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Aguenta coração! Mal havia lançado nas redes sociais um artigo lamentando a morte do meu amigo Dr. Manoel Barros, recebi a notícia da morte de outro amigo, vitimado pela COVID. Morreu no final da tarde desta segunda-feira, 25 de janeiro, aos 66 anos, o Dr. Antônio Ivanes de Lacerda.

Pouco tempo depois de formado, Dr. Ivanes de Lacerda, veio morar e trabalhar em Patos. E virou patoense de coração. Aqui se dedicou à medicina por cerca de quarenta anos, aqui constituiu família, aqui gerou filhos patoenses. E para completar a sua dedicação a Patos também se dedicou, nos últimos vinte anos à política, exercendo cinco mandatos de vereador.

Durante os cinco mandatos de vereador, Dr. Ivanes conseguiu realizar um dos trabalhos mais profícuos, seja como vereador de oposição, seja como vereador de situação. Na oposição fiscalizava a administração e fazia críticas construtivas, na situação colaborava com suas propostas e sugestões para o prefeito de plantão.

Segundo seus amigos mais próximos, o sonho de Ivanes era ser prefeito da cidade que adotou como sua, e esta oportunidade surgiu quando o vereador Sales Júnior renunciou à interinidade como prefeito e consequentemente à presidência da Câmara. Ivanes se lançou candidato a presidente da Câmara, o que o faria prefeito interino de Patos, até que se decidisse a situação do prefeito afastado Dinaldinho Wanderley. Interinidade que terminou exercendo até o final do mandato.

A eleição de Ivanes como presidente da Câmara e prefeito interino se deveu à preocupação de todos com a situação calamitosa em que estava a administração municipal e a necessidade de uma pessoa que tivesse coragem e independência para assumir e tomar as medidas drásticas necessárias para organizar as finanças da prefeitura e continuar a administrar, enquanto fosse necessário. Surgiu daí uma pressão popular que terminou fazendo com que os vereadores terminassem por eleger Ivanes. Quatro candidatos surgiram, dois desistiram e só um terceiro foi até o fim na sua candidatura, sendo vencido por Ivanes por 14 votos a dois.

Na interinidade Ivanes tomou todas as iniciativas necessárias para organizar as finanças da Prefeitura. Medidas duras, que lhe granjearam um desgaste que qualquer um, que assumisse com as mesmas intenções que ele, teria que tomar. Mas que talvez só ele tivesse a coragem de tomar. E ele era realmente um homem de coragem e de luta, até por ser natural do guerreiro Vale do Piancó, mais precisamente da cidade de Conceição. E como torcemos para que ele tivesse sucesso!

Ivanes exerceu a interinidade até o fim, quando muitos auguravam que ele não duraria nem três meses no cargo. Dele disse muito bem o companheiro Misael Nóbrega: “Mas, foi correto. Vestiu-se do personagem, arregaçou as mangas… – Foi antipático, impopular, austero, controlador, disse mais não do que sim… – Porém, cumpriu o acordo.

No início da campanha eleitoral ainda tentou esboçar uma candidatura à reeleição, mas a medidas duras que tomara e o desgaste que por isso acumulou, terminaram por convencê-lo de que não teria sucesso para concretizar o seu sonho de ser efetivamente prefeito de Patos.

Na sua história de vida e no seu currículo constava uma experiência que o credenciava como administrador além de ser portador de um diploma de uma especialização em administração, Ivanes foi por algum tempo diretor do então Hospital Regional de Patos. Na função, Ivanes tomou uma série de medidas drásticas visando combater vícios ali existentes que ia do desvio de material de alimentação e de medicação até furtos de materiais imprescindíveis ao funcionamento da casa, além de faltas sem justificativa ao serviço. Isto lhe granjeou um desgaste muito grande entre os que eram beneficiários destes desvios de conduta.

Além de um profissional de saúde dos mais eficientes, competentes e dedicados, Ivanes era um caso de cidadão altamente bem informado. Sua biblioteca era invejável e com ele, muitas vezes, discutíamos alguns dos seus livros que havia lido, seja de política, seja de administração, seja de história e por aí vai. Tinha uma capacidade e cabedal intelectual que não costumamos encontrar entre companheiros seus de profissão.

Não era pessoa de muitos sorrisos, mas tinha um coração altamente sensível, como reconhecem todos os que o conheciam de perto. Eu próprio, várias vezes, fui atendido por ele em atendimentos urgentes de parentes e amigos. E sua performance como vereador me levou a voltar nele nas duas últimas eleições, por considerá-lo dos mais preparados para a função.

É uma pena que tenha ido tão cedo. A dedicação à função de prefeito interino, a sua disposição para acompanhar de perto tudo que acontecia na administração, sua preocupação com as providências necessárias ao combate à pandemia, terminaram por contaminá-lo com o vírus do coronavírus contraindo a COVID 19. E a terrível doença terminou ceifando a sua vida como o fez já a mais de duzentos mil brasileiros e quase quatro mil paraibanos.

A sua morte repercutiu em Patos e toda a região, numa demonstração de que “combateu o bom combate”, cumpriu a sua missão como poucos conseguem fazer.

Como Nabor promete concluir a UPA do Jatobá, que tal dar a ela o nome de Dr. Antônio Ivanes de Lacerda?

Luiz Gonzaga Lima de Morais

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