Em 23 dias, filho e pai morrem com coronavírus em Ferraz de Vasconcelos — Foto: Reprodução/Facebook
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Em um intervalo de 23 dias, o novo coronavírus (Covid-19) provocou a morte de filho e pai em Ferraz de Vasconcelos. Aleksandro Silva de Almeida, de 42 anos, e Valdenor Sousa de Almeida, de 71, moravam na mesma casa e trabalhavam juntos como encanadores em obras de construção civil.

De acordo com Celiana Pereira de Sousa, com quem Aleksandro foi casado por 13 anos, o ex ainda enfrentou dificuldades para conseguir um atendimento adequado. Ele passou por três hospitais e chegou a ser liberado para casa, após o primeiro atendimento, quando já tinha sintomas da doença.

Após 23 dias da morte do filho, Valdenor, que era hipertenso e tinha diabetes, também morreu. Para Celiana, o enterro rápido, sem velório, é um dos momentos mais dolorosos para as famílias de quem partiu por causa da Covid-19.

“Vai o mínimo de gente. Numa situação dessa, ninguém quer comparecer mesmo ao sepultamento. No do meu ex-sogro tinham quatro pessoas. Do meu ex-marido umas 10. Bem pouca gente. E o isolamento social continua”, afirma.

“O corpo sai do hospital, a funerária pega. Quando chega no cemitério, é direto para a cova. É horrível. Uma sensação horrorosa”.

Celiana e Aleksandro tinham um filho de 12 anos. Estavam separados desde 2017, mas tinham uma boa relação. Aleksandro também deixou outros dois filhos de outro relacionamento.

Ele era o único filho de Valdenor e, desde o divórcio, morava com os pais. “Ele trabalhava bastante. Não tinha horário. De dia, a noite. Os dois trabalhavam direto, em sintonia. Eram pessoas maravilhosas”, conclui a enfermeira.

Dificuldades no atendimento

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Aleksandro Almeida tinha 42 anos e morreu por causa da Covid-19 em Ferraz de Vasconcelos — Foto: Reprodução/Facebook

Celiana, que é enfermeira, soube do estado de saúde do ex-marido por meio do filho do casal, que tem 12 anos. O garoto comentou que o pai havia buscado atendimento no Ambulatório Médico Ambulatorial (AMA) de Guaianazes depois de apresentar sintomas, mas que havia voltado para casa.

“Ele foi ao médico, com queixa de gripe, diarreia, dor no corpo. O médico mandou embora, avaliou, medicou. Mandou embora dizendo que era virose. Esses atendimentos públicos de saúde, muitas vezes, infelizmente, é isso que acontece”, comenta a mulher.

Na mesma semana, Aleksandro piorou e voltou ao AMA, onde foi internado. A enfermeira aponta, no entanto, que ele não foi bem atendido e que os médicos sequer coletaram amostras para a realização do teste da Covid-19.

“Nesse dia eu fui para o plantão no hospital, minha irmã foi para outro hospital e a gente falou ‘temos que tentar puxar ele para um dos hospitais que a gente trabalha’. Foi isso que aconteceu. Ele chegou a passar 24 horas no AMA, em um atendimento péssimo, internado e sem exame”

O paciente conseguiu uma transferência para o Hospital Doutor Alípio Corrêa Netto, no distrito de Ermelino Matarazzo, em São Paulo. Foi internado na emergência, passou por exames e recebeu medicamentos. No entanto, o estado de saúde piorou e ele precisou ser transferido pela terceira vez.

Dessa vez recebeu atendimento no Hospital Municipal Tide Setubal, também em São Paulo, que é referência em tratamento dos casos de coronavírus. Ele precisou ser entubado, chegou a apresentar melhora, mas voltou a piorar e morreu no dia 20 de abril.

Celiana, no entanto, diz que o ex-marido morreu durante a noite, mas que ninguém foi comunicado. A notícia só foi dada quando pessoas da família foram na própria unidade, no dia seguinte, para saber o estado de saúde dele.

“Ele piorou bastante e chegou a ser entubado, infelizmente. Se agravou cada vez mais, só que um dia, no dia 19 [de abril] deram a informação de que ele estava melhorando. No dia 20 [familiares] foram buscar informação sobre ele às 17h e disseram que ele estava melhorando. Quando foi no dia 20, 22h40, ele veio a falecer. No dia 21, só depois que apareceu alguém lá às 17h, é que informaram o óbito dele”, relembra.

Sobre o atendimento na AMA de Guainazes e no Hospital Tide Setubal, a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Coordenadoria Regional de Saúde Leste, informou que “lamenta a perda do paciente e se solidariza com a família de Aleksander Silva de Almeida. A pasta afirma que será aberta uma averiguação preliminar para apurar todos os procedimentos adotados nos atendimentos realizados ao paciente”.

Pai com sintomas

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Valdenor Almeida tinha 71 anos e morreu 23 dias após o filho — Foto: Reprodução/Facebook

Após a morte do filho, Valdenor também recebeu orientações da ex-nora quanto aos cuidados que precisaria tomar. Como vivia na mesma casa que o filho, a família temia que o idoso ou a esposa também se contaminassem com a doença.

Celiana diz que o ex-sogro começou a sentir fraqueza e febre alta. Em duas semanas estava internado em um Hospital de Poá. Ela diz que ele demorou para buscar atendimento e que, por isso, chegou em estado grave. Precisou ser internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e foi entubado.

“Os parâmetros dele pioraram bastante. A pressão estava muito baixa. Ele ficou uns três dias em Poá e constou que o rim dele estava quase parando e o médico falou que, talvez, precisasse dialisar e tinha que ser transferido”.

Valdenor conseguiu uma vaga para o Hospital Geral de Francisco Morato, a mais de três hora de distância, de carro, da casa da família. Assim como Aleksandro, o pai chegou a melhorar, mas não resistiu.

“Infelizmente aconteceu a mesma coisa. No dia 13 de maio a cunhada dela foi no hospital. Falaram que ele estava bem, que o pulmão estava bom. Estava respondendo aos antibióticos, só a pressão que estava baixa”, relembra.

“Quando foi às 23h, mais ou menos, a minha ex-sogra recebeu a ligação do hospital chamando ela para conversar sobre o quadro dele, que tinha piorado, e levar a documentação. Quando chama para levar a documentação, é porque veio a óbito. Elas foram no dia seguinte. Chegou lá e, realmente, ele havia morrido”.

G1 SP

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