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A Rádio Espinharas comemora, neste sábado, 1º de agosto, seus setenta anos de vida. E são setenta anos com muita história na cidade de Patos.

Primeiro ela foi pioneira no Sertão paraibano. Antes só tínhamos emissoras de rádio em Campina Grande e João Pessoa. Segundo, nestes setenta anos a Espinharas consolidou uma credibilidade que a faz a mais acreditada emissora de todo o Sertão.

Na realidade, para os que não conhecem a sua história, ela frustrou as intenções dos que a instalaram em Patos. Pereira Lira, apelidado durante a campanha de Cachimbão, era chefe de gabinete do então Presidente Dutra e pretendia ser senador pela Paraíba. Com o prestígio de que desfrutava no Governo conseguiu três concessões de rádio e implantou na Paraíba as rádios Caturité, Espinharas e Arapuan.

A intenção de Pereira Lira foi frustrada e ele não conseguiu se eleger. Como também não pagou o que devia à empresa que lhe vendeu os equipamentos principais, como transmissor, mesa de som e acessórios, esta assumiu a emissora que funcionou sob seu controle até 1954, quando, por falta de rendimentos financeiros suficientes para mantê-la, terminou fechando.

Veio então a campanha de senador de 1958 e um patoense resolveu disputar uma vaga de senador. Drault Ernany de Mello e Silva, médico, político, banqueiro e empresário, era irmão do futuro prefeito Bivar Olinto e fora eleito em 1952, suplente do senador Assis Chateaubriand, e deputado federal em 1954.

Drault comprou as três emissoras, Caturité, Espinharas e Arapuan para fazer a sua campanha de senador. Assim como Pereira Lira, também não obteve sucesso, mas foi eleito deputado federal, o que a lei da época permitia, ser candidato a senador e a deputado ao mesmo tempo. As emissoras de Drault, entretanto, continuaram no ar. Mais adiante a Rádio Arapuan foi vendida a um grupo empresarial da capital do Estado.

Em 1962, o Movimento de Educação de Bases, ligado à Igreja Católica, adquiriu várias emissoras no Nordeste, com a intenção de usá-las em um programa de educação a longa distância. Na Paraíba as rádios Caturité e Espinharas foram entregues às dioceses de Campina Grande e Patos, respectivamente. “Educar, divertir e informar” era o lema da Rede de Emissoras Católicas de Rádio”.

Esse objetivo da Espinharas, “Educar, divertir e informar” , desde que assumida pela Diocese de Patos, tem sido cumprido até agora, o que lhe tem garantido, junto com a sua linha de independência, a alta credibilidade de que desfruta.

Um episódio dos anos sessenta ilustra esta posição independente da emissora. A emissora foi procurada para transmitir um jantar que seria oferecido ao deputado Ernani Sátiro, mas a emissora se recusou a fazê-lo alegando que naquela data já estava programada a transmissão de uma partida de futebol importante que seria realizada no Estádio Municipal. Insatisfeito com a recusa da emissora em transmitir aquela manifestação política, um grupo de udenistas, comandado por Edvaldo Motta, foi até o Estádio Municipal e, não sabemos determinado por quem, mandou desligar os refletores do Estádio. As luzes do estádio voltaram a ser ligadas a tempo de terminar o jogo, mas a vingança foi descarregada em cima da Espinharas, não conseguiu transmitir o resto do jogo.

E não foi só isso. Como a energia da cidade era controlada pela Prefeitura, mandaram cortar a energia da Rádio Espinharas. A emissora saiu do ar, mas voltou logo depois, a partir dos transmissores onde havia um gerador de energia para os casos de emergência. A repercussão foi tão grande na cidade que, poucos dias depois, a administração municipal resolveu restabelecer a energia nos estúdios da emissora.

A linha de independência tem sido mantida, apesar de percalços os mais diversos, ao longo dos quase sessenta anos, na condição de emissora católica, hoje mantida pela Fundação Cultural Nossa Senhora da Guia, o que passou a acontecer a partir de 1982,.

Todos os que fazemos programas na Espinharas, funcionários ou parceiros, temos toda a independência para agir, desde que dentro da lei. Temos a relatar uma experiência pessoal. Ainda durante a ditadura militar, nós e outros colegas criticávamos o Governo Federal, quando tomava decisões que entendíamos prejudicais à população e a direção da Espinharas nunca nos censurou. Exigia-nos apenas que mantivéssemos a linha editorial da emissora e nos mantivéssemos dentro da lei.

Então, ao completarmos setenta anos, dos quais nos orgulhamos de ter participado de últimos 55 anos, como funcionário, como colaborador, como parceiro, só temos a nos orgulhar da nossa emissora. Parabéns Rádio Espinharas de Patos. Parabéns Fundação Cultural Nossa Senhora da Guia. Parabéns funcionários que por aqui passaram nestes setenta anos. Parabéns patrocinadores que têm financiado as nossas atividades. Parabéns aos ouvintes que tem nos honrado com a audiência desde sempre.

Luiz Gonzaga Lima de Morais – lgmorais@uol.com.br

 

 

 

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