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Crônica da Quinta

Terreiro: tema e teima

“Um terreiro bem varrido, isso é cagado e cuspido paisagem de interior” (Jessier Quirino).

Uso a sensibilidade do poeta paraibano, nascido em Campina Grande, mas que mora em Itabaiana, numa de suas obras mais eloquentes: “Paisagem de Interior” para me servir como base desta crônica.

Costume corriqueiro que faz parte da Antropologia e da Cultura nordestinas e sertanejas, incluindo a cidade de Patos, Capital do Sertão Paraibano, era num passado não muito distante ver mulheres simples com suas vassouras à mão a limpar a porta de suas casas, num vai e vem naquele chão batido, com dedicação própria de mulheres fortes.

Pois bem, a personagem que orbita esta história e que faço questão de nomear, a Senhora Iraci da Costa Silva repetira tantas vezes essa proeza doméstica sempre observada atentamente por seu esposo, Senhor Zacarias Norberto da Silva.

Ambos pessoas simples, humildes, constituíram sua família num pequeno pedaço de chão, um terreno àquela altura não utilizado por seu proprietário e ali então tomaram posse perto de onde atualmente se denomina “Terreiro do Forró”.

Fincaram naquele local sua morada, construíram uma casa modesta e a notícia chegou aos ouvidos do verdadeiro dono da propriedade, um rico empresário de nobre família de sobrenome “Pereira” que com sua sensibilidade permitiu e aprovou a permanência do casal naquele ambiente, lhes dando sua palavra que ninguém mexeria com os mesmos.

Era o tempo dos grandes Homens, de palavra, que empenhavam com poder sua fala como comprovada ratificação de uma história, negócio ou situação, contudo, nós os mortais um dia partimos, e na ausência daquele rico homem o enredo tomou outro rumo.

Passadas quase 5 décadas que o casal reside no local receberam a triste notícia de que teriam que deixar sua casa, sofreriam uma ordem de despejo, mesmo sendo idosos, pobres, desprotegidos, doentes e desamparados pela própria justiça.

É óbvio que a justiça só pode se manifestar quando provocada e coube aos herdeiros do saudoso empresário a referida ação, pasmem os leitores  contra o pobre casal, o Senhor Zacarias (91 anos) e a Senhora Iraci (80 anos) e, apenas cumprindo o rito processual e a estrita leitura dos autos, a sentença proferida foi favorável para a parte provocadora.

O casal de idosos, com advogada constituída para lhes garantir o mínimo de atendimento jurisdicional iniciou uma guerra, nem santa nem bélica, mas tão somente de ter o seu direito assegurado.

Uma leitura conforme apresentou a imprensa do caso se mostrou alguns equívocos na forma de condução ou desfecho – Estatuto do Idoso rasgado, ignorado o uso capião restando o legítimo direito do esperneio e este veio potencializado por meio da comoção causada nas redes sociais e na internet por boa parte da população patoense.

Imediatamente diante do fato todos ou quase todos tomaram para si esta causa humanitária, a internet ajudou a propagar a querela, o Poder Legislativo ergueu a voz e coube ao Poder Executivo a resolutividade diante da urgência que merecia a questão.

Para tristeza de uns provocadores da ação de despejo e para a eufórica alegria de muitos a área compreendida  em questão localizada na Rua Domingos Lugo, no Jardim Califórnia bem no coração do “Terreiro do Forró” foi por força de Decreto Municipal reconhecida como de utilidade pública, abrindo brecha para desapropriação e evitando assim o cumprimento da ordem judicial e a expulsão do casal.

Ganha o casal de idosos a possibilidade de viverem sossegadamente seus dias de vida não sei se ao som do autêntico ritmo no terreiro de sua casa ou “Terreiro do Forró” dando um baile na injustiça e na insensibilidade  dos herdeiros que salientamos serem ricos proprietários de fortuna incalculável , não lhes fará falta e esperamos sejam felizes e prósperos.

Tema e teima resolvidos na poeira de um Terreiro bem varrido da história patoense.

Carlos Ferreira da Silva – Acadêmico de Pedagogia – UNIFIP – carlossilva@pedag.fiponline.edu.br

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