerar uma série de controvérsias. E um dos principais motivos é o fato dos nigerianos não confiarem muito em suas principais autoridades.
Alguns autodenominados investigadores voluntários chegaram a cravar: “Foi um atentado a bomba do Boko Haram”. O Boko Haram é um grupo terrorista jihadista fundamentalista islâmico sunita de forte atuação na África. Entretanto, eles costumam ser um pouco mais competentes em seus atentados. Não tem o hábito de detonar grande quantidade de explosivos de madrugada em estradas vazias e deixando um total de zero mortos.
Não haveriam muitas dúvidas a respeito do ocorrido. Ao menos, não sobre o fato central de que a explosão teria sido causada por explosivos. Poderia-se questionar alguns detalhes, por exemplo, se os seguranças tentaram realmente conter as chamas ou se partiram logo para o “salvem-se quem puder”. Ou ainda, poderia-se questionar a origem das chamas. Havia algum fumante no comboio?
Mas tudo mudou de repente quando, ainda na manhã de sábado, chegou ao local o Professor de Geofísica e Engenharia Sísmica da Universidade Obafemi Awolowo, Adepelumi Adekunle. Enquanto o Governador Akeredolu orientava a população a deixarem a área devido ao risco de ainda haver algum explosivo enterrado, o Professor Adekunle e sua equipe analisaram todo o local do incidente e chegaram a uma conclusão completamente diferente:
“As evidências de campo apontam para a conclusão de que um meteorito oriundo do cinturão de asteroides, viajando no espaço a uma grande velocidade, impactou o local em um ângulo de 43° criando uma cratera e ejetando material na direção sudoeste” – concluí Adekunle.
Segundo ele, colaboram para suas conclusões o fato de não haver nenhuma evidência de veículo enterrado nem ter sido encontrado algum tipo de detonador. Sua equipe encontrou fissuras com espessura de 3 milímetros a 4 metros na parede da maioria dos edifícios, mas não na base dos edifícios. A maior parte da destruição ocorreu na parte superior e nos tetos dos edifícios. Também relatam terem encontrado “rochas estranhas e objetos metálicos estranhos” no interior da cratera.
Não importa o quão absurda seja a teoria do Professor Adekunle, não importa o quão frágeis são os argumentos frente à enorme quantidade de evidências que a versão oficial sustentava. A mais fantástica das hipóteses foi, de fato, a que ganhou a mídia. E mesmo nas matérias que evidenciavam o absurdo dessa teoria, usavam-na para estampar suas manchetes e assim, chamar a atenção do leitor.
Quem quiser, pode ver a explanação do Professor Adekunle nesse vídeo gravado no local do incidente: https://youtu.be/D3i9JmsJhMIDepois de assistir a tão convincente explicação do Professor Adekunle, ainda mais se você conseguir compreender esse inglês falado por ele, pode ser que tenha ficado alguma dúvida sobre a origem da explosão. De fato, se você não quiser acreditar na versão oficial das autoridades locais, pode até divagar por diversas teorias conspiratórias, mas fica difícil entender porque o governo assumiria uma falha desastrosa, que destruiu dezenas de casas e feriu várias pessoas, para esconder um fenômeno natural e improvável que seria o impacto de um meteorito.
Além disso, para esconder um impacto, o Governo da Nigéria precisaria de um trabalho bem mais pesado do que simplesmente inventar uma outra versão.
No meio científico dos que estudam esses fenômenos, costuma-se dizer que um meteoro grande o suficiente para causar uma cratera não cai impunemente na Terra. Para gerar uma cratera, o meteorito precisa atingir o solo em uma velocidade supersônica, e isso só ocorre em objetos grandes o suficiente para não serem completamente consumidos nem freados completamente pela atmosfera da Terra. Só que quando isso ocorre, gera um grande meteoro que brilha intensamente e pode ser visto a centenas de quilômetros de distância. Isso significa que inúmeras pessoas poderiam ter visto, e várias câmeras de vigilância pela Nigéria, e até mesmo em países vizinhos, poderiam ter registrado o meteoro caso ele tivesse realmente acontecido. A passagem do meteoro em velocidade supersônica pela atmosfera geraria também uma onda de choque que poderia ser escutada em um raio de até 100 quilômetros do local do impacto e certamente causaria estragos em uma área bem mais abrangente que a que ocorreu em Akure.