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Começo a crônica pensando como pessoa física. Classifico-me como um ser minimamente seletivo e dito “consciente” em suas escolhas. Não que isso represente exatamente “bom gosto” no consumo da cultura geral ou dos critérios aceitos normalmente. Gosto de “brega“, da jovem guarda e da arte “não acadêmica” das ruas, por exemplo. Só para contrariar uma lógica determinista e “purista” que atribui valores superiores à criações humanas, o que geralmente induz aos preconceitos, “ares de superiores” e esnobismo.

Contudo, por esse critério primeiro, Manoel “Caneta Azul” jamais entraria na minha playlist, faria presença entre os raros exemplares de CD que ainda acumulo, teria minha audiência numa aparição pública e, pior, jamais me animaria a arriscar bancar um show seu em minha cidade. No máximo, a “celebridade”  me serviria como piada, meme curtido, rido e distribuído entre parceiros na internet.

Reitero: este sou eu. PF. Um tanto quanto preconceituoso, cruel e sádico. Pelo menos em termos de apreciação estética. Incapaz de curtir e dar voz a quem consiga cantar pior que eu mesmo. E acreditando, pia e ingenuamente, que há por aí um exército de milhões com pensamento igual: de gosto eclético e seletividade apurado quando exposto ao caos.

Segundo tempo. Assume a partir de agora o que em definitivo não sou. Um PJ (Pessoa Jurídica) qualquer. Um investidor, realizador, ou “capitalista” empreendedor do entretenimento ou da indústria do espetáculo. Para esse, compreensivelmente, as graduações e excelências estéticas pouco importam. São do tipo que jamais entram em  “pendengas” intelectuais para defender posicionamentos ou gêneros musicais. Experimentalismos pós-modernos, então, nem pensar. Importa o que gera lucro, sem essas besteiras intelectuais de excelência artística.

Por esse critério, “Mané do Pincé Azul” é o ouro. Contrato-o nem que seja por uma aparição de 15 segundos, no início do show de uma outra tranqueira qualquer. E há uma razão por trás de tudo isso. O rapaz faz sucesso nas redes sociais, portanto, é um ótimo chamariz para o público. Uma celebridade, um ícone do mundo bizarro, o supra sumo das “novidades” geradas pela exposição excessiva nas redes sociais.

A qualidade musical, dentro da indústria do entretenimento da atualidade, é o elemento menos importante. Digo da música que tenta ao menos desafiar padrões. Particularmente, gosto da música que grita, que traga celebração intrínseca, que qualquer um possa cantar.

Curto a música que,  independente do tempo de vigência dos direitos autorais, vá se diluindo até virar tema popular e sirva de temática a outros autores. Esse é o papel da música. Por isso se exige tanto da mente criativa. Por isso nos agrada a mente curiosa e criativa que busca ser original pisando no chão da tradição.

Creio que a música que embalou a adolescência de minha geração tinha mais de porções de “idealismo” que os “conceitos” de “marketing” que orientam a música atual. Isso nos criou meio esnobes em termos de gosto musical, é certo. Vivíamos sob o império da “indústria da música” (um dia escreverei sobre isso, minhas impressões marginais) e suas degenerações como o “jabá” radiofônico que servia para alimentar a “empurroterapia” musical.

Por meio deste expediente, artistas de “menor valor” viraram astros e, creio, alguns gêneros se tornaram queridinhos da galera. O cardápio oferecido à população era viciado. Só que, de algum modo, intuíamos isso. Talvez os críticos e influenciadores da época fossem mais ouvidos em suas prédicas e críticas que atualmente. Contudo, vejam só, mesmo com todas as interferências, algo de “bom” conseguia chegar aos nossos ouvidos sedentos de aprendizes.

Dividi-me propositalmente em dois polos para falar um monte de besteiras. Que me julguem os leitores. Quanto ao Mané do Pincé Azul, creio ser atração para circo. Atende, como perfil, as exigências estéticas do grotesco de nossos dias. Em tempos atuais a lona tá pra lá de grande. Paro por aqui.

Como não sou exatamente um marketeiro entusiasta da música de produção ligeira, Mané permanecerá o mané dos memes da rede social. Sou amante do circo e da “geleia geral“, mas não sou dono dos “dinheiros” que movem a indústria, nem quero faturar nada pela exploração do grotesco. Nem o riso.

Por Edson de França 

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