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No rol dos filhos adotivos de Patos, encontramos uma das figuras mais folclóricas da história que pelo nome de batismo não está contido na lembrança de muitos, no entanto com relação a sua denominação natural jamais será esquecido. Severino Sales de Medeiros nasceu no Sítio Gatos, município de Santa Luzia, em 07 de agosto de 1922. Filho de José Hidelfonso de Medeiros e Teodora Carolino Medeiros conheceu a pobreza em sua amplitude para deixar uma lição de fé e dignidade. Teve na agricultura de subsistência a primeira atividade junto aos seus familiares, trabalhando em um trecho rural de sua terra natal.

Com o crescimento das dificuldades, justificado pelos longos períodos de estiagem, rumou na companhia dos genitores e irmãos para a cidade de Patos, cuja chegada data do ano de 1960. Pela vivência do mato, Severino Sales de Medeiros passou a ser procurado por vizinhos que acreditavam na eficácia das ervas naturais, no sentido de que viabilizasse alguns remédios do tipo. Paralelo ao emprego de jardineiro que conseguiu na prefeitura, passou a oferecer o referido produto de porta em porta.

Transformou-se em um pedinte com estilo e, dessa forma, ajudou, consideravelmente, aos pais e seis irmãos, dos quais dois paralíticos que dele dependiam em todas as necessidades. Tinha uma frase característica durante a peregrinação diária: “Esmola dos paralíticos. É o Dr. Severino e a venta do menino”. Ao tempo em que recebia as ajudas, consultava as pessoas para problemas que classificava como: estombo duro, caganeira, frieira, hemorróida de botão, dentre outros. Com isso ganhou o respeito da classe médica que passou a tratá-lo de colega.

Dotado de criatividade o Dr. Raiz, como era mais conhecido, inventou uma terapia ocupacional para os irmãos deficientes que lhe davam bastante trabalho: ao final de cada coleta misturava o feijão com o arroz para que eles separassem. Outra particularidade que o tornou pitoresco em meio à população era o fato de afirmar com segurança que dominava a língua inglesa, dentro de um dialeto imaginado por ele. Citava frases sem qualquer sentido e, mais adiante, insinuava uma tradução para o português.

Outro ponto que lhe inseria no folclore estava relacionado à fama de namorador que tentava passar para os menos avisados. Dizia ele que estava namorando uma negra zarolha, daquelas que ao olhar para o sábado já estava vendo o domingo, com a qual passaria a lua de mel em João Pessoa, pegando todas as cruvianas da Praia de Tambaú e se racharia de carinho na areia. Sempre entoava um samba que teria feito em homenagem a sua amada imaginária, intitulado “Gosto de uma Morena”. Nos planos dois filhos: Maria de Fátima para ser chamada de Fatisminha e João de Deus.

O Dr. Raiz perdeu os pais ainda na década de 60 e manteve os irmãos até que Deus os levou. Com o avançar dos anos e já adoentado, foi amparado por uma sobrinha, com a qual residiu até os seus últimos dias de vida, no bairro de Monte Castelo. Faleceu no dia 16 de agosto de 2001, na UTI do Hospital Regional de Patos.

Pela sua grandeza de espírito e grau de humildade, não chegou a figurar na galeria dos que se dizem grandes homens, mas está fincado no coração de Patos, através dos que tiveram a oportunidade de usufruir da sua inteligência e continuam a admirar o seu exemplo.

Letra do Samba “Gosto de uma Morena”

Gosto de uma morena ô!/ela é de Copacabana/ gosta de andar bacana/ Toda semana ela faz um vestido bem alinhado/ é de godê e de babado/ Quando ela passa todo mundo fica embelezado/ e eu admirado/ de ver uma morena tão boa/ que parece uma patroa/ e eu empregado/ Ia passando uma vizinha me chamou/ venha cá meu nego/ que eu Tenho uma história para lhe contar/ e é de sua sabedoria escolar/ que aquela morena que você está namorando/ é preciso ter cuidado/ que ela é das tais que namora e não quer casar/ ela só quer embelezar/ Tudo o que ela tem não lhe custou um vintém /
o namorado é quem dá.

Damião Lucena – Patos em Revista

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