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Acho que nunca assisti a uma onda tão festiva, materializando-se em honrarias e glórias, à bandeira verde e amarelo como nos últimos anos.  Muito menos, tanto exibicionismo e ostentação.

Regularmente, o amor pátrio pelo pavilhão nacional se restringia aos períodos de Copa do Mundo. Fato sazonal, digamos, e sujeito a intempéries. Uma onda ufano patriótica, contudo, veio a mudar essa tradição e cada casa afinada com os ideais controversos do último governo passou a exibi-la nas fachadas de moradias e nos adereços de veículos.

Desde a mais tenra infância, sob  a obrigatoriedade de cantar o Hino Nacional todos os dias, em formação militar; aprender obrigatoriamente, como exigência para avaliação, o hino da bandeira e o hino da guerra (ou melhor, do soldado), que não me sinto instado a compartilhar desse furor. E aqui não há nenhuma redução de algum sentimento pátrio que essa velha carcaça ainda nutra.

Não sei se por respeito à pátria (que duvido) ou por um capricho louco e passageiro, tornou-se moda o uso da bandeira.

Percebo, porém, que não como símbolo, mas como arma “ideológica”, capaz, inclusive, de ferir mortalmente um oponente. Instrumento passível de ser utilizado a guisa de baioneta, para aniquilar ao que se suspeita visceralmente antagônico, anti-patriotico e não habilitado a habitar o mesmo território.

A bandeira virou sinônimo de separatismo, exclusão e extermínio do “diferente”. O sentimento pátrio embutido atacou a democracia, argumentando defendê-la. Uma gambiarra patriótica, enfim.

Ato contínuo, revela-se entrementes uma controvérsia: por onde anda o respeito pela manutenção da qualidade do lábaro pátrio? Há alguém preocupado com sua saúde? Ninguém cogitou isso. Tenho visto o contrário. Assisto as bandeiras envelhecerem nas fachadas, algumas transmutando-se em verdadeiros “panos de chão”. Mulambos rotos, imundos e descaracterizados andam a enfeitar (seria “enfeiar” mais apropriado?) algumas fachadas.

Aprendi com o exoterismo prático que não se conservam árvores mortas, pois revelam muito do desleixo e do nível de energia do dono do imóvel que a mantém de pé. São antenas necrófilas que servem tão somente ao intuito de atrair energias subalternas ou popularmente conhecidas como espíritos de baixa vibração.

Árvores murchas também  falam das energias negativas do sitio onde estão assentadas.. Elas são as captoras de toda energia perversa que tende a se concentrar e empestear o ambiente.

Aleatoriamente, de maneira análoga, vagueio, imagine essa maldição aplicada à bandeira nacional? Empanado que, simbolicamente, representa a emanação de milhões de almas, empapados de histórias de suores, lutas e dissabores de um povo.

Somos, no Brasil, medindo por baixo, duzentas milhões de almas. A maioria delas, quero crer, fiam-se na bandeira como seu símbolo maior. Nela estão impressas nossas riquezas, nossas glórias, nosso bem querer de pátria. Território, bens extrativistas e preservacionistas, clima e ambiente de pacificidade possível. Paz, amorv e fraternidade com rusgas mínimas, afinal, todos almejam o bem maior. Ao menos na teoria.

Sugiro, então, para começo de conversa que os patriotas renovem a empanada. Não curto andar por aí a atravessar cemitérios de bandeiras e catatumbas da icônica cidadania. Sugiro ademais que como a maioria dos hasteantes tende a se identificar liberal, a implantação de um “imposto bandeira”, “taxa patriótica” ou multa pesada mesmo para os mais descuidados.

A letra da lei determinaria o seguinte. Parágrafo I – “É livre o uso da bandeira nacional, bem como de sua respectiva composição de cores, nas fachadas das casas, nos decalques automobilísticos, nas calcinhas e nas cuecas, nas etiquetas de calçados e rouparia e no que mais couber à criatividade desse povo varonil, independente das finalidades determinadas pelo cidadão”.

Não entremos em mais detalhes sobre as minudências da lei,  mas em um dos seus incisos teria que constar a seguinte redação apontando o crime. “_ O envelhecimento reconhecível do pavilhão nacional, tais como descoloração e apodrecimento do tecido, constitui crime de lesa pátria, portanto, crime anti-patriótico”.

Assim determina-se, nesses casos, a troca imediata do pano simbólico. Não cumprida essa exigência em tempo hábil, o cidadão será instado a pagar uma multa relativa a descaracterização do relativo símbolo, assim como e gradativamente ao nível de degradação que o mesmo apresente.

Considerando, finalmente, que o fato que motiva ou gera essa ação rigorosa, per si, constitui tão somente desrespeito flagrante às bases patrióticas da nação.

Por Edson de França

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