Fiel é baleado por PM durante briga por política em igreja de Goiânia, diz família
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A Polícia Civil investiga o policial militar suspeito de atirar contra um fiel durante briga política em uma igreja de Goiânia. Segundo a família do assessor empresarial Davi Augusto de Souza, de 40 anos, que foi baleado, o motivo seria uma discussão após a igreja distribuir uma circular sobre eleições, pedindo aos fiéis para não votarem em candidatos que têm plano de governo a favor da desconstrução das famílias.

Já o cabo Vitor da Silva Lopes, que é músico na igreja e suspeito de ser autor do disparo, disse que foi atacado pela vítima e seus familiares e entrou em briga corporal com eles.

O caso aconteceu na última quarta-feira (31), dentro da Igreja Congregação Cristã no Brasil, localizada no Setor Finsocial. Um vídeo gravado por um fiel mostra o momento em que bombeiros chegam ao local para o resgate. O g1 não conseguiu contato com a igreja para um posicionamento sobre o caso. Já a Polícia Civil disse, em nota, que o caso está sendo apurado pelo 21º Distrito Policial de Goiânia.

“Diligências já foram e continuam sendo feitas para esclarecer toda a dinâmica e responsabilidades do fato”, escreveu a polícia.

A Secretaria de Segurança Pública de Goiás também ressaltou que “os fatos narrados por ambas as partes já estão sendo devidamente investigados”.

A reportagem questionou ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) se a publicação de recomendações políticas por igrejas é considerada crime eleitoral e aguarda retorno, que apontou que os questionamentos devem ser realizados ao Ministério Público Eleitoral (MPE). O g1 entrou em contato entrou em contato com o órgão às 18h50 desta sexta-feira e aguarda retorno.

Não foi informado pelas autoridades policiais qual o crime investigado pelo inquérito instaurado na delegacia. No entanto, o boletim de ocorrência foi registrado por lesão corporal culposa, quando não há intenção de machucar a pessoa agredida. No documento, estão apenas as versões dos policiais militares que atenderam a ocorrência.

“No local, segundo informações, houve uma discussão entre dois indivíduos e o cabo Vitor da Silva Lopes. Os indivíduos tentaram entrar em luta corporal com o policial, que para se desvencilhar de um deles efetuou um disparo que alvejou a perna do envolvido”, relata o documento.

A Polícia Militar ainda abriu um procedimento administrativo disciplinar para verificar a conduta do policial e afirmou que ele segue trabalhando normalmente com a arma que atingiu o fiel. Em nota, a PM ainda informou, nesta sexta-feira, que o cabo da corporação estava de folga no dia da briga, que aconteceu na última quarta-feira.

“Assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato. Informamos ainda que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de Polícia Civil para os procedimentos cabíveis”, diz a nota.

Davi Augusto de Souza está internado em Goiânia, passou por cirurgia na perna e segue estável, segundo o irmão dele. Ele relatou também que o culto seguia normalmente enquanto o irmão era atendido por bombeiros no corredor do templo.

Discussão em igreja

Além de afirmar que foi atacado pela vítima e seus familiares, o cabo Vitor da Silva Lopes ainda afirmou que, em um dado momento, ele sentiu que queriam tomar sua arma e, por isso, a sacou e pediu para se afastarem, o que não foi obedecido. Para se defender, ele alega que fez um disparo na perna da vítima para cessar as agressões, sem intenção de matá-la.

O motorista de aplicativo Daniel Augusto de Souza, de 45 anos, irmão da vítima, contesta a versão do cabo da PM. Ele estava na igreja no momento da discussão.

“Meu irmão saiu para beber água e o policial também. Do lado de fora, meu irmão, o policial e outra pessoa começaram um debate sobre quem da igreja apoia ou não o governo, que os membros não deveriam votar na esquerda, como indicaram os líderes”, comentou o irmão.

A igreja publicou uma carta com recomendações em abril deste ano, que foi lida em todas as congregações, segundo o documento.

“Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher”, diz a carta.

O desentendimento teria começado há cerca de 20 dias, quando um dos dirigentes leu essa carta com orientações sobre as eleições em outubro durante um culto. Para o irmão do homem baleado, Daniel Augusto, a briga e o tiro são, na verdade, resultado da entrada da política na igreja, que vem acontecendo há algumas semanas.

“O problema foi a entrada da política na igreja, que começou com essa guerra entre quem apoia ou não o governo. Um líder começou a fazer política durante um culto e dizer que os membros não deveriam votar em candidatos de esquerda, que chamou de ‘vermelhos'”, explicou Daniel.

No momento de indicação de votos, o motorista disse que levantou a mão e argumentou que a igreja não é lugar para fazer política. “Nenhum político doa dinheiro para igreja, para que falar de voto, então?”, questionou.

G1 GO

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