Ex-ministro Abraham Weintraub (Foto: Presidência da República)
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A associação dos funcionários do Banco Mundial (Bird) enviou uma carta nesta quarta-feira ao comitê de ética da instituição contrária à nomeação do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para o cargo de diretor-executivo do banco. A entidade representativa pede que a indicação seja suspensa até que acusações contra o economista brasileiro sejam analisadas pelo comitê. Apesar das resistências, Weintraub não deverá, porém, enfrentar grandes dificuldades para se eleger e cumprir, até o próximo mês de outubro, o restante do mandato de Fábio Kanczuk — que deixou a função para ser diretor de Política Econômica do Banco Central.

No documento, a associação diz que “muitos funcionários estão profundamente perturbados” com algumas atitudes do ex-ministro, entre elas o tweet em que culpa a China pela pandemia do novo coronavírus. A carta também menciona o fato de Weintraub ter sugerido a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de ter feito pronunciamentos públicos contrários aos direitos de minorias e a promoção da equidade racial.

A associação ressalta que, “apesar de essa nomeação ter sido condenada por múltiplos países clientes”, os funcionários do banco entendem que a indicação é uma prerrogativa do governo brasileiro. Mas fazem uma ressalva, afirmando que os membros da diretoria do banco precisam seguir o Código de Ética da instituição, tanto em sua vida privada, quanto em sua vida profissional.

“Nós, por isso, pedimos formalmente que o Comitê de Ética analise os fatos por trás das múltiplas alegações, com vista a (a) suspender sua nomeação até que as alegações possam ser analisadas, e (b) assegurar que o Sr. Weintraub seja informado que o tipo de comportamento que ele é acusado é completamente inaceitável nessa instituição”, afirma a associação.

Os funcionários do banco ressaltam ainda que o Banco Mundial tomou medidas recentes para eliminar o racismo na instituição. “Isso quer dizer um comprometimento de todos os funcionários e membros da diretoria a denunciar o racismo quando presenciá-lo”. “Nós acreditamos que o Comitê de Ética compartilha essa visão e fará o possível para cumpri-la”, completa.

A pressão dos funcionários do banco se soma à carta enviada na semana passada com quase 300 assinaturas de representantes da sociedade civil no Brasil às embaixadas de países que integram o grupo, em Brasília, com um apelo para que o ex-ministro não seja eleito para o cargo. Segundo o documento, a gestão de Weintraub no MEC foi “destrutiva e venenosa”.

Eleição quase garantida

Apesar das resistências, o ex-ministro não deve ter problemas no conselho de ética do Banco Mundial e grande dificuldade para se eleger por sua atuação no passado, mas terá de andar na linha quando assumir o cargo, sobretudo nas redes sociais, explicou uma fonte próxima à instituição. É que, dependendo do que o ex-ministro da Educação brasileiro falar ou fizer, conta essa fonte, ele arriscaria ser demitido.

Por ora, o Brasil não precisa de apoio dos outros países da cadeira que ele irá ocupar, que são Colômbia, Equador, Panamá, Suriname, Haiti e Filipinas. Esses países querem ganhar tempo e podem se abster sobre o assunto, diz uma fonte colombiana.

Weintraub, contudo, terá de conter seu estilo agressivo, se quiser pleitear uma recondução por mais dois anos, em nova eleição em novembro. Caso contrário, vai se deparar com a resistência de parte dos oito países que integram a cadeira do Brasil, especialmente os latino-americanos, que recebem fortes investimentos da China.

Segundo integrantes da equipe econômica, não há muito o que fazer caso a indicação de Weintraub seja negada. Um interlocutor explicou que o ministro já fez o que era possível em relação ao ex-colega, que era encaminhar o nome ao organismo internacional. Agora, só resta esperar pelo resultado da votação. Em caso de negativa, Guedes indicará outra pessoa para o cargo.

Ainda não há, no entanto, uma definição sobre quem seria o plano B para ocupar a posição. A rejeição do nome de alguém indicado pelo Brasil seria algo inédito na história do Bird.

— A instituição pode reagir a coisas que sejam feitas ou faladas por quem já está lá, não antes — disse o ex-vice-presidente e ex-diretor-executivo do Bird, Otaviano Canuto.

Oposição de países que não votam

Para Nelson Franco Jobim, professor de pós-graduação em Relações Internacionais das Faculdades Hélio Alonso, Weintraub corre o risco de enfrentar a oposição de países que não votam na diretoria em o Brasil é representado, mas podem exercer algum tipo de influência. É o caso da China. Há cerca de dois meses, por exemplo, em uma rede social,o então ministro da Educação imitou o sotaque chinês usando o linguajar do personagem de história em quadrinhos Cebolinha, irritando Pequim.

— A China não decide pelos países que o Brasil representa, mas pode usar seu poder econômico. Hoje é grande investidora na América Latina. Não tem interferência direta, mas pode atuar debaixo do pano. Vem lutando para ter mais votos nas organizações internacionais — disse Jobim.

Mas a avaliação de uma fonte da área diplomática é que os países que o Brasil representa (Colômbia, Equador, República Dominicana, Haiti, Panamá, Suriname, Trinidad & Tobago e Filipinas) não devem se opor, em respeito ao princípio da soberania nacional. Se Weintraub agir corretamente, sem criar problemas, será ignorado por China e os países europeus, será ignorado. Seu comportamento o ajudaria em uma eventual renovação de mandato, em novembro.

Apesar dessa aparente tranquilidade no governo brasileiro quanto aos quatro meses de mandato que restam para Weintraub cumprir, crescem as pressões sobre os países representados pelo Brasil no Bird.

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