Psicólioga Carla Cavalcante (Foto: Arquivo pessoal)
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No meio de um dia qualquer, Carla Cavalcante senta em um lugarzinho de sombra da praça e muda a paisagem do lugar convidando ao inusitado. A psicóloga usa um banner com os dizeres “Escuto histórias de amor” para captar os corações que passam. A ideia não é atrair somente amantes apaixonados, mas qualquer pessoa disposta a desnudar o peito dividindo alguma experiência, das mais diversas possíveis, de amor.

O projeto voluntário é inspirado no homônimo da artista Ana Teixeira, de São Paulo. Nas ruas da maior capital do país e também fora do Brasil ela se põe a fazer tricô enquanto ouve as histórias. Aqui, Carla realiza o projeto há dois anos, mas não tem dias certos ou períodos constantes para fazê-lo. Quando o tempo permite e o coração manda, ela se equipa com o banner e a capacidade da escuta e vai até uma praça ou espaço público de Juazeiro do Norte, cidade do Ceará onde mora, ou do Crato, município vizinho, aguardar as histórias.

“Receber o exercício da escuta” mostra como Carla ressignifica o projeto: uma prática de (auto) conhecimento e um laboratório para ela, psicóloga profissional que atua em clínica e em uma faculdade da região. “É o maior crescimento pessoal que tenho tido. Escolhi as ruas pra escutar e aperfeiçoar o exercício da minha profissão”, afirma.

O sonho da profissional é ir além do Cariri cearense e alcançar as histórias de amor pelo mundo, assim como Ana Teixeira. Quer viajar e levar o projeto junto, mas, enquanto ainda não é possível se desloca pelo sertão em feiras e eventos culturais.

Não busco só histórias romantizadas de relacionamento, escuto muito, mas também essas outras representações do amor, as outras formas que a gente consegue amar, a família, as coisas simples que a gente ama”, expressa.

Em uma das vezes esse amor veio nos versos de um jovem que chegou declamando uma poesia. “Tinha uns 22 anos, chegou no banco fazendo uma poesia da história dele. Relatou a história de uma mulher que não conseguia se aproximar do rapaz e ter o ato de abraçar, que pra ele é um ato de amor. No fim ele conta que essa mulher é a mãe dele, e que ela não conseguia fazer esse movimento porque passava o dia carregando o balaio de frutas pra levar pra feira e à noite o braço tava cansado”, lembra Carla.

Outra vez se revelou na visão pura e estreante de quem está vivendo o primeiro amor da vida. Um menino que sofria porque a primeira paixão ia mudar de escola deixou uma lição, recorda a psicóloga.

Futuramente, Carla pretende escrever um livro sobre a escuta e a experiência. A trama deve se pautar no que as histórias provocaram e ensinaram à psicóloga. “Já tenho começado a rascunhar algumas coisas. O foco é como eu me sinto ouvindo as histórias, como aquelas histórias mexeram comigo, como chegaram. Até pra manter a história das pessoas, confiadas a mim, no lugar delas”, idealiza.

G1 CE

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