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“Antes de iniciar a jornada do imprevisível (ou alvissareiro, para os otimistas) novo ano é preciso “curtir a ressaca” das comemorações do ano findo. Qual recém nascido de gatinhas ou dando os primeiros passos vamos, preguiçosamente, iniciando o novo ciclo.”

Sestrosos, displicentes e procrastinadores como nós, brasileiros em geral, cunhamos a máxima popularmente aceita de que o ano só começa realmente depois do carnaval.

Elaboramos e vivenciamos essa “verdade”, concedendo-lhe aura de axioma incontestável. A levamos a sério e, pior, a exercitamos religiosamente. Nosso ano só começa depois do reinado de momo.

Antes de iniciar a jornada do imprevisível (ou alvissareiro, para os otimistas) novo ano é preciso “curtir a ressaca” das comemorações do ano findo e viver o carnaval. Para lavar. Qual recém nascido de gatinhas ou dando os primeiros passos vamos, preguiçosamente, iniciando o novo ciclo.

Mesmo aqueles que racionalmente a renegam, trazem-na inconscientemente inscrita nos seus proto planejamentos anuais. Os workaholics – descontando os exageros – que, por aqui, ganham a alcunha de empreendedores ou alto executivos, também entram na onda e, em seus moments of hight station, se esbaldam, aproveitando-se da maré.

Olhando em volta com certa empáfia, eles desconsideram o trabalho dos que negociam informalmente ou, formalmente, os servem em seus resorts. Para eles, o mundo  abaixo de suas posses e arranjos  é indolente e preguiçoso. Tenho pra mim que eles consideram que aqueles outros ali, que os servem diligentemente, brincam, ao invés de se dedicarem a uma atividade séria e produtiva para o futuro do país. Pais, não esqueçamos, que só engrena depois do carnaval.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, lá pela porção chinesa do globo, uma parte da população terrestre comemora o “ano novo”. Nós, por aqui, ressacados de tanto carnaval, anunciamos que o nosso ano, enfim, começou. Coincidimos com eles ao menos nisso. Melhor, acho intencional nossa postergação só pra aderir aos vários calendários naturais da contagem de tempo humano. Somos espertos. Ou se aproveita, o o que viemos fazer aqui mesmo?

Depois do carnaval, nós prometemos criar juízo como cantaria Jair Rodrigues em “Depois do Carnaval”, canção da lavra de Beto Scala e São Beto, lançada em 1974. Conclui o samba afinal, para o gáudio geral da nação, que isso é “muito natural”.

Depois do carnaval eu vou tomar juízo,

Há muito que eu preciso me regenerar,

Largar mão da viola, procurar batente,

Preciso urgentemente, me estabilizar

Mais tarde vem você,

Depois do carnaval,

Você vai compreender,

Que é muito natural.

Este ano, nos sino-brasileiros dos trópicos, entramos, depois do carnaval, no ano chinês do dragão. Quer dizer, os genuínos do oriente entraram em novo período; nós, aproveitadores, os seguimos e iniciamos penosamente, assim sem querer começar, a nossa jornada.

Só a título de ilustração, os chineses marcam seu ano pelo império de um animal e este ano é o Ano do Dragão de Madeira. Informa-nos o santo Google que “o dragão é símbolo de nobreza, poder, honra, excelência e sucesso, tendo sua imagem, inclusive, associada aos imperadores das antigas dinastias chinesas”, nos conta o sábio. Vai assim mesmo, direto sem edição.

E continuamos nos informando que o Dragão é o único animal mitológico do zodíaco chinês. sendo considerado um símbolo de poder, força e boa sorte. As pessoas nascidas no Ano do Dragão são frequentemente vistas como confiantes, carismáticas e ambiciosas. Parabéns aos que chegam.

Ano de vitalidade, dizem, que pode influenciar todos os aspectos globais e pessoais. Isso significa que teremos um ano de mais otimismo e disposição para concretizar nossos objetivos. Por fim, o novo ano é um bom período para o autoaperfeiçoamento e para aprender algumas competências, que poderão ser úteis para uma carreira futura. Bons augúrios não faltam.

Pior é que quando o trem do novíssimo ano começou a evoluir feito o Dragão performático no desfile das Muriçocas do Miramar ou de uma pipa estilizada nos céus chineses, brecou perto do Km 40.  Explico. Quarenta dias depois da quarta-feira de cinzas, período da quaresma, o Brasil pára para as celebrações eclesiásticas da Semana Santa.

Calma, dragão, depois do intervalo, leia-se feriado pascal, nos volta com força total e firmeza de propósitos. Ah, mas nossa luneta do tempo já mira o São João que se aproxima. Teremos, delirantemente, outras pausas, facultativos e imprensados. Sem contar que esse é um ano de disputa política municipal. Nos desculpe, dragão! Se puder, nos perdoe! Nos salve, dragão! Calma, dragão, nós é assim mesmo!

Por Edson de França

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