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Os termômetros instalados recentemente em duas praças de Patos, no Sertão da Paraíba, têm deixado muita gente em parafuso. Uns abismados com as altas temperaturas registradas jamais vistas na cidade com picos acima de 50ºC, e outros desconfiados de que ainda não chegamos a este nível de calor extremo.

Esta semana, o termômetro recém instalado na Praça Fernando Soares, no Centro, que está em reconstrução, marcou a temperatura de 51ºC, o que seria algo inédito na cidade sem considerar que objetos expostos diretamente aos raios solares chegam a registrar temperatura ainda mais alta.

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Em meio à onda de calor registrada na maior parte do país, o termômetro da Praça Getúlio Vargas chegou a registrar 43°C na terça-feira (26 de setembro).

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Os dados divulgados por eles são precisos? Como explicar a diferença de temperatura entre eles, mesmo quando estão próximos?

Para o professor de física Fernando Lang da Silveira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), antes de explicar essas questões é preciso falar sobre as medidas de temperatura do ar feitas por estações meteorológicas, como as do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Esses órgãos, que fornecem “dados oficiais”, possuem estações meteorológicas com equipamentos específicos.

Procurada para informar a temperatura máxima registrada oficialmente em Patos, a Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa) disse, através da  meteorologista Marle Bandeira, que os termômetros marcaram oficialmente 39,1°C naquela tarde de terça-feira (26) e não os 43ºC marcados na Praça Getúlio Vargas.

De acordo com a Aesa, o município registrou mais de três graus acima da média histórica para a primavera, e a maior temperatura já registrada em 2023 na cidade não passou dos 40ºC ainda. No dia seguinte(27), os termômetros marcaram no máximo 37°C.

Patos mesmo sendo destaque, quando o assunto é aumento de temperaturas no estado, não é à toa que é chamada de “Capital do Sol ou do Sertão”, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou aviso válido até a sexta-feira (29 de setembro), com Patos registrando temperatura até 39°C.

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Termômetro do obelisco da Prefeitura em outra época.

A dúvida então causada na cabeça de muita gente se realmente essas temperaturas medidas por termômetros de rua são reais e confiáveis faz sentido.

“Não basta se dispor de termômetros confiáveis e calibrados para se realizar as medidas”, escreveu o professor Fernando Lang. “Como o objetivo é medir a temperatura do ar, os termômetros se encontram em um abrigo”, que, “além de ser branco para minimizar a absorção de energia térmica e estar a 1,5m do solo”, por exemplo, também “permite a circulação natural do ar” por meio de venezianas.

Já segundo o meteorologista Mário de Miranda Ramos Leitão, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), termômetros como esses instalados nas praças de Patos nunca vão indicar temperaturas certas, já que eles não são precisos. “Esses termômetros arrodeados de matéria escura, matéria preta é a mesma coisa que você colocar um termômetro no asfalto. Se for medir a temperatura do asfalto aí em Patos nessa época do ano pode chegar a 70 graus celsius. Nesse asfalto mais preto a temperatura sempre será muito elevada. Então esses equipamentos nunca vão indicar temperatura do ar, a temperatura real que é a medida pelos institutos que verificam diversos fatores para se chegar à temperatura real, com equipamentos profissionais”, explicou ele.

O professor ressaltou ainda que nestes equipamentos, por outro lado, não têm circulação do ar. “Se o ar não circula, como é que essa temperatura vai ser correta? Então esses termômetros não traduzem verdadeiras informações. São totalmente equivocadas e que as pessoas não devem seguir”, disse ele.

Primavera mais quente em Patos

A onda de calor que seguiu pelo mês de novembro gerou uma onda de calor excepcional atingindo o Brasil com elevação da temperatura até a 45 graus. Contudo, segundo a meteorologista da Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), Marle Bandeira, a Paraíba não foi atingida diretamente por essa onda, porém, com a chegada da primavera o calor aumentou especialmente nas regiões do Sertão e Alto Sertão do estado com medidas acima de média histórica.

A mudança da estação elevou a temperatura na Paraíba e essas regiões registraram calor de até 38 graus. O que, de acordo com Marle Bandeira, está dentro da média para a época. “O normal é chegar a 37 graus, no Sertão e Alto Sertão, já que é a média para o período. Pode ocorrer que chegue a 38 graus em alguns dias”, informou a meteorologista ao Portal 40 Graus.

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O aumento da atividade solar (elevação nas emissões de raios-X e ultravioleta, e de partículas altamente energéticas), associada ao efeito do El Niño, está provocando essa subida da temperatura, não só em Patos, mas também em várias partes do mundo.

De acordo com a meteorologista, esta primavera está sendo caracterizada por ter “temperaturas de verão”. Como exemplos ela citou os municípios de Patos, no Sertão do estado, e Campina Grande.

“Na região do Sertão, (a temperatura máxima) é em torno de 36, 37 graus em Patos, naquela região. No dia 14 de novembro deu oficialmente 39.2 graus em Patos, bem longe dos 51ºC registrados pelo termômetro da Praça Fernando Soares no dia . Campina Grande (a temperatura máxima) é em torno de 30 graus na primavera. Dia 04 de novembro deu 33.1 graus”, citou.

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No entanto, segundo explicou Mário Leitão, não é para tanto com temperatura chegando aos 51ºC. “Porque não dá esse valor de temperatura não. Essa é uma medida muito errada. Não só em Patos, mas em todos os locais onde existem termômetros de rua, onde são feitas essas medidas. Esses tipos de termômetros são extremamente equivocados, não são corretos. Não devem nem ser considerados. Serve mais de sensacionalismo. As pessoas não entendem e fazem essas medidas incorretas e acabam acreditando”, relatou Mário

Marle Bandeira explicou que as altas temperaturas nos últimos dias em todo o estado se dão devido à atuação do fenômeno El Niño. “Normalmente quando se tem o fenômeno El Niño ocorre (sic) ausência de nuvens, uma massa de ar seca e quente, e faz com que realmente eleve essas temperaturas”, disse à reportagem.

Como funcionam os termômetros de rua?

Já no caso dos relógios digitais disponíveis nas ruas, explicou, há um sensor do tipo termistor ou termopar, e “a medida da temperatura é consequente de um sinal elétrico oriundo” dele. O especialista afirmou que a medida de temperatura feita por esses termômetros é precisa quando eles estão “adequadamente calibrados”, mas pontuou que esses relógios “medem a temperatura do próprio sensor”.

Ou seja, de acordo com Fernando Lang, se nas estações meteorológicas o objetivo é garantir que a temperatura registrada seja “o mais próximo possível da temperatura do ar atmosférico”, os relógios digitais têm seus dados “influenciados” pelo local em que estão instalados. Muitas vezes expostos à radiação solar direta, o sensor do termômetro é aquecido, e a medida apresentada “usualmente não fornece a temperatura do ar atmosférico”.

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Temperatura ‘real’ ou sensação térmica?

Assim, esses aparelhos “captam uma temperatura ‘real'”, mas que “não é uma medida fidedigna do ar atmosférico”. Ao mesmo tempo, também não é correto dizer que os termômetros de rua mostram a sensação térmica, já que as estimativas desses dados “envolvem outros fatores além da temperatura, tais como umidade relativa e velocidade do vento”.

“Em resumo, eles servem para se ter uma informação mais ou menos confiável da temperatura do ar atmosférico, frequentemente com muitos graus de diferença em relação ao valor efetivo da temperatura do ar”, destacou o professor de física Fernando Lang.

Vicente Conserva – Portal 40 Graus

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