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A senhora Dedé Machado, mãe de Adriana Machado, de 43 anos, postou na sua rede social facebook um desabafo que vem sendo muito discutido. Adriana perdeu a vida após cair do 9º andar de edifício em João Pessoa no dia 24 de fevereiro de 2019. A morte vem sendo investigada pela polícia.

Dona Dedé escreveu:

*Desabafo de uma mãe*

“Quem pode imaginar o que cada um carrega dentro si? Principalmente quando se trata de sentimentos, dores e sofrimentos?

Às vezes, tomamos conhecimento de fatos que acontecem com algumas pessoas e isso nos entristece, mas nada consegue se igualar ao que ela realmente sente, porque é somente esta pessoa que vivencia e sofre tudo diretamente na pele, no coração e na alma.

Questiono-me e fico indignada sobre como nós, mulheres, nos sujeitamos inúmeros episódios de humilhação, de insultos, de xingamentos, de desprezo, de ameaças e de maus-tratos impostos por um homem, ou melhor, por um monstro, pois não podemos considerar como “homem” aquele que subjuga, que impõe, que humilha, que maltrata, que bate e que mata uma mulher. É preciso deixar claro que esse ato de matar não ocorre apenas de forma direta, mas também de forma indireta, através da violência psicológica, aquela que vai matando aos poucos, de uma forma bastante cruel, deixando marcas apenas na vítima.

Pergunto: até quando esses casos continuarão impunes? Quantas mulheres deixaremos que façam parte dessa desumana estatística?

Nós, mulheres, ao longo de toda nossa história, somos educadas para casar, para sermos donas de casa, para cuidarmos do marido e dos filhos, pois é só assim que conseguiremos a felicidade. Mesmo na modernidade do tempo, ainda existe dentro de nós esse desejo e essa imensa vontade de realizar o conto de fada, aquele que encontraremos nosso príncipe encantado e seremos FELIZES PARA SEMPRE.

da66c1be3c0b8542fdb33fe259316994Mesmo diante do avançar da idade e das experiências frustrantes do passado, continuamos colocando toda nossa esperança em um novo relacionamento, muitas vezes sem nem imaginar que essa nova escolha poderá nos levar a mais sofrimentos e decepções. Continuamos mergulhando de cabeça no novo amor que, mais adiante, pode se tornar, literalmente, nosso último mergulho em busca da tal “felicidade para sempre”.

Jamais imaginei que uma tragédia dessa poderia acontecer com alguém meu. Mas, infelizmente, fui “contemplada” e tive a vida da minha filha ceifada.

Aos poucos, revolto-me ao tomar conhecimento do quanto ela sofreu com esse novo relacionamento. Ele a levou para junto dele e distante de mim, da nossa família e dos amigos dela, somente para cometer os abusos e violências contra ela.

Ela apenas tentava ser feliz mais uma vez, mas acabou vivenciando seu pior pesadelo e os mais cruéis sofrimentos que uma mulher pode passar. E, por vergonha, não buscou a ajuda que tanto precisava, acreditando que ele precisava de cuidados, que ele iria mudar de comportamento e lhe proporcionar o amor que ela merecia.

Se ela se suicidou como apontam os que estavam no momento no local? Pode ser. É uma das hipóteses. Mas, ninguém comete uma barbárie dessa, para ganhar fama ou por ser “louca”, como a chamaram. Ela teve suas razões e seus motivos, muitos deles permaneceram guardados com ela. Se ela o fez foi porque não teve mais força, por que esgotaram-se para ela novas possibilidades, fazendo-a perder a esperança. Foi seu último ato corajoso, porém de total desespero. Que Deus a perdoe.

Ela se viu sem chances de continuar. Acreditou que não tinha mais para onde voltar e aonde viver. Acreditou que não arranjaria mais um emprego e não teria como se sustentar. Acreditou que seria humilhante ter mais um fracasso em seus relacionamentos e que seria impossível acreditar novamente no amor.

Ela foi fraca e não teve fé? Não vamos julgá-la por esse lado. Ela apenas estava cansada, com um emocional fragilizado e com uma baixa autoestima diante de tudo que estava passando.

Sinto-me culpada por não ter visto esses sinais de socorro, de não ter exercido minha autoridade de mãe, tirando-a das mãos de um monstro covarde que a violentou das mais variadas formas.

Quem a agrediu, merece ser julgado e punido. Se não for pela justiça dos homens que é falha, que seja pela justiça Divina, pois dessa ninguém escapa.

Agora, para todos os que conheciam e amavam Adriana, nos resta uma dura realidade: eu não terei mais minha filha para abraçar, meus filhos não terão mais a companhia da sua irmã para aprontar nas brincadeiras com a família durante nossos encontros, meus netos não terão mais sua mãe para os proteger e amparar, seus sobrinhos não terão mais sua tia babona para fazer seus gostos, as suas cunhadas não terão mais a amiga/irmã sempre prontas para ajudar, minha mãe não terá mais sua neta querida para beijá-la, meus irmãos não terão mais sua sobrinha para admirá-la, seus primos não terão mais seus lindos sorrisos, seus amigos não mais desfrutarão de sua companhia, de seu convívio e das trocas de segredos e confissões. Portanto, minha ferida, minha dor e minha perda é real e machuca profundamente meu peito.

Minha fé se alimenta da crença de que agora ela está protegida nos braços de Deus, longe das maldades do homem.

Reconheço que, mesmo com todos os avanços sociais, ainda somos e vivemos em uma sociedade patriarcal e machista, onde nós, mulheres, vivemos em uma relação doméstica de dominação/submissão com nossos parceiros, que acreditam ter posse sobre nós. Precisamos, urgentemente, mudar essas questões, visando o bem de todas nós.

Nesse momento de dor, venho agradecer a todos as mensagens de força e fé recebidas dos familiares e amigos. Agradeço também aqueles amigos de Adriana Machado com quem ela desabafou seus sofrimentos em seus dias de desespero e a outros que a acolheram e não permitiram que ela passasse a noite na rua, nas inúmeras vezes em que ela foi expulsa por ele de onde quer que estivessem. Vocês foram os anjos da guarda enviados por Deus para protege-la. Vocês estarão sempre no meu coração e nas minhas orações. Meu muito obrigada.

Hoje, estou de luto, mas também estou pronta para batalha.

Que nós tenhamos sempre em mente, na forma de um lema: “Nenhuma mulher merece ser vítima de violência doméstica.”
#Deus #fé #esperanca #luto #justiça

Jozivan Antero – patosonline

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