A construção faz parte do Plano Nacional de Energia até 2050 e investimentos de R$ 30 bilhões nas seis centrais
Um dos objetivos do Governo Federal será a construção de seis novas centrais nucleares no Brasil, além da usina de Angra 3, até 2050. Foi o que informou o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Reive Barros, no mês de setembro. A construção das usinas deve ser incluída no Plano Nacional de Energia (PNE), que será divulgado em dezembro. Em nota, o ministério destaca que as seis novas usinas somarão 6,6 mil megawatts (MW) de capacidade e que o governo estima investir R$ 30 bilhões na construção dos novos empreendimentos.
Uma das propostas do PNE é a de um em um sítio localizado na cidade de Itacuruba, sertão de Itaparica, no Pernambuco. A cidade faz parte da Bacia do Rio São Francisco, e, tem pouco mais de 4.500 habitantes onde residem comunidades inteiras de quilombolas e indígenas que resistem à ideia.
Solidários e preocupados com a vida dos que moram na região, com o trabalho, a cultura, o futuro, a possibilidade de um crescimento e de um desenvolvimento de acordo com as suas características, tradições, possibilidades e aspirações, vários bispos católicos de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte – estados integrantes da Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – estiveram reunidos na cidade na cidade de Floresta, no Sertão de Pernambuco, para debater sobre os impactos ambientais e para população com a possível instalação de uma usina nuclear às margens do Rio São Francisco, nos últimos dias 5 e 6 de novembro. O evento foi organizado pela Diocese de Floresta, em conjunto com a Comissão Regional Pastoral para a Ação sociotransformadora da CNBB.
De acordo com o representante da Diocese de Patos, padre Sebastião Gonçalves da Silva, o encontro foi para ouvir a população e especialistas sobre a possibilidade da instalação de uma usina na região, levando em conta os benefícios e malefícios dessa obra. A preocupação, segundo o padre, é que com a instalação da usina hidrelétrica vai ser explorado o urânio, e, se no futuro houver vazamento contaminará todo o Rio São Francisco. “Esse minério é altamente nocivo e tóxico a vida humana. O risco é muito alto. Por isso estamos nessa luta para que essa usina não seja implantada às margens do Rio São Francisco. Estamos em defesa da vida! Em defesa do território! E, em defesa das aguas do Rio São Francisco!”, enfatizou o vigário paroquial da Igreja de São Pedro.
Conforme o sacerdote a legislação do estado de Pernambuco proíbe a instalação de usinas atômicas em seu território. De acordo com o Artigo 216 da Constituição Estadual, é proibido a instalação de usinas nucleares no estado. “No entanto, está em tramitação uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC nº 09/2019) que modifica a Constituição pernambucana para permitir a instalação de usinas nucleares”, completou.
Participaram do encontro representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), tribos indígenas, instituições de ensino superior, CHESF, além de lideranças políticas, entre outros.
Na Paraíba
Outra preocupação do sacerdote, é que a com exploração do urânio no estado vizinho, seja atingido também o solo paraibano. O município de São José de Espinharas, a 24km de Patos, no Sertão da Paraíba, é uma das poucas no país a contar com uma importante jazida de urânio. Caso fosse necessário explorar o minério, seria preciso remover toda a população do município, devido aos altos índices de radioatividade durante a extração do minério, que é extremamente prejudicial à saúde. “Desde a década de 1970, foi feita uma pesquisa e encontraram essa jazida de um quilometro e meio de urânio de ótima qualidade, que está em baixo da cidade São José de Espinharas. Então se as usinas nucleares foram implantadas no Pernambuco, Patos e São José de Espinharas sofreram as consequências. São José de Espinharas porque a população precisará deixar a cidade, e, Patos, porque será rota dos caminhões, além de abrigar a população da cidade vizinha”, concluiu.
A Constituição Brasileira determina que a energia do urânio só pode ser usada no país para fins pacíficos. Além da produção de eletricidade, a energia nuclear também vem sendo utilizada amplamente em outras áreas: na medicina, no meio ambiente, na engenharia, na produção de radiofármacos, na agricultura, na conservação de alimentos, na esterilização de materiais diversos e na pesquisa. Embora nem todo o território brasileiro tenha sido prospectado, o Brasil ocupada a sétima posição no ranking mundial de reservas de urânio. As duas principais reservas são a de Caetité (BA) e a de Santa Quitéria (CE).
Lusângela Azevedo – lusangela013@gmail.com
Fotos: Assessoria de Comunicação CBHSF