A febre e as dores pelo corpo fizeram com que o médico Danilo Bargieri, de 35 anos, desconfiasse que poderia estar com o novo coronavírus. Morador de Praia Grande, no litoral de São Paulo, o clínico geral realizou o exame, que atestou positivo para doença, na última quarta-feira (1). Ele relata o sentimento de impotência dos profissionais de saúde ao terem que lidar com a doença sem os equipamentos necessários na saúde pública.
Desde o dia 25 de março, ele passou a apresentar alguns sintomas, como tosse seca, dor de garganta, além de febre e dor no corpo. Como não melhorava, ele decidiu realizar o teste de secreção em um laboratório particular, em Santos, na última sexta-feira (27). Ele descobriu o diagnóstico no trânsito. “Com o carro parado no semáforo, abri o resultado no celular. Quando soube, corri para a casa e não saí mais”, relata. Segundo ele, é muito provável que tenha sido infectado enquanto fazia atendimento.
“De certa maneira, como médico, você está exposto ao vírus. A rede pública em todo o país está com falta de equipamentos para os profissionais da saúde. Poderíamos estar expostos, mas com materiais para trabalhar. Diante disso, a gente se sente impotente”, desabafa Danilo.
Outro ponto exposto pelo clínico é a questão psicológica das equipes que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. “O medo é uma constante para esses profissionais. O clima para quem trabalha não é dos melhores. Os profissionais estão todos desesperados, além do medo de contrair o vírus tem a questão familiar. Eles têm medo de pegar a doença e acabar passando isso para os familiares”, afirma.
“Tem que agir como profissional. Tudo muda quando estamos na Unidade de Pronto Atendimento. Você acaba dividindo um pouco as dores com as pessoas. Eu já peguei várias pessoas da saúde chorando nos corredores por medo de pegar a doença”, declara. Segundo ele, esse medo está associado ao vírus, mas também a falta de estrutura no sistema público de saúde do país. “A infraestrutura eu não consigo mudar e isso me deixa impotente e chateado”, confessa.
Diante do cenário atual com relação ao coronavírus, o médico faz um alerta a população para que todos se atentem aos cuidados diários de higiene, usem álcool em gel e máscaras para se proteger. “O melhor conselho que eu daria nesse momento é: se possível, fique em casa”, finaliza.
Coronavírus na Baixada Santista
A Baixada Santista já tem 77 casos confirmados do novo coronavírus e mais de mil casos suspeitos da doença sendo monitorados. O Comitê Metropolitano de Contingenciamento do Coronavírus da região, formado pelos prefeitos das nove cidades, anunciou no último dia 19 nove medidas preventivas para evitar a transmissão do coronavírus na cidade, incluindo a restrição total às praias da região.
Além disso, dentre as ações, os municípios determinaram o fechamento de hotéis, shoppings, academias, igrejas e casas noturnas. Eventos públicos e privados, além de aulas nas escolas municipais e atividades nos equipamentos públicos já haviam sido cancelados em um anúncio da reunião do comitê no dia 16 de março.
Nesta terça-feira (31), os prefeitos das nove cidades da Baixada Santista se reuniram novamente para definir novas medidas de combate ao coronavírus na região. Eles decidiram manter o isolamento e as restrições ao comércio até o dia 7 de abril. Além disso, os prefeitos irão cobrar maior agilidade no resultado dos exames e definiram outras medidas que serão aplicadas na área da saúde, educação e comércio.