Imagem do filma "A Paixão de Cristo", de 2004, do diretor Mel Gibson.
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No dia em que a cristandade comemora o supremo sacrifício de Cristo para salvar a humanidade, do ponto de vista espiritual, é triste se constatar como o homem valoriza pouco a vida.

E a grande prova está na forma como a humanidade está enfrentando a pandemia do coronavírus. Com absoluta irresponsabilidade, diante da possibilidade, cada vez mais patente, de que pode vir a morrer em decorrência dela.

A vida é a coisa mais valiosa de que dispomos. Sem ela não podemos exercer os nossos direitos de liberdade, nossos direitos sociais, nossos direitos econômicos. Sem ela não podemos proteger a nossa família. E como um grande paradoxo, é com uma pretensa defesa desses direitos que estamos arriscando a nossa vida, diante da pandemia do coronavírus.

A ciência já demonstrou que o coronavírus é de fácil contágio, se propagando no próprio ar. Um simples aperto de mão pode nos levar à morte. A experiência já mostrou que o vírus mata. A prova são os milhares que já morreram em todo o mundo, a ponto de o país da ciência mais avançada, da economia mais próspera, os Estados Unidos, serem hoje campeões diários de morte pelo coronavírus. Lá já estão morrendo cerca de duas mil pessoas por dia, só vítimas do coronavírus.

Aqui no Brasil aparentemente não morreram ainda no total a quantidade de gente que está morrendo por dia nos Estados Unidos. Mas quem pode confiar nas nossas estatísticas, um país que não tem nem os testes suficientes para saber se alguém foi contagiado ou morreu vítima do vírus?

E apesar de vermos os exemplos da China, da Inglaterra, da França, da Itália, da Espanha, dos Estados Unidos, países com a Medicina mais avançada do que a nossa, ainda há no Brasil quem diga que a pandemia mundial é uma simples gripe. E o pior. Quem assim o diz, não são os broncos dos “pés de serra”, não são os analfabetos absolutos. São pessoas que, pretensamente, têm educação, têm formação profissional, têm cargos importantes.

A ciência já provou que só o isolamento pode conter o contágio avassalador do coronavírus. A prática já demonstrou que o nosso sistema de saúde não tem capacidade para tratar dos milhares de doentes que vão buscar tratamento, já em condições precárias de vida. Nem a visão de que milhões podem morrer por falta de tratamento tem convencido nossos dirigentes e grande parte da nossa população da necessitar de ficar em casa. A resistência ao isolamento é tão grande que em São Paulo o governador está ameaçando prender quem estiver na rua sem justificativa.

Por trás desta resistência vem um amor insano pela liberdade de ir e vir. As pessoas não querem ficar presas em casa. Por trás da resistência está o apego justificado, mas neste caso mortal, ao emprego que lhe garante a subsistência. Por trás da resistência está a ganância dos empresários que estão perdendo dinheiro com o fechamento de suas empresas e querem o povo na rua para lhes dar lucro.

E é porque a parte competente e, minimamente responsável do governo e da representação política vem adotando medidas para garantir empregos, para subsidiar empresas, para garantir a subsistência dos que não têm de que viver. As medidas econômicas já foram tomadas e já estão começando a funcionar.

Apesar de tudo isso, ainda se vê quem pregue a reabertura das empresas, mesmo sabendo que uma abertura indiscriminada de empresas vai lotar as ruas de gente e quanto mais gente nas ruas, mais pessoas haverá contagiadas pelo coronavírus e mais pacientes procurando hospitais que daqui a pouco não mais encontrarão.

É justo lutar pelo emprego, é justo buscar o lucro. Mas um emprego pode apenas virar pensão para a viúva e a empresa lucrativa virar herança para ser distribuída após uma briga dos herdeiros e dos herdeiros dos herdeiros que também morreram.

E que não se esqueça um detalhe, não têm morrido apenas idosos ou pessoas com doenças graves. Até crianças têm morrido. E pessoas antes aparentemente sadias.

O mais importante é preservar a vida. E só quem vai preservar a vida é a prevenção. E a melhor prevenção é ficar em casa. E além de ficar em casa, obedecer a todas as medidas de prevenção recomendadas pelas autoridades da saúde.

Por isso devemos cobrar do governo medidas para garantir empregos e um mínimo de renda que garanta a subsistência dos que perderam a sua fonte de renda, enquanto enfrentamos a pandemia. Porque ninguém pode esquecer deste detalhe. Só quem vai usufruir do emprego, só quem vai usufruir do lucro, só quem vai comer depois que o vírus for vencido é quem estiver vivo.

Só quem vai comer a Páscoa do ano que vem é que tiver conseguido escapar do terrível coronavírus que nos assola este ano.

E aqui um lembrete final. Tem gente que está defendendo um relaxamento do isolamento imposto pelos governos estaduais, alegando que temos poucos casos de infectados pelo coronavírus e precisamos preservar a economia. Mas que não se esqueçam de que os poucos que forem afetados pelo coronavírus, no interior da Paraíba, morrerão sem assistência, porque o Governo só está preocupado em montar esquema de atendimento em João Pessoa e Campina Grande.

Alguém já pensou se haverá ambulâncias equipadas e equipes médicas preparadas para levar os pacientes graves de Patos, Sousa, Cajazeiras, Piancó, Itaporanga, Princesa Isabel, Monteiro, Taperoá e cidades vizinhas para João Pessoa e Campina Grande? Ou vão deixar morrer aos montes antes de chegarem aos hospitais e se ao chegarem não encontrarem mais vagas?

Luiz Gonzaga Lima de Morais

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