Ângela Christiany Nobre Palácio estava em posto de combustíveis quando homens encapuzados chegaram atirando no bairro Cristo Redentor — Foto: Reprodução
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Ângela Christiany Nobre Palácio, de 24 anos, morreu vítima de bala perdida na madrugada desta terça-feira (25) em um posto de combustíveis quando homens encapuzados chegaram atirando, no Bairro Cristo Redentor, em Fortaleza.

Filha de uma brincante do Maracatu Solar, a jovem foi homenageada na tarde desta terça-feira (25) antes da apresentação do bloco pelo cantor Pingo de Fortaleza. O Maracatu Solar é uma das agremiações que desfila no carnaval de rua de Fortaleza.

De acordo com testemunhas, a jovem saiu de casa e foi à loja de conveniência do posto de combustíveis vizinho à residência, quando ocorreu o tiroteio. A mãe de Christiany teria voltado para casa mais cedo para ficar com os netos e, assim, a jovem poder sair para se divertir no carnaval, disse o cantor Pingo de Fortaleza, que organizou a homenagem.

Integrantes do bloco Maracatu Solar fizeram um minuto de silêncio antes da apresentação do cantor, que já estava programada para acontecer no local. “Mais paz, mais justiça social, mais arte e mais educação”, pediu um dos organizadores acompanhado de aplausos.

Christiany era casada e deixa dois filhos.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) disse “que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga a morte” de Christiany, e que um inquérito já foi aberto. Até a publicação desta reportagem, nenhum suspeito foi identificado.

Homicídios no Ceará

O número de assassinatos no Ceará chegou a 170 durante o motim de policiais militares, que completou oito dias nesta terça-feira (25). Só na segunda-feira (24), 23 mortes foram contabilizadas no estado. O governo cearense divulgou o balanço atualizado de mortes na manhã desta terça, com dados do período entre meia-noite de quarta-feira (19) e 23h59 de segunda.

O motim começou na terça-feira (18), quando homens encapuzados que se identificam como agentes de segurança do Ceará invadiram e ocuparam quarteis, depredando veículos da polícia. Policiais militares reivindicam aumento salarial acima do proposto pelo governador Camilo Santana.

O motim e movimentos grevistas são proibidos para policiais, conforme a Constituição Federal. Um entendimento de 2017 do Supremo Tribunal Federal reforçou a proibição desses atos por parte de categorias militares.

Os 170 homicídios registrados no motim da PM em 2020 já representam um aumento de 37% em relação aos casos registrados durante a última paralisação de PMs no Ceará, em 2012. O movimento daquele ano durou sete dias (de 29 de dezembro de 2011 e 4 de janeiro de 2012), um a menos que o atual, e teve 124 assassinatos.

‘Situação sob controle’

Na manhã de segunda-feira (24), o ministro da Justiça, Sergio Moro, esteve em Fortaleza para acompanhar a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Ceará, junto com o governador Camilo Santana e os ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e da Advocacia-Geral da União, André Luiz Mendonça.

Durante entrevista, Moro afirmou que, apesar do aumento do número de crimes violentos, não há “absoluta desordem nas ruas” e que a situação “está sob controle”. Moro disse ainda que as Forças Armadas estão no Ceará temporariamente, até que a paralisação de parte da Polícia Militar seja resolvida.

Agentes afastados

Até esta terça-feira (25), 230 policiais foram afastados das funções por envolvimento no motim, com a instauração de Processos Administrativos Disciplinares (PADs) pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD). Destes, 150 são soldados, mas a lista também inclui cabos, sargentos e subtenentes.

Os afastamentos, a princípio, são preventivos e devem durar 120 dias. As investigações apuram práticas “de ato incompreensível com a função pública, gerando clamor público, tornando os afastamentos necessários à garantia da ordem pública”, segundo o Diário Oficial do Estado (DOE).

Nesta terça, a Secretaria da Segurança Pública informou que já realizou a prisão de 47 policiais, sendo 43 agentes presos por deserção, que é o abandono do serviço militar; 3 presos por participar em motim; e 1 PM preso por queimar um carro particular.

Resumo:

  • 5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
  • 31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
  • 6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
  • 13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
  • 14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
  • 17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
  • 18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
  • 19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.
  • 20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.
  • 21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.
  • 22 fevereiro: Ceará soma 88 homicídios desde o início do motim. Antes do movimento dos policiais, a média era de seis assassinatos por dia. Governo do Ceará anuncia afastamento de 168 PMS por participação no movimento.
  • 23 de fevereiro: 37 policiais ‘desertores’ são presos por faltarem chamada para fazer segurança no carnaval.
  • 24 de fevereiro: ministro Sergio Moro visita Fortaleza para acompanhar a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

G1 CE

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