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A cidade de Patos perdeu nesta segunda-feira, 07/06/2021, um grande profissional da Medicina que lhe prestou serviço por mais de sessenta anos, mas antes de tudo um cidadão admirável sob todos os aspectos, principalmente pelo ser humano sensível para as dores alheias. Olavo exercia a Medicina como um verdadeiro sacerdócio.

A chegada daquele jovem médico a Patos, em 1955, recentemente formado aos 23 anos de idade, causou uma verdadeira revolução na medicina da cidade. Patos era bem servido por clínicos gerais, como Dr. Oscar Vieira Cavalcanti, Dr. Lauro Queiroz, Dr. Severino Araújo (pediatria), e Dr. Diógenes. Mas na hora das cirurgias só contava praticamente com Dr. Artur Tavares para cirurgias gerais e Dr. Lauro Queiroz que o ajudava nestas cirurgias, Dr. Osman Araújo na traumatologia e Dr. Dionisio como otorrino e cirurgião da área.

A revolução foi tão grande, segundo os mais antigos, que se dizia “agora em Patos, depois da chegada de Dr. Olavo, não se morre mais de apendicite”.

Dr. Olavo e Dr. Artur pontificavam, com ajuda daqueles outros na área de cirurgia, mas faziam também clínica geral e Dr. Olavo era requisitadíssimo como ginecologista e obstetra, sendo por anos considerado o melhor deles na região.

O único problema era que Patos não tinha anestesista. Os próprios cirurgiões e enfermeiros aplicavam uma máscara com anestésico na face do paciente e faziam a cirurgia. Por conta disso, Dr. Olavo e Dr. Artur incentivaram um jovem acadêmico de Medicina patoense a se especializar em Anestesia. E em 1958, Patos ganhou o seu primeiro anestesista, formado na Faculdade Estadual de Medicina do Rio de Janeiro, Dr. Alcides Candeia Pereira.

Em 1958, além de Dr. Alcides, Patos ganhou outros dois cirurgiões que se juntaram a Dr. Olavo e a Dr. Artur para dotar Patos da melhor equipe de cirurgia da região: Dr. Geraldo Carvalho, formado na Faculdade de Ciências Médicas de Recife, e Dr. Rivaldo Medeiros, formado na Escola Bahiana de Medicina. Os dois eram também excelentes clínicos gerais, e Rivaldo era ainda ginecologista, enquanto que Geraldo era excelente pediatra, numa época em que o único pediatra era Dr. Severino Araújo, o primeiro a quem procurei, em 1971, para atender a uma filha minha.

Com exceção de Dr. Diógenes, que era baiano, e Dr. Artur Tavares que era do Sabugi, os demais eram patoenses.

De família tradicional na cidade, Dr. Olavo era filho de um irmão do Dr. Basílio Serrano de Sousa, famoso farmacêutico local. Tendo ficado órfão aos dois anos, Olavo foi morar com umas tias-avós na fazenda da família. Mas logo cedo, com uma visão que poucos tinham, as tias resolveram mandá-lo estudar em Patos. Graças a estas duas, Patos ganhou este futuro médico e prefeito seu.
Da sua carreira como médico toda a Patos mais antiga é testemunha da sua capacidade, tanto como clínico geral, quanto como ginecologista, obstetra e cirurgião. E depois, terminou sendo eleito prefeito de Patos, enfrentando duas fortes lideranças populares: Edivaldo Motta e Zé Paulo, em chapas separadas, tendo quase 500 votos de maioria contra os dois.

Para quem estranha esta vitória contra duas fortes lideranças, um fato que aconteceu pela primeira vez na cidade de Patos. Muitas mulheres deixaram de votar no mesmo candidato dos maridos para votarem no Dr. Olavo Nóbrega. Minha mãe mesma foi uma delas. Pela primeira vez discordou politicamente do meu pai que era udenista/arenista apaixonado. E o detalhe que pouca gente sabe. Além de excelente profissional, Dr. Olavo tinha uma qualidade que o povão reconhecia. Naquela. época, pobre só recebia assistência médica nos postos da prefeitura, que eram precaríssimos ou no SAMDU, para as urgências. O INPS de então só atendia consultas de quem tinha carteira assinada, e naquela época poucos empregados eram fichados. E o Dr. Olavo, sem fazer alarde, atendia a muitos amigos que não podiam pagar a consulta. Segundo os mais antigos, os clientes particulares, esperavam na sala de espera e os amigos numa areazinha coberta que havia do lado de fora do consultório. Estes tinham acesso por uma porta lateral por onde entravam numa salinha onde eram atendidos, entre um pagante e outro. Eu mesmo, numa época em que morei em frente ao consultório, vi muito esta movimentação silenciosa. Foram estes amigos e amigas que fizeram a diferença naquelas eleições.

Numa época em que não havia ainda a medicina de família que é feita hoje nos PSFs, Dr. Olavo foi o médico da minha família, desde a minha adolescência por muitos anos, pudéssemos pagar ou não. E mantivemos a fidelidade, enquanto ele atendeu no seu consultório. Os meus dois filhos mais velhos nasceram de gestações acompanhadas por ele desde o início até o parto. E a última filha teve a “concepção” acompanhada por ele, depois de minha esposa passar um ano fazendo tratamento com outro médico, sem sucesso.

Como me lembravam agora há pouco um amigo médico e um antigo paciente, o que cativava em Dr. Olavo era a maneira de tratar as pessoas, como gente. De uma memória fabulosa, certa vez em uma consulta ele passou uma medicação para mim e disse: “lá em sua casa tem alguém que está tomando este mesmo remédio”. E quando cheguei em casa fui perguntar e tinha mesmo.

Pelo profissional, pela pessoa humana e pelo político sensível aos problemas do seu povo, os patoenses lhe dedicavam verdadeira adoração. Por isso todos sentimos a sua morte. Pena que, por conta da pandemia, não se pode manifestar este amor, com uma grande homenagem no seu sepultamento, justamente para evitar as aglomerações que, sem nenhuma dúvida, provocaríamos.
Agradeço aqui ao querido amigo, Dr. Alcides Candeia (92 anos), sobrevivente daqueles tempos pioneiros, e a familiares dos citados, por algumas informações sobre a medicina do seu tempo.

Luiz Gonzaga Lima de Morais

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