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Há idiotices que ganham repercussão na Internet e nos instigam a querer rebater ou tecer algum comentário. Evito – a muito custo, devo ressaltar – fazer isso na própria rede, no local destinado aos comentários de pé de enunciado. Penso que, sem a aplicação de um mínimo freio, estar contribuindo para o prolongamento da discussão, dando margem a réplicas, tréplicas e, em momentos de maior exaltação, xingamentos e baixarias.

Penso ademais dar cabimento desnecessário a um “público” cujo nível de leitura não ultrapassa as parcas e mal traçadas linhas ali expostas. Um desgaste inteiramente desnecessário. Assim como se trocar por gente incapaz de ouvir ou participar de algum fórum de discussão sério. A rede sempre me pareceu arena propícia a equivocados e amantes do anonimato. É terrível e frustrante fazer um comentário em perfil aberto e receber uma resposta de alguém que se assina por uma sigla impronunciável.

Essa recusa em entrar em discussões inócuas nas redes é que me impediu de tecer comentários abertos sobre dois sucessos dos últimos dias: O primeiro sobre a polêmica fala da MC Pipokinha (Quem mesmo? Muito desprazer?) sobre os professores, tecendo uma comparação rasteira entre seus ganhos e a renda daqueles profissionais. O segundo, sobre as alunas patricinhas (ainda se usa esse adjetivo?) de Faculdade no interior de São Paulo que debocharam do colega de sala por ostentar a “avançada” idade de 44 anos.

Na última vez em que postei algo sobre um desses astros da nova geração de sub-celebridades, a rede se revoltou. Começaram me chamando de “gari” e, nesse expediente recorrente, compararam meus ganhos (mensais) aos cachês (horários) do “astro” alvo da crítica naquele momento. Concluí: fiquem com sua música e seus milhões; deixem-me com minha mixaria e meu senso estético preservado. Só não me peçam oração pra defunto ruim. Tem milhões, em caso de decadência, paguem pelas palmas, velas e lágrimas.

A tal pipoquinha utilizou da mesma moeda do anônimo acima ao comparar seus ganhos com os dos professores. Faltou a ela o tirocínio de que os “dinheiros” que aufere por shows pagam por duas estéticas, afinal, ninguém vai ao baile funk apenas pela música. Há que haver um outro apelo, digamos, de performance corporal  e escultural do rebolado. Professores ganham míseros para contribuir com a formação de gentes e, até bem maduros já caindo do pé, continuam com seu ofício e profissão de fé. Vão dizer que exalo preconceito quanto ao gênero e aos artistas. Juro que não! Continuo torcendo para ver, um dia, uma velhusca aponevrótica auferir os mesmos ganho astronômicos por uma performance sensual funky.

Quanto às demoiselles da faculdade só cabe dizer que elas soam muito arcaicas, em termos de mentalidade, para usufruir em plenitude os tempos em que vivem. No recorte de tempo, onde se propagam as universidades da terceira idade (área que a vítima do escárnio  ainda não está habilitada a frequentar) e pipocam nas redes exemplos de gente grisalha se formando, mudando de carreira, iniciando outros empreendimentos, é de se pensar que as moças estão desatualizadas em termos de vida que corre. Andam, sim, contaminadas pelo preconceito e encharcadas do complexo geracional, uma variação do Peter Pan da ficção. Aqui o cérebro danificado pensa que a juventude, ora exibida, durará para sempre.

O grande mistério da existência é que ela não suporta determinismos. A crítica à colega, penso, deve ter sido feita pelo pressuposição de que a mesma, pela idade apresentada, pode não vir a exercer a profissão tal qual as “novinhas”, hábeis no disparo desgovernado de reels e tik toks. Potencialmente, aquelas estariam mais propensas a ocupar postos profissionais, dada a idade e quiçá outros atributos.

Ora, analisando friamente, nada garante também que elas mesmas venham a exercê-la, tal o número de variantes que podem interferir nos seus brilhantes planos. Comecemos objetivamente pelo aproveitamento dos estudos, domínio dos conteúdos  e grau de competência e habilidades apresentadas ao final do curso. Afora alguns outros senões da orla dos impremeditados e imprevisíveis. A existência é mestra em pregar peças e desenganar otimistas prepotentes  O médico oncologista que determina o tempo de vida de um terminal se baseia, claro, na taxa de avanço da enfermidade; esta, por sua vez, caprichosa. muitas vezes faz qualquer prognóstico cair por terra.

Por Edson de França 

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