Ideia é que seja criado um plano de biosseguridade para prevenir, controlar e monitorar as doenças para reduzir os riscos de mortes e perdas produtivas (Foto: divulgação/Embrapa)
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A região que produz 70% do leite de cabra do Brasil precisa de um plano de biosseguridade para prevenir, controlar e monitorar seis doenças para reduzir os riscos de mortes, perdas produtivas e até mesmo problemas de saúde pública dos rebanhos caprinos leiteiros.

Essa é a conclusão de uma pesquisa feita pela Embrapa Caprinos e Ovinos na região da divisa entre Paraíba e Pernambuco, onde um rebanho de cerca de 130 mil cabeças produz 9 milhões de litros por ano.

A pesquisa abrangeu 19 municípios e analisou 937 animais identificando a prevalência das doenças toxoplasmose, clamidiose, agalaxia contagiosa, artrite encefalite caprina, brucelose ovina e paratuberculose. As três primeiras foram as com mais incidência nos animais avaliados: 18,5% tinham toxoplasmose, 16,5% clamidiose e 11% agalaxia.

A elaboração das bases do plano deverá acontecer nos dois primeiros meses de 2023, em uma proposta participativa, reunindo produtores rurais, instituições públicas e privadas. A ideia é integrar ações de assistência técnica, capacitação, rede de laboratórios para diagnóstico das doenças, melhoria de serviços de vigilância epidemiológica, além de treinamentos sobre educação sanitária e boas práticas para produtores rurais.

Para os integrantes da equipe que realizou a pesquisa, os dados merecem atenção de gestores públicos e do setor produtivo, pois as doenças trazem prejuízos diretos e indiretos aos rebanhos, como diminuição da produção, elevação de custos com tratamento e necessidade de descartar animais, além de poder afetar a qualidade e, por consequência, a comercialização de produtos.

“A região possui uma organização da produção em arranjos produtivos locais, com cooperativas e associações que, em conjunto, buscaram esforços de articulação para a comercialização do leite caprino. A implementação de um plano de biosseguridade visa maior e melhor obtenção de produtos seguros e de qualidade”, afirmou em nota Selmo Alves, pesquisador da área de sanidade animal da Embrapa

Cuidados

O cientista também alerta para os cuidados na compra de animais provenientes de outros rebanhos e a necessidade de quarentena. “É fundamental verificar no rebanho de origem se existe, ou existiram, casos de doenças, assim como observar a orientação técnica de informações sanitárias da propriedade e do rebanho, obtida nas instituições oficiais. Antes da chegada dos animais na propriedade, é importante proceder a limpeza e a desinfecção das instalações e manter os animais adquiridos separados do rebanho existente por 60 dias.”

Geneci Lemos, produtor rural de Coxixola (PB), afirmou que, a partir das informações compartilhadas pela equipe da Embrapa, já foi possível implantar melhorias no manejo de seus animais e que um plano de controle das doenças voltada para a região seria “excelente”. “O conhecimento já me ajudou muito e quanto mais informação, apoio e pessoas nos orientando, melhor.”

Perdas com as enfermidades

Segundo dados da Embrapa, a toxoplasmose é uma infecção parasitária de ocorrência mundial que acomete mamíferos domésticos e selvagens, aves e o ser humano. A doença causa problemas reprodutivos e compromete a produção de caprinos e ovinos. A principal repercussão clínica e econômica é o aborto, entretanto pode ocorrer também mortes neonatais.

A clamidiose afeta ovinos e caprinos causando distúrbios reprodutivos como: aborto, infertilidade, natimortalidade e nascimento de animais fracos. Também conhecida como aborto enzoótico de ovinos, a infecção pode ocorrer em qualquer animal, independente da idade, raça ou período do ano.

A agalaxia contagiosa é uma infecção bacteriana que, embora não apresente alta mortalidade, pode afetar todo o rebanho. Seu principal sinal clínico é a mastite com a redução ou completa parada na produção de leite. Além disso, há problemas nas articulações, sistema ocular, respiratório e reprodutivo, incluindo abortos.

A artrite encefalite caprina é uma doença infecciosa e contagiosa crônica, que afeta diversos órgãos e também é conhecida como joelho grosso. No Brasil, encontra-se disseminada nos rebanhos caprinos com aptidão leiteira. É causada por um vírus que acomete os caprinos de qualquer raça, sexo e idade e pode resultar em diminuição da vida produtiva e da produção leiteira.

A paratuberculose causa inflamação crônica no intestino de caprinos, ovinos, bovinos e bubalinos adultos. Algumas espécies de animais selvagens podem ser fonte de infecção para os ruminantes. Os prejuízos estão relacionados à redução da produção de leite e carne, queda na produtividade dos animais, baixa eficiência reprodutiva, descarte prematuro, redução do valor e morte de animais.

A brucelose ovina é uma doença infecciosa que causa aborto, nascimento de crias fracas ou debilitadas e morte perinatal. Causa perdas reprodutivas, diminuição da fertilidade, problemas de parto e nascimento de animais doentes e fracos. Afeta o sistema reprodutor dos ovinos causando no macho inflamação nos testículos e nas fêmeas, inflamação na placenta e no útero.

Globo Rural

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