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A grande maioria das fotos minhas – aquelas de que gosto e faço questão de utilizar em perfis e quetais – foram fruto de selfies. A feiúra é um caso à parte. Não sei posar para fotógrafos. Nunca me saio bem. Sempre acho que o tal não soube captar a aura do elemento (eu, no caso) exposto, a contento.

Gosto das fotografias captadas no improviso e nem sempre temos por companhia  alguém tão amante, íntimo das lentes e apaixonado pelo descuido instantâneo de seus alvos. Tem que posar e, repito, posar nunca foi meu forte. Sempre que tento, acabo provocando a aparição de uma caricatura de mim mesmo. Para esse efeito prefiro o traço dos profissionais dedicados aos exageros da caratonha.

A selfie está para os contemporâneos como auto-retrato estava para os pintores clássicos. Traz consigo um pouco de narcisismo e da auto exploração da imagem captada e dos recônditos mais profundos da persona. É o tipo de escavação só possível à própria mina que, auto escavando-se, faz trazer à tona, direto das profundezas, os veios mais ricos e a escória de cascalho mais dispensável, aquela capaz de poluir e assorear cursos d’água.

Escolhe-se o modo selfie, inicialmente, por retraimento social. Toda selfie quer contar uma história pessoal e intransferível, revela um momento particular. É ato solitário e, contraditoriamente, compartilhável. Acabamos lançando a sanha das redes esse momento “íntimo”. Iludimo-nos, claro, que conseguimos captar nosso melhor ângulo, escondendo as imperfeições e até os sinais do tempo.

Talvez, também por esmero estético. Há quem se produza para tal. Batons, sobrancelhas ativas, base compacta, cílios alongados, lábios carnudos, óleo nos músculos, roupa tchan, luzes na peruca e no incandescência do ambiente, filtros de todas as matizes. Há quem exagere na exploração do seu melhor ângulo. Há quem estetize a angulação, buscando detalhes que o mundo não se ocupa.

A “arte” impressa na geração do produto supera o simples registro. Vai além. Por outro lado, a selfie é produto de solitários e exigentes. Há quem, na multidão, se sinta só, deslocado. A selfie revela isso. Há quem acompanhado esteja, encontre-se, ao final, sozinho. A selfie preenche a ausência presente. Como antídoto, basta uma câmera posicionada, o temporizador ligado e pronto. Definitivamente, há muitos a não se sentir retratados pelo olhar de outrem.

Edson de França

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