A pandemia trouxe uma série de desafios para os pais. Com o trabalho dentro de casa, sem aulas presenciais e com uma série de atribuições, muitos encontraram nas telas ferramentas para entreter as crianças. Pesquisa Datafolha aponta que 89% dos pais – isto corresponde a nove em cada 10 pais – com filhos de 6 a 18 anos de idade afirmam que estes passaram a fica mais tempo em frente às telas, sejam estas TV, celular ou videogame, ao longo da pandemia.
Pediatra do Hospital do Hapvida em João Pessoa, Sheila Peixoto, afirma que se observou um agravamento dessa problemática, já que muitos pais se utilizaram de tais instrumentos para poderem entreter as crianças.
“Pesquisadores evidenciam que quanto mais uma criança fica conectada à tela, mais desconectado é o cérebro da criança, então mais difícil é para essa criança tomar decisões adequadas, pertinentes a uma sociedade saudável”, explica a pediatra.
A pesquisa aponta que a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus provocou outros impactos na vida das crianças e adolescentes. Para 69% dos pais, os filhos ficaram mais dependentes; para 64% dos pais os filhos ficaram irritados, ansiosos ou estressados; 52% perceberam que as crianças ficaram mais tristes e 45% asseguraram que os filhos a reclamar de solidão. Neste sentido, Sheila pontua que algumas crianças já evidenciam comportamentos de ansiedade excessiva e imediatismo.
“A necessidade de se ter tudo muito fácil sem o mínimo esforço. A alteração no humor é também um dos principais sinais desse problema. Quanto mais tempo com essas ferramentas, maiores são as chances de ter o humor comprometido. Além disso, a irritabilidade súbita, a falta de empatia com o próximo, são comportamentos dentro do convívio social que devem ser treinados a partir da interação social. Se a criança permanece muito tempo diante das telas ela passa a interagir menos e, portanto, passa a evidenciar comportamentos de isolamento e dificuldade de inclusão”, revela.
Para além dos impactos de ordem emocional, 54% dos pais que participaram da pesquisa afirmam que os filhos engordaram. Se os impactos ocasionados pelo tempo em excesso no uso das telas, os prejuízos também são muitos. Entre eles estão: dificuldade de aprendizagem, de interação social, de criar vínculo, de se adaptar ao meio social e aos desafios que a sociedade impõe, prejudicando ainda o chamado controle inibitório que, de forma simplificada, é a habilidade de controlar respostas impulsivas e esperar a própria vez.
Alternativas – Apesar dos números preocupantes, a pediatra Sheila lembra que o momento vivido é ímpar na história e que muitas crianças estão com seu desenvolvimento motor e social seriamente comprometido devido ao isolamento que foram submetidas. Para a especialista, cabe aos pais fiscalizar e ajudar os filhos nesse momento com um olhar singular. “A tecnologia não é vilã e nem deve ser abortada do convívio das crianças, ela é necessária para os tempos de hoje, porém o excesso e o conteúdo exposto é que deve ser adequadamente monitorizado pelos pais”, pondera.
Outro caminho apresentado pela pediatra é o de que os pais devem incentivar o brincar e atividades que promovam a interação social no âmbito familiar. “Atividades lúdicas sempre foram saudáveis e ajudam na construção tanto da atividade motora como da inteligência emocional. Ações como cozinhar em família, brincadeiras que estimulem a concentração e memória. Todas essas são alternativas para o não uso de equipamentos eletrônicos”, sugere.
Orientações – A sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um documento onde orienta o uso adequado e os limites a serem colocados a respeito do uso correto desses equipamentos. Até dois anos as crianças devem ser poupadas da exposição às telas, inclusive de forma passiva. Dos dois aos cinco anos deve-se restringir a uma hora por dia; dos seis aos 10 anos pode ser uma a duas horas por dia. Na fase da adolescência, 11 aos 18 anos, limitar o uso de telas e vídeo games até no máximo duas a três horas por dia, lembrando de nunca deixar “virar a noite”.
Assessoria – Hapvida