Irmãos venezuelanos, de 9 e 11 anos, e amigo, de 12, seguram caixa com alimentos que conseguiram pegar no meio do lixo em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela (Foto: Emily Costa/G1 RR)
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O dia ainda amanhece quando três crianças venezuelanas andam pelas ruas de Pacaraima, na fronteira do Brasil. Não carregam mochilas e nem vestem fardas. Ao invés de irem à escola – que já não frequentam há meses – catam no lixo sobras de comida.

“Nossa mãe não tem trabalho. Ela vendia café na rua, mas perdemos tudo quando queimaram nossas coisas”, diz uma menina venezuelana de 11 anos se referindo aos ataques do último sábado (18). “Procuramos comida, latinhas e coisas para vender”.

Junto com o irmão de 9 anos, e um amigo de 12, ela revirava lixeiras em busca de comida na manhã desta quarta-feira (21) na Rua Suapi, principal ponto de comércio em Pacaraima.

“Também pedimos comida, o que sobra, o que as pessoas não comem aqui e ali”, conta a garota apontando para duas padarias nos arredores.

Ela, os netos e outros venezuelanos não dormem mais nas ruas de Pacaraima há quatro dias. Estão ficando na casa de uma moradora, também venezuelana, e o que as crianças conseguem em meio aos entulhos é dividido entre eles.

No sábado, o assalto a um comerciante brasileiro supostamente cometido por quatro venezuelanos, e a falta de ambulância para socorrê-lo revoltou moradores.

Nos ataques, alimentos, roupas e outros pertences que estava em acampamentos foram incinerados.

Lá e em outras lixeiras que reviraram acharam cenouras estragadas, batatas-doces, um pimentão murcho, e alguns poucos temperos.

“Depois que encontramos levamos para a nossa mãe e ela cozinha. Às vezes é sopa e dividimos”, diz a irmã que chegou a Pacaraima há poucos dias.

“O governo federal tem que se empenhar muito mais para garantir a integração local e uma acolhida digna para os refugiados venezuelanos que estão em Roraima e intensificar a interiorização dos que desejam reconstruir a vida em outras cidades brasileiras”, avalia Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas Direitos Humanos

Na cidade não há abrigo infantil, mas o prefeito Juliano Torquato diz que as fiscalizações são constantes tanto na cidade, quanto na fronteira. Em média 180 crianças passam por lá todos os dias, estimou a Polícia Federal em fevereiro.

“O conselho tutelar orienta os pais para que não deixem os filhos na rua, nem permitam que eles peçam esmola ou trabalhem. Estamos sobrecarregados, mas vamos fiscalizar mais”, disse Torquato.

Para ele, os ataques de sábado foram o reflexo do cansaço da população.

 

G1

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