Imagem: reprodução
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“Em meados de 1904, chegava a 1.800 o número de internações devido à varíola no Hospital São Sebastião. Mesmo assim, as camadas populares rejeitavam a vacina, que consistia no líquido de pústulas de vacas doentes. Afinal, era esquisita a idéia de ser inoculado com esse líquido. E ainda corria o boato de que quem se vacinava ficava com feições bovinas.

No Brasil, o uso de vacina contra a varíola foi declarado obrigatório para crianças em 1837 e para adultos em 1846. Mas essa resolução não era cumprida, até porque a produção da vacina em escala industrial no Rio só começou em 1884. Então, em junho de 1904, Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo o território nacional. Apenas os indivíduos que comprovassem ser vacinados conseguiriam contratos de trabalho, matrículas em escolas, certidões de casamento, autorização para viagens etc.

Após intenso bate-boca no Congresso, a nova lei foi aprovada em 31 de outubro e regulamentada em 9 de novembro. Isso serviu de catalisador para um episódio conhecido como Revolta da Vacina. O povo, já tão oprimido, não aceitava ver sua casa invadida e ter que tomar uma injeção contra a vontade: ele foi às ruas da capital da República protestar

Após um saldo total de 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos em menos de duas semanas de conflitos, Rodrigues Alves se viu obrigado a desistir da vacinação obrigatória.

Mais tarde, em 1908, quando o Rio foi atingido pela mais violenta epidemia de varíola de sua história, o povo correu para ser vacinado, em um episódio avesso à Revolta da Vacina.”

A varíola era popularmente conhecida como “bexiga” e deixava como resultado a pessoa ficar, se resistisse à doença e sobrevivesse, com o corpo todo marcado de cicatrizes, a chamada “marcas de bexiga”, que muitas pessoas ostentavam até alguns anos atrás. Ao morrer estas pessoas ainda ostentavam estas marcas.

Hoje a varíola está debelada no Brasil, graças à vacinação em massa feita a partir de então.

Outras vacinas foram surgindo a partir desta época, como as vacinas contra sarampo, crupe, coqueluche  e gripe, entre outras. E hoje temos um calendário destas vacinas que vêm prevenindo e evitando os males decorrentes delas.

Nos anos mais recentes, talvez a vacina mais importante tenha sido a vacina contra a poliomielite, mais conhecida como paralisia infantil. Esta deve ser aplicada até os cinco anos de idade. Era comum  crianças ficarem deficientes das mais diversas maneiras, em decorrência da  paralisia infantil. Em Patos nós temos um caso muito conhecido de pessoa que contraiu a poliomielite e que, apesar de perfeitamente válido como pessoa, chegando a ser um dos melhores profissionais de rádio de Patos, conseguindo inclusive a ser eleito vereador, mas que tinha seus movimentos dificultados em decorrência da paralisia que o acometeu, o saudoso Paulo Porto.

Paulo Porto nasceu uns dois anos antes do polonês Albert Sabin, já morando na época no Estados Unidos, lançar a vacina contra a poliomielite em 1961. Paulo não foi beneficiado pela vacina que só passou a ser aplicada em massa no Brasil em 1971.

Este retorno a mais de cem anos na história é para chamar a atenção para o fenômeno de ignorância daquela época e que está se repetindo agora quando uma parte da população ameaça resistir à vacinação contra o coronavírus. Ignorância que não é só na população analfabeta e desinformada, mas que vemos em altos escalões do governo. Dando mal exemplo a outros ignorantes eles desestimulam a adoção de medidas sanitárias necessárias para o combate ao coronavírus e, principalmente a vacinação. Sem ela, como aconteceu no século passado com relação à varíola, não se vencerá a doença.

Quem resistir hoje à vacina contra a COVID 19 está arriscando não só a própria vida, como a vida dos outros, motivos pelo qual o Governo tem de adotar medidas drásticas contra os que não quiserem se vacinar. Eles podem até dispor da própria vida e até escapar com vida, mas não podem ameaçar a vida dos outros, por isso devem ser punidos se não quiseem se vacinar.

Ninguém pode esquecer de um detalhe importante. O cidadão pode até não contrair a doença, ao se arriscar nas ruas sem as precauções recomendadas ou ao deixar de se vacinar.  Mas poderá levar o vírus para casa e infectar o pai, a mãe, o cônjuge, um filho ou parente que com ele conviva e depois se tornar responsável pela doença e eventualmente a morte desta pessoa, por culpa exclusivamente de sua irresponsabilidade.

Luiz Gonzaga Lima de Morais com informações da Agência Fiocruz de Notícias

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